Como dois estados e um município do Brasil iniciaram suas jornadas de inovação

Como dois estados e um município do Brasil iniciaram suas jornadas de inovação?

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Em encontro no Futurecom Digital Week, gestores públicos compartilharam como tentam fornecer serviços digitais de qualidade para os seus cidadãos.



Por Redação em 28/10/2020

Em encontro no Futurecom Digital Week, gestores públicos compartilharam como tentam fornecer serviços digitais de qualidade para os seus cidadãos.

A jornada de inovação de governos brasileiros é um grande desafio, porque entidades do setor levam burocracias do ambiente físico para o digital. Além disso, não olhar o cidadão como um consumidor de serviços públicos pode afastar o Brasil ainda mais da digitalização.

Essa opinião foi compartilhada por gestores públicos no meetup “Governo: Importância da Digitalização das Instituições Públicas alinhada às Necessidades dos Cidadãos”, realizada no Futurecom Digital Week nesta quarta (28).

No encontro, os participantes discutiram quais iniciativas municípios e estados estão tomando para melhorar os serviços digitais e a qualidade de vida da população, a importância de uma infraestrutura e conectividade para acompanhar os cidadãos e as expectativas para o futuro.

“O futuro digital vai exigir velocidade e a pandemia do novo coronavírus mostrou isso”, comentou Romero Wanderley Guimarães, diretor de TI e transformação digital da Agência Estadual de Tecnologia da Informação (ATI) do estado de Pernambuco.

Com a população migrando para os serviços digitais, as entidades públicas precisaram criar canais eficazes no atendimento, usabilidade e velocidade para garantir acesso a todos. O problema é que portais, plataformas, sistemas e aplicativos nem sempre são desenvolvidos com foco no cidadão.

Mas deveriam.

Ou seja, é preciso enxergar cidadão e consumidor como uma única pessoa, além de redesenhar processos com o objetivo de digitaliza-los para, assim, entregar a melhor experiência possível.

Confira como três governos querem oferecer melhor qualidade de vida a população a partir da transformação digital.

1. Pernambuco quer automatizar serviços

Fornecer atendimento on-line pode gerar economia de 97% de recursos públicos por transação. Segundo o relatório Estratégia Brasileira para a Transformação Digital de 2018, enquanto o atendimento presencial tem custo médio de R$ 43,68, esse valor cai para R$ 1,20 no digital.

Na jornada de inovação de Pernambuco, o estado buscou montar uma arquitetura de referência para outros governos estaduais ofertarem prestação de serviço. Para isso, reuniu com um grupo de discussão formado por 24 estados e o Distrito Federal.

Só Pernambuco oferece 950 serviços para a população. “Como automatizar ou transformar digitalmente todos eles?”, questionou Romero Guimarães, da ATI. Para o diretor, não é somente adotar ferramentas e tecnologias. “É preciso oferecer velocidade e maior interação”, disse.

Então, a solução foi pensar numa plataforma de suporte a construção de serviços para o cidadão. Essa arquitetura já conta com um número de serviços que outros governos podem automatizar para a população.

“Mesmo assim, outros governos podem contratar outros serviços que não os ofertados, além de contar com automação e gestão de processos, gestão digital de documentos e um componente de low code para desenvolver aplicativos, como formulário, em um a dois dias”, explicou Romero.

Uma preocupação também é a jornada do cidadão, por isso, “pensamos em uma plataforma omnichannel para que, qualquer caminho que o usuário faça, ele terá conectividade e suporte, sem perder velocidade.”

Outro ponto levado em consideração é a segurança dos dados. Com a LGPD já em vigor (saiba mais sobre a lei aqui) e o data center da ATI sofrendo seis mil tentativas de ataques diários, Romero afirmou que há um esforço diário para reduzir os silos de informação e mitigar possíveis eventos.

“Cada secretaria quer ser dona de seus próprios dados. Diariamente tomamos medidas de segurança para evitar falhas e vazamentos, mas é um trabalho árduo”, finalizou.

2. São Caetano do Sul quer ser uma cidade startup

São Caetano do Sul (São Paulo) quer ir além do conceito de cidade inteligente: seu objetivo é ser uma “cidade startup”.A expectativa do poder executivo local é tocar vários projetos digitais envolvendo toda a comunidade – entidades públicas, privadas, universidades.

Mas, claro, enquanto o município ainda desenha como ter um pensamento de startup, ela já anda bem avançada quando o assunto é governo digital. A cidade mapeou as principais dores dos 161 mil habitantes e focou em capital humano.

Transformação digital é mais que adotar tecnologia. Precisávamos também ter uma boa comunicação com os munícipes para diagnosticar as reais necessidades deles”, explicou Fernando Trincado, secretário de desenvolvimento econômico, trabalho, turismo, tecnologia e inovação da Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul.

Uma das iniciativas foi a integração do banco de dados dos serviços públicos. O município tinha uma base cadastral de 300 mil pessoas. “Tínhamos uma redundância nos dados. Se um cidadão recebia cesta básica, uma equipe fazia visita e o cadastrava em um sistema. Se ele estivesse cadastrado em escola pública, os mesmos dados estavam em outro sistema”, comentou Trincado.

Então, o município lançou o Cartão São Caetano, que reúne todas as informações de um morador, garantindo o acesso aos serviços da rede municipal. “Serviu como um recadastramento e possui até prontuário eletrônico para a área de saúde”, disse o secretário.

O projeto, segundo Trincado, “teve resultado e eficácia e foi de extrema importância para termos informações que vão nos ajudar a realizar o planejamento urbano e melhorar a qualidade de vida dos cidadãos dos municípios.”

A cidade ainda oferece atendimento presencial, “porque São Caetano é pequena e as pessoas estão conectadas fisicamente e no digital. É uma forma de nos aproximarmos dele, mas com todas as informações integradas.”

3. Paraíba quer criar políticas baseadas em dados

O estado da Paraíba precisou lidar com um grande volume de demanda reprimida por conta do distanciamento social. “Foram seis meses de serviços presenciais parados”, comentou Angelo Rodrigues, diretor presidente da Companhia de Processamento de Dados da Paraíba (CODATA).

De acordo com o diretor, o estado possui um bom leque de serviços, “mas há uma dificuldade, porque eles não se conectam”. Uma estratégia, então, é criar meios interoperacionais a partir da avaliação dos cidadãos sobre os serviços digitais da Paraíba.

Para Rodrigues, ser digital não significa necessariamente estar no digital, mas sim criar um ecossistema em que a população consiga aproveitar o que o governo oferece. Para ele, não adianta criar um portal com vários serviços, em que a jornada do cidadão exija entrar em várias páginas para achar o que ele precisa.

“Precisamos repensar como oferecer serviço para o público. Muitos lugares criam ferramentas digitais, mas não as testam e jogam para a população como se fosse uma facilidade. [Na Paraíba], criamos um centro de coordenação estratégica para definir quais são as soluções necessárias para otimizar a vida da população”, contou o diretor da CODATA, que atua com outros órgãos para criar decretos e governança para melhorar a interação entre população e governo.

Governo digital deve engajar próxima geração

Não é novidade que a transformação digital do governo vai exigir também infraestrutura e conectividade. Porém, é preciso engajar também a população sobre as oportunidades que a digitalização pode oferecer.

Em São Caetano do Sul, por exemplo, o município trabalha com inclusão digital de pessoas com mais de 60 anos, os professores receberam capacitação tecnológica e os alunos agora realizam provas on-line. “Não usamos mais papel”, disse Fernando Trincado.

No entanto, na opinião Marcio Veronesi, da área de Transporte, Energia e Governo da Nokia, o desafio do governo digital vai além de olhar para a geração passada. “É preciso olhar para a geração futura para que ela faça parte do movimento, provoque mudanças a favor da sociedade, empresas e o próprio governo.”

Para ele, essa aproximação dos jovens e como eles enxergam os serviços públicos pode ajudar governos a desenvolver aplicações, conectividades, políticas integradas e processos mais simples. “Mas é importante que eles sejam atraídos e participem do conceito de inovação governamental”, comentou.

Principais destaques desta matéria

  • Governo digital foi tema de encontro na Futurecom Digital Week.
  • Para gestores públicos, cidadão e consumidor devem ser vistos como uma pessoa só.
  • Saiba como três governos brasileiros estão investindo em transformação digital.

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