silvio meira 2023

8 desafios (e oportunidades) para 2023, segundo Silvio Meira

6 minutos de leitura

O mundo será cada vez mais figital, segundo o cientista chefe da TDS Company, que divulgou uma série de anotações sobre as tendências para 2023



Por Redação em 08/02/2023

No final de 2022, Silvio Meira, cientista chefe da TDS Company, divulgou em sua página uma série de anotações, depois transformadas em um e-book, com considerações sobre as transformações globais em 2023. 

No documento intitulado 23 anotações para 2023, além de trazer temas como a continuidade dos conflitos na Ucrânia, instabilidades econômicas mundiais e a corrida dos países pela descarbonização, Meira elencou inovações em curso e avanços tecnológicos esperados para diversos segmentos, como varejo e indústria. 

A seguir, listamos alguns dos principais desafios (e oportunidades) que o mercado pode esperar neste ano (e para os próximos), na visão do especialista. 

1. Plataformas e ecossistemas cada vez mais figitais

silvio meira 2023

Segundo Meira, em ecossistemas habilitados por plataformas, a estratégia é criada e se desenrola em redes escritas em código, o tempo todo, por muitos agentes, e todos ao mesmo tempo. “E as plataformas que interessam são figitais, em vez de simplesmente digitais: incluímos as dimensões física e social das infraestruturas e serviços e, aí, as possibilidades e combinações aumentam significativamente, porque não se trata de usar apenas as interfaces digitais de programação das plataformas, mas de, através delas, acionar agentes nas três dimensões do espaço figital”, diz ele. 

Meira destaca também que a transformação dos negócios começa pela transformação das competências e habilidades para [re]escrever o negócio em código. “Uma transformação baseada em plataformas não é simplesmente a introdução de novas tecnologias numa empresa, é uma mudança radical na arquitetura, métodos e processo de criar valor na casa”, pontua. 

2. Redes, escala e sustentabilidade

Plataformas – e suas infraestruturas e serviços – são a base do espaço figital, na opinião de Meira. “Especialmente do ponto de vista de novos negócios, desde que a nuvem se tornou prática, em escala, as plataformas têm habilitado modelos de negócios quase sempre assimétricos”, disse. 

Segundo ele, esse modelo assimétrico é aquele que, de alguma forma, migra valor entre mercados. “Um dos exemplos clássicos é o jornalismo, no Brasil. Os anúncios – boa parte do valor que era capturado no jornalismo analógico – foram migrados, por plataformas digitais, para as [ou “a”] máquinas de busca e para as redes sociais. E os jornais ficaram com o problema de criar e entregar o valor. Daí a mega crise estrutural no ecossistema de jornalismo informativo do país, em especial nos mercados regionais e locais”, explicou. 

Meira ressalta que as plataformas são novas fundações para criação, entrega e captura de valor, formando mercados, mediando a interação entre clientes e coordenando demandas.  

3. Mundo figital

silvio meira 2023

“O ano de 2023 (e os seguintes) vão demandar estratégias ao mesmo tempo mais sofisticadas e mais ágeis, de todos os negócios, para competir em um espaço que era mais ou menos difuso até a pandemia, mas que se tornou cristalino nos últimos três anos. Toda competição, em todos os mercados, em todo mundo, começou a se dar no espaço figital, de dimensões física, social e digital”, observou o especialista.

Na análise de Meira, para competir em 2023 e depois no mundo figital, ou seu negócio é uma plataforma que habilita um ecossistema ou seu negócio faz parte de um ecossistema habilitado por uma plataforma. “Os outros negócios? Não existem, ou ainda existem, mas não existirão mais, em pouco tempo. Simples assim. Se eu fosse você, começaria 2023 com um problema bem definido: como [re]desenhar a estratégia do meu negócio para competir no espaço figital?”, alertou. 

4. 5G e IoT

silvio meira 2023

O 5G oferece ganhos significativos em velocidade, latência e capacidade de conexão simultânea, abrindo caminho para novas aplicações em áreas como realidade aumentada e virtual, a internet das coisas (IoT) e sistemas de monitoramento em tempo real em larga escala, indústria 4.0, cidades inteligentes e mobilidade autônoma.

Para Meira, o principal impacto do 5G será nas “coisas” conectadas: veículos autônomos e gêmeos digitais, por exemplo, que trarão um enorme avanço para diversos segmentos, como é o caso da indústria. 

Na visão do especialista, a indústria 4.0 é muito mais do que fábricas passando por um processo de automação inteligente integrada por redes em tempo real, usando sensores e atuadores em larga escala, orquestrando processos, sistemas, robôs e [re]educando pessoas para o exercício de atividades mais sofisticadas do que aquelas associadas às ondas de inovação pregressas, “A indústria 4.0 trata da fábrica sair da fábrica”, disse. “Indústria 4.0 é – ou já deveria estar sendo- a transformação de produtos em serviços, da mutação de clientes em usuários, de mercados em rede, que são ecossistemas habilitados por plataformas figitais”. 

Meira também elenca as mudanças do varejo, que deve ser cada vez mais figital também, com a integração de diversos canais de interação com os clientes (omnicanalidade), armazenamento de informações em nuvem, integração de armazéns e seus estoques, e sistemas de distribuição logística, entre outros. Nesse sentido, a análise de dados e a inteligência artificial também terão papel bastante relevante, ao ajudar as empresas a entenderem melhor as necessidades de seus clientes e conseguirem se adequar às suas demandas. 

5. Inteligência artificial e grandes algoritmos

Meira inicia o capítulo com um questionamento: “quais você acha que serão os maiores impactos de IA nas capacidades de negócios, comportamento humano, vida social e na política?”.

A resposta, segundo ele, é que, embora seja difícil prever os impactos da IA, a tecnologia tem o potencial de aprimorar as habilidades das organizações para analisar dados e tomar decisões, possibilitando maior eficiência e eficácia. Além disso, também poderia automatizar muitas tarefas de rotina, liberando os funcionários para se concentrarem em trabalhos mais complexos e criativos. Em termos de comportamento humano, IA pode mudar a maneira como as pessoas interagem com tecnologia e umas com as outras. 

6. Decisões baseadas em dados

“Negócios têm oportunidades de aprender com dados e devem fazer exatamente isso antes de começar a tomar decisões baseadas em dados”, alerta Silvio Meira. 

Segundo ele, nos últimos anos, com o avanço da internet e da mobilidade, dados não faltam; porém, ainda faltam estratégias adequadas para tratamento das informações. “Dados não se tornam análises e decisões com tecnologia [somente], mas com estratégia [primeiro]. Toda estratégia de informação de um negócio deve cuidar da preservação, consistência, privacidade e segurança de dados”, ressalta. Mas, na visão de Meira, embora os dados sejam essenciais para nortear decisões, o olhar humano permanece sendo fundamental. “Só o que não for criativo [ou seja, quase tudo] será decidido por algoritmos”, resume. 

Quanto à questão da segurança das informações – e das transações em ambientes virtuais –, Meira acredita que a blockchain terá papel fundamental. Com sistemas específicos de validação de informações em rede, a tecnologia possibilita a proteção de todos os registros e, no caso de operações financeiras, viabiliza o acompanhamento de todas as etapas (ou o rastreio dos valores), o que contribui para a prevenção de fraudes, por exemplo. 

Além de garantir a segurança em operações com criptomoedas e de CBDCs (moedas digitais emitidas por bancos centrais), a blockchain permitirá diversas inovações, como as chamadas identidades soberanas (controladas pelos respectivos titulares e com diversos dados, como documentos oficiais e informações médicas, entre outras). 

7. Metaversos

Nesse cenário, a criação de metaversos também será habilitada pela blockchain, que garantirá segurança. Para quem acha que o metaverso será restrito a games ou redes sociais, Meira alerta que a novidade pode trazer diversas oportunidades – da melhoria das experiências no setor de educação à interação mais próxima do varejo com seus consumidores.

Cirurgias remotas, por exemplo, podem fazer uso da tecnologia, permitindo não apenas que profissionais da área médica contribuam para os procedimentos, à distância, mas também que alunos de medicina tenham a experiência de estar em uma sala de cirurgia e acompanhar todo o processo, independentemente de onde estejam. E isso amplia as fronteiras de aprendizado, além de aumentar a chance de sucesso nos procedimentos executados, uma vez que a equipe presente em ambiente real poderá ser auxiliada de forma remota. 

8. Trabalho, emprego e… escritório?

Diante de tantas transformações, Meira questiona as mudanças pelas quais a forma de trabalhar passou. Acelerado pela pandemia, o home office se tornou comum e, hoje, muitas pessoas repensam seus estilos de vida em função disso. “Para muitos, a presença física será reservada para atividades preciosas. Ao invés de ir para o local de trabalho e ficar sentado num plano aberto e tendo que usar fones antirruído para poder se concentrar e resolver os problemas do dia a dia, muitos preferem ficar em casa”, destaca. 

O avanço da tecnologia tem papel extremamente relevante neste sentido. Afinal, como os profissionais poderiam ter acesso às informações corporativas sem o ambiente de nuvem? No entanto, o novo modelo ainda demanda muitas discussões sobre produtividade dos colaboradores remotos e a necessidade cada vez maior de adoção de estratégias de segurança de dados. 

Para Silvio Meira, diante dos novos cenários, a partir de 2023 a inovação terá papel cada vez mais relevante para negócios de qualquer área ou segmento. “O futuro vem do futuro”, diz ele na conclusão de suas anotações. “É preciso criar cenários, personas, hipóteses e fazer experimentos, que demandam energia, foco e tempo. Tempo que ninguém tem para os futuros, porque o presente toma todo o tempo. Estamos sempre atrasados, como o coelho branco de Alice”, finaliza.


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