anatel Foto: Anatel/Divulgação

Anatel propõe Plano Nacional de Data Centers

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Além disso, agência reguladora destaca a necessidade de integradores para impulsionar o setor de telecomunicações



Por Lara Ferreira em 08/11/2024

Em um movimento que promete redefinir o panorama das telecomunicações no Brasil, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) apresentou uma proposta inovadora, de criar um Plano Nacional de Data Centers. Paralelamente, a agência enfatizou a necessidade de um integrador para potencializar o mercado B2B no contexto da tecnologia 5G.

O assunto foi debatido durante um dos painéis do Telebrasil, onde importantes executivos do setor compartilharam suas visões sobre o futuro das telecomunicações no país. Na mesma ocasião, Maria Teresa Azevedo Lima, diretora-executiva de Governo da Embratel, anunciou a previsão de investimentos pela Claro em expansão, nos próximos 5 anos, da ordem de R$ 40 bilhões, bem como o interesse em fazer parte da figura do “integrador”. 

Plano Nacional de Data Centers
Maria Teresa Azevedo Lima (Foto: Reprodução/ Conexis Brasil Digital via Flickr)

Desafios e oportunidades

Além de Maria Teresa, o painel contou com a participação de Vinicius Caram, superintendente de Outorgas da Anatel e Wilson Cardoso, conselheiro especial do SENAI/SP. Cada um deles trouxe perspectivas únicas sobre os desafios e oportunidades que o setor enfrenta.

Segundo o superintendente de Outorgas da Anatel, é preciso pensar na criação de um Plano Nacional de Data Centers, já que eles serão mandatórios para a IA. “Por que temos apenas uma concentração no Sudeste?”, questionou Caram, destacando a necessidade de descentralizar a infraestrutura de data centers no país. Esta iniciativa visa não apenas promover um desenvolvimento regional mais equilibrado, mas, também, garantir a soberania dos dados brasileiros.

Plano Nacional de Data Centers
Vinicius Caram (Foto: Reprodução/ Conexis Brasil Digital via Flickr)

Caram também abordou uma lacuna crítica no setor: “No B2B, falta um integrador que una as soluções de acesso com soluções de modelos de negócios”. Esta observação ressalta a necessidade de um ator que possa efetivamente conectar as capacidades tecnológicas oferecidas pelas operadoras com as necessidades específicas do setor empresarial. A fala que foi bem-recebida por Maria Teresa. “Podemos ser este integrador”, observou ela. 

O superintendente da Anatel destacou ainda o potencial do mercado brasileiro de telecomunicações, o quinto maior do mundo. No entanto, ele apontou um paradoxo preocupante: apesar do tamanho e dos investimentos robustos, o Brasil ainda produz muito pouco da tecnologia que consome.

Maria Teresa trouxe a perspectiva de uma das maiores operadoras do país. Ela enfatizou o papel da Embratel como habilitadora da transformação digital para empresas e organizações. “Compreendemos que as redes são fundamentais para o funcionamento de qualquer organização, mas elas estão se tornando cada vez mais complexas”, afirmou.

A executiva da Embratel destacou a expansão do portfólio da empresa para além da conectividade básica, incluindo serviços de nuvem, segurança e serviços profissionais. Lima mencionou que a Embratel conta com quase 5 mil profissionais trabalhando no desenvolvimento, implementação e integração de sistemas para clientes. Esta abordagem reflete a crescente convergência entre telecomunicações e tecnologia da informação.

A proposta do Plano Nacional de Data Centers surge em um momento importante para o setor de telecomunicações brasileiro. Com o 5G já presente em quase mil cidades e aproximadamente 35 milhões de usuários, o potencial para transformação digital é imenso. No entanto, como apontado pelos especialistas, ainda existem desafios significativos a serem superados.

A descentralização da infraestrutura de data centers, proposta por Caram, não apenas promoveria um desenvolvimento mais equilibrado entre as regiões do país, mas também criaria as condições necessárias para o surgimento de novos polos de inovação tecnológica. Isso poderia catalisar o desenvolvimento de soluções locais para desafios específicos de cada região, fomentando um ecossistema de startups e empresas de tecnologia mais diversificado e resiliente.

Plano Nacional de Data Centers pode contribuir com a soberania dos dados

A questão da soberania dos dados, mencionada por Caram, também merece atenção especial. Com a crescente importância dos dados na economia digital, garantir que informações sensíveis sejam armazenadas e processadas em território nacional torna-se uma questão de segurança. O Plano Nacional de Data Centers poderia estabelecer diretrizes claras sobre o tratamento de dados críticos, alinhando-se com as melhores práticas internacionais de proteção de dados e privacidade.

O papel do integrador B2B, destacado tanto por Caram quanto por Maria Teresa, é outro aspecto crucial para o sucesso do 5G no Brasil. Este ator seria responsável por preencher a lacuna entre as capacidades técnicas oferecidas pelas operadoras e as necessidades específicas dos diversos setores da economia. Um integrador eficaz poderia, por exemplo, desenvolver soluções customizadas para a indústria 4.0, agricultura de precisão, telemedicina e cidades inteligentes, alavancando as capacidades únicas do 5G, como baixa latência e alta densidade de conexões.

Expansão do setor e aplicação nos diversos segmentos econômicos

A abordagem da  Embratel, compartilhada por Maria Teresa, de expandir seus serviços para além da conectividade básica, reflete uma tendência global no setor de telecomunicações. As operadoras estão cada vez mais se posicionando como provedoras de soluções tecnológicas completas, não apenas de infraestrutura de comunicação. Esta evolução é determinante para capturar o valor adicional gerado pelas novas tecnologias e aplicações habilitadas pelo 5G.

O conselheiro Especial do SENAI/SP, Wilson Cardoso, destacou de forma pragmática a aplicação prática da tecnologia em diversos setores da economia, com exemplos concretos de como a conectividade e a inteligência artificial estão sendo aplicadas em indústrias tradicionais, como padarias e usinas de etanol e açúcar.

Wilson Cardoso (Foto: Reprodução/ Conexis Brasil Digital via Flickr)

Para Cardoso, é preciso olhar para soluções personalizadas para diferentes setores. “Como podemos implementar a transformação digital em uma indústria de açúcar e etanol se não temos matéria-prima continuamente disponível para intervenção?”, questionou, destacando os desafios específicos de cada mercado.

O conselheiro do SENAI também abordou a questão da eficiência e sustentabilidade. Ele mencionou um projeto de rede de supervisão para prevenir incêndios no estado de São Paulo, demonstrando como a tecnologia pode ser aplicada para resolver problemas críticos e gerar economia significativa.

As observações de Cardoso sobre a aplicação prática da tecnologia em setores tradicionais da economia brasileira destacam a necessidade de soluções personalizadas e a importância de compreender profundamente os desafios específicos de cada segmento. Esta abordagem alinha-se com a visão de um integrador B2B eficaz, capaz de traduzir as capacidades tecnológicas em soluções práticas e valiosas para as empresas.

Na visão dos especialistas, a implementação bem-sucedida dessas iniciativas poderia posicionar o Brasil como um líder regional em infraestrutura digital e aplicações avançadas de 5G. No entanto, isso requer uma abordagem coordenada entre governo, agências reguladoras, operadoras de telecomunicações e o setor privado.


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