Como pesquisadores brasileiros desenvolveram um aplicativo de diagnóstico rápido

Como pesquisadores brasileiros desenvolveram um aplicativo de diagnóstico rápido

3 minutos de leitura

Equipe criou fita diagnóstica com QR Code que, ao reagir com saliva de pessoa, exibe resultado do diagnóstico em um aplicativo.



Por Redação em 26/05/2020

Equipe criou fita diagnóstica com QR Code que, ao reagir com saliva, exibe resultado do diagnóstico em um aplicativo.

O que o peixe paulistinha e um aplicativo têm em comum? Embora eles sejam uma combinação bem peculiar, pesquisadores brasileiros uniram essas duas pontas para desenvolver uma solução mais barata de teste rápido para o diagnóstico de COVID-19.

O projeto, liderado por Ives Charlie, pesquisador e pós-doutorando do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, utiliza anticorpos de peixes paulistinha em uma fita diagnóstica. Ela conta com um QR Code e, ao ser lido por um app, mostra o resultado do teste.

Essa iniciativa brasileira foi uma das premiadas no Global Virtual Hackathon COVID19. A competição internacional, realizada nos dias 10 e 12 de abril no Azerbaijão, promoveu ideias inovadoras que pudessem ajudar no combate à pandemia.

Como a solução foi desenvolvida?

O projeto teve como objetivo a criação de um teste rápido e barato de diagnóstico do COVID-19. Para isso, a equipe de Ives Charlie injetou uma proteína do novo coronavírus chamada “spike” em peixes paulistinha fêmeas.

Ao se reproduzirem, os anticorpos dos peixes são passados para os ovos. Então, o grupo isolou esses anticorpos para desenvolver a fita diagnóstica. O material, que possui um QR Code, reage com a saliva do paciente, indicando o resultado do teste.

A escolha de peixes paulistinha, também conhecidos como zebrafish, tem um motivo: a espécie possui 70% dos genes iguais aos do ser humano, assim como a maioria dos órgãos principais e sistemas de tecidos.

Foto: Divulgação

Outro ponto é que, numa escala global, o “zebrafish é um excelente modelo experimental”, disse Ives Charlie ao site do Jornal da USP. Isso porque a espécie adulta possui até cinco centímetros de comprimento, otimizando o espaço para a criação.

Embora essa técnica seja utilizada com galinhas ou ratos, Charlie destacou que separar os anticorpos dos peixes paulistinha não exige o abatimento da espécie.

Como o teste ainda está em validação, os próximos passos serão identificar a quantidade ideal de anticorpos para a solução e, com isso, mapear quantos peixes são necessários para a produção em escala global.

A solução na prática

Como já resumimos no outro tópico, a saliva de uma pessoa causa uma reação na fita diagnóstica. O teste é bem semelhante ao de gravidez. O líquido vai infiltrar no composto de celulose e será levado até o reagente. Neste caso, o extrato dos ovos do zebrafish.

Quando a fibra de celulose for molhada, ela vai mudar de cor, indicando negativo ao mostrar apenas uma linha e duas, em caso positivo. Abaixo você confere uma imagem de como o resultado é exibido na fita diagnóstica:

Foto: Divulgação

No caso do aplicativo, apesar de o resultado ser visível na própria fita, um “algoritmo de visão computacional garante a validade do teste”, comentou Ilo Rivero, mestre em Ciência da Computação pela PUC-MG e professor da pós de IoT da PUC-MG, ao Mundo Mais Tech.

O professor explicou ainda que, caso a leitura do QR Code indique um diagnóstico positivo do teste, o algoritmo automaticamente notifica o caso para os órgãos de saúde. Toda essa comunicação será feita via blockchain, para garantir a segurança da transação dos dados.

O aplicativo ainda trará outros recursos, como: monitoramento por geolocalização das pessoas que testaram positivo para a COVID-19, acompanhamento durante 14 dias dos sintomas por meio de perguntas aos usuários, e a notificação de casos para órgãos de saúde pública.

Os próximos passos do projeto

Uma vez que os pesquisadores provaram que os testes feitos no laboratório são viáveis, agora a equipe espera desenvolver um produto de qualidade. Tanto que algumas amostras foram enviadas para ser checadas por pares.

No momento, os pesquisadores querem entender a assertividade do teste, assim como realizar todos os trâmites necessários para aprovação da Anvisa.

Quanto ao aplicativo, eles buscam uma parceria para migrar toda a infraestrutura para um ambiente de nuvem e para uma rede blockchain – para esta última, a HTML Coin, empresa de Chicago (Estados Unidos), deve ser a fornecedora da tecnologia.

Além disso, por conta da dimensão global do Hackathon, o API do aplicativo será disponibilizado para outros países. “Neste momento estamos trabalhando na questão multi-idioma, mas o app deve ser lançado em duas ou três semanas aqui no Brasil”, comentou Rivero.

Abaixo, você confere um vídeo (em inglês) mostrando como a solução funciona:

Principais destaques desta matéria

  • Pesquisadores brasileiros desenvolveram teste rápido para diagnóstico de COVID-19.
  • Solução utiliza anticorpos de zebrafish em uma fita diagnóstica com QR Code.
  • Saliva do paciente reage na fita e resultado pode ser lido em aplicativo.


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