Um dos grandes benefícios da IA é, justamente, a sua capacidade de analisar grandes quantidades de dados em tempo real, o que permite maior agilidade na identificação de eventuais comportamentos maliciosos ou suspeitos. No entanto, sem que os usuários tenham conhecimento das possibilidades da IA, a adoção de estratégias de cibersegurança se torna mais frágil.
O tema foi debatido durante o Security Day Embratel 2024, realizado em 22 de outubro, em São Paulo. Para os participantes, além da importância de reforçar os mecanismos de controle e segurança, o letramento dos usuários é fundamental.
Deep Tech exige capacitação
Na avaliação de Diego Aristides, CEO e Co-Founder da The Collab Foundation, uma iniciativa que visa escalar diversas tecnologias em diferentes segmentos (cidades inteligentes, agro, educação, saúde, entre outros), é fundamental preparar a cultura organizacional para lidar com deep tech (tecnologia ‘profunda’). Segundo ele, a inteligência artificial é uma das principais tecnologias dentro do conceito de deep tech, que se caracteriza por alta escalabilidade, facilitando o acesso a serviços, como o de saúde em áreas remotas, utilizando tecnologia para superar barreiras de localização, e inovação disruptiva, capaz de transformar modelos de negócios e processos operacionais.
“Isso envolve capacitar colaboradores por meio de letramento tecnológico, especialmente em inteligência artificial, para que possam utilizar a tecnologia de forma segura e consciente”, ponderou, durante o painel “IA: ameaça ou ferramenta para a segurança de dados?”.
José Luiz Marques, gerente de Arquitetura e Soluções de Cibersegurança da Embratel e moderador do painel, acrescentou que é essencial que as pessoas entendam como usar a tecnologia. “A IA vem para ajudar, melhorar a produtividade, trazer ganhos de escala. Mas também demanda uma série de cuidados”, observou, reforçando a necessidade de aprendizado.
“Quando falamos em IA, muitas pessoas têm uma visão superficial, sem a dimensão da profundidade da tecnologia. Ela traz muitas oportunidades, mas os riscos existem, de fato, e por isso é preciso cautela”, destacou.
Aristides citou alguns casos de uso de IA, como a possibilidade de levar serviços de saúde a áreas mais remotas, facilitando a vida das pessoas e melhorando diagnósticos. Ainda na área de saúde, ele exemplificou o poder disruptivo da IA com o caso de uma cirurgia pulmonar realizada por IA e realidade aumentada. “A inteligência artificial reduziu o tempo de cirurgia em 4 horas, o que trouxe benefícios ao paciente, que ficou menos tempo sob anestesia e procedimentos operatórios, mas também à instituição de saúde, que teve a sala de cirurgia menos tempo ocupada, além da alta médica mais rápida”, ilustrou.
Segundo ele, esta é apenas uma das inúmeras possibilidades da IA, que não deve ser desconsiderada no business das empresas, qualquer que seja a área de atuação. “Porém, ela precisa ser usada com responsabilidade, precisamos educar os usuários e fazer esse letramento”, reforçou, mencionando que “somos a primeira geração a viver esta transição”.
Planejamento estratégico
Aristides ressaltou a importância de um planejamento estratégico adequado para a integração de deep tech. Ele mencionou que as empresas devem preparar suas operações e estruturas de segurança antes de implementar essas tecnologias, para garantir a eficiência.
“A integração eficaz de deep tech requer uma abordagem estratégica tanto do ponto de vista dos negócios quanto da segurança. Por esta razão, precisamos fazer esse trabalho dentro de casa, engajando nossos colaboradores para poder usar as ferramentas de forma correta”, ressaltou.
Aristides mencionou que isso é feito por meio de treinamento, hackathons, grupos internos para estudar formas de usar IA, pensamento em ecossistema e criação de uma estrutura capaz de gerar escalabilidade.
IA veio para ajudar
Para os participantes do painel, existe de fato um consenso de que a IA veio para somar, mas o cuidado é cada vez mais necessário. “A transformação social, por meio da IA, precisa ser feita com propósito e responsabilidade”, disse Bruno Pina, CEO da Synapse. “A IA já existe e vem sendo estudada há cerca de 30 anos, mas somente nos dois últimos anos passou a fazer parte do conhecimento geral, ou seja, passou a ser discutida por pessoas fora do meio tecnológico. Porém, ainda existe um desajuste nisso, pessoas comuns falam e se interessam sobre a IA, mas muitas vezes a definição de como adotar as estratégias para seu uso corporativo está nas mãos somente dos CIOs”, alertou.
Em sua avaliação, a IA não é só uma “onda”, e todos os colaboradores precisam ficar atentos às potencialidades da ferramenta, mas também aos riscos. “Por essa razão, além de estudar os caminhos e desafios da IA, temos que melhorar as skills humanas. Qual a mentalidade de um novo líder diante da IA? É preciso melhorar as capacidades, para que a inteligência artificial seja uma solução e não um risco”, pontuou.
Ele destacou que um dos aspectos mais relevantes da deep tech é sua capacidade de reimaginar completamente os modelos de negócios e operações. Ao introduzir novas abordagens, ela rompe paradigmas estabelecidos e cria oportunidades para novas formas de entrega de serviços e produtos. “Além de ser disruptiva, a deep tech é altamente escalável, capaz de se expandir rapidamente, adaptando-se às necessidades dos clientes e às mudanças de mercado”, disse.
Porém, em sua avaliação, as estratégias de implementação de deep tech devem considerar quatro pilares: pessoas, plataformas, planeta e propósito. “Isso significa que a tecnologia precisa não apenas ser eficiente e lucrativa, mas também ética e sustentável, impactando positivamente os colaboradores, os clientes e o meio ambiente”, reforçou Pina.
Agentes autônomos: risco ou benefício?
Outro destaque do painel foi a discussão sobre a possibilidade de a inteligência artificial evoluir para criar outras IAs, formando agentes autônomos. Esses agentes seriam projetados para realizar tarefas específicas de maneira independente, como avaliação de contratos, gerando novos dados e interagindo de forma autônoma com outros sistemas.
O impacto dessa perspectiva foi discutido, destacando que a criação de IA por outras IAs pode trazer benefícios, como automação mais eficiente, mas também desafios, especialmente na questão de privacidade e segurança de dados. Além disso, foi ressaltado que essa evolução pode tornar a identificação de fontes de dados mais complexa, já que a interação com agentes autônomos pode dificultar a distinção entre humanos. “Essa complexidade torna mais difícil conhecer e entender os clientes, visto que a interação pode ocorrer diretamente com um agente autônomo em vez de uma pessoa”, ilustrou Paulo Martins, diretor de Segurança da Informação da Embratel.