Em um time de futebol, o ponta de lança atuava para vencer a defesa adversária (dificuldades) e facilitar o caminho para o gol. Em analogia, é assim que Rodrigo Modesto Duclos classifica o hub de inovação da Claro e da Embratel, beOn. “Não somos um espaço, um coworking, ou algo do tipo. Somos um time, um conceito. E esse conceito, como diz o nome, é um convite para que os diversos atores da inovação no Brasil e no mundo (“be on”) ou seja, venham, estejam, participem com Claro e Embratel na construção do futuro além da conectividade (beyond connectivity)”, explica.
Nesta entrevista, Duclos detalha essa atuação e comenta como a inovação aberta ajuda e é ajudada pela estrutura corporativa da Claro e Embratel. Ele também discorre sobre o universo da inovação e o seu impacto na sociedade, com destaque para a necessidade de avanços na democratização de dados. Acompanhe.
Você pode conceituar o sentido de um hub de inovação, que é como o beON se classifica?
Dizer que somos um hub de inovação pode significar muitas coisas. Por isso digo que somos um ponta de lança, no sentido de aproximar a Claro e a Embratel das oportunidades de inovação e de proporcionar ao universo de inovadores proximidade com as experiências de um grupo como o nosso, com grande capacidade de investimento e estrutura corporativa. Somos, portanto, um time que atua nesse propósito do conceito de ir além da conectividade. Fazemos um convite a startups, empreendedores, inovadores internos e externos, academia, pesquisadores e aos nossos clientes, pessoas físicas e jurídicas, no sentido do nome beOn. Ou seja: estejam, participem do ecossistema que toca Claro e Embratel para ir beyond e criar um futuro excitante e melhor.
Isto vale dentro do grupo também?
Sim, até para os serviços tradicionais, que estão sólidos na maioria dos processos, mas que sempre buscam maior eficiência e eficácia. Mas o beOn tem a missão de que, para ir além da conectividade, é preciso gerar ou estar próximo de novos negócios, de empreendimentos inovadores. Temos muitas parcerias para promover serviços digitais da Embratel, para o mercado B2B, por exemplo. E temos claro que não somos, e não queremos ser, um monopólio de inovação no grupo. A nossa missão é ser um catalisador, um aproximador, mas também um protagonista nesse processo.
A proposta abrange todos os tipos de companhias?
Sim. Não fazemos, necessariamente, uma distinção de tamanho. Pode ser uma empresa pequena, um unicórnio, um hub de inovação de um grande cliente… enfim, o ponto é entender como podemos ajudar a co-construir propriedade intelectual usando a nossa capacidade de desenvolvimento para criar e gerir produtos digitais. E temos alguns diferenciais para isso, começando pela base de 70 milhões de clientes pessoas física e jurídica que tem um potencial enorme para explorarmos na avaliação de oportunidades e entendimento dos problemas para soluções digitais.
Você falou em alguns diferenciais…
Ainda na linha de clientes, temos a nossa rede business to business (B2B), da Embratel, composta por grandes e pequenas companhias também, com as quais colaboramos em muitos aspectos. Isso resolve a dor de muitas startups, que não têm clientes para validar projetos, para aplicar MVPs, por exemplo. Outro diferencial é a nossa grande e consistente capacidade de investimento. A Claro, por exemplo, tem investimentos constantes em ampliação e modernização de redes, sistemas de informação, nuvens e recursos no geral. Um terceiro ponto, que está ligado ao segundo, é a extensa parceria do grupo com outras empresas de tecnologia. Costumamos ter muito acesso a tecnologias novas e a um grande suporte desses parceiros, o que pode fazer toda a diferença no processo de aceleração de uma inovação.
Para as startups, cujo foco é a busca pela solução de um problema, essa base corporativa da Claro e da Embratel oferece muitas oportunidades de entender de perto quais são esses problemas, nas mais diversas indústrias e setores da economia.
No Web Summit Rio, grande parte das discussões de tecnologia giraram em torno da inteligência artificial, com pontuações sobre cibersegurança. Você entende que caberiam também debates sobre infraestrutura de tecnologia e conectividade e outras questões habilitadoras da inovação?
Eu não estranho a ausência da infraestrutura no debate do Web Summit. Na verdade, isso é bem compreensível, pois a infraestrutura é enabler, no sentido de que é o básico para que as demais coisas aconteçam. A infraestrutura não tem a função de resolver problemas. A solução vem do profundo conhecimento sobre o cliente e sobre os seus problemas. O que vale, portanto, é a obsessão pela necessidade do cliente, algo que a AWS trouxe como premissa mundialmente.
Agora, nessa linha, é evidente que há espaço para inovações na infraestrutura. Afinal, não podemos desconsiderar que existem oportunidades para novos modelos de negócio onde a infraestrutura pode fazer parte da solução de modo inovador.
Como a inteligência artificial pode ser usada na missão de entender os problemas dos clientes e criar soluções para resolvê-los?
Muitas pessoas falaram disso no WebSummit Rio, e está quase consensual que a IA, ou, mais ainda, a inteligência artificial generativa (GenAI), é uma ferramenta e, como tal, abre oportunidades. Mas, lidar com essas ferramentas sem entender profundamente sua dinâmica, pode gerar consequências não desejadas ou previstas. Quem insiste em soluções em busca de problemas, costuma criar negócios sem diferencial e de pouco impacto. As ferramentas, que podem sim ser um apoio para o incremento de produtividade, devem ser associadas ao poder criativo. A criatividade é algo importante, porque é com ela que se criam hipóteses. E as hipóteses são essenciais para gerar inovação. Enfim, é necessária essa dualidade entre intuição/criatividade e gestão/análise de dados.
Como a ciência de dados e a criatividade trabalham juntas?
Opinião não necessariamente é baseada em dados, mas serve para levantar hipóteses que podem ser testadas. Acredito que as ferramentas de IA vão ajudar a criar funções de pessoas que não precisam ser tão especializadas em determinadas profissões. Também sempre serão necessários os treinadores da IA, o que abre outro leque de possibilidades. Por outro lado, o efeito colateral – que também é um dos temas-chave aqui do Web Summit Rio – é como criar e lidar com tantos dados e sermos criativos e exploradores sem abrir as portas da cibersegurança? É esse equilíbrio que precisamos encontrar.
Você pode compartilhar casos do beOn?
Temos boas experiências que queremos replicar e escalar. Compramos, por exemplo, uma startup de música, o iMusica, que originou o Claro Música, mas que é algo muito mais amplo do que um player, como o Spotify. É também uma empresa que gerencia e revende conteúdo. Essa startup está 100% incorporada ao grupo, apesar de continuar operando separadamente, com objetivos de negócio e time específicos. Também mantemos, na medida do possível, a cultura da empresa.
Outro exemplo, de Recife, é a uStore, startup focada em soluções para gestão de múltiplas nuvens (multicloud), e na qual adquirimos uma participação há alguns anos. Em 2023, depois do sucesso obtido com a incorporação das ofertas no portfólio da Embratel para grandes empresas, compramos a totalidade dela. Nesse caso, trouxemos um dos fundadores para ser o head do beOn, e isso é muito legal porque ele agrega a visão de um criador de startup, de quem conhece as dores dessa jornada.