Quase 85% da população brasileira mora em cidades com mais de 100 mil habitantes, o que se considera como centro urbano, segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), realizada em 2015. Isso coloca o Brasil como um dos países de maior concentração urbana do planeta. Na Europa, por exemplo, essa proporção é de até 45% na maioria dos países. Para Marcos Aurélio Izumida Martins, gerente técnico e de produção do Centro de Energia Sustentável da Fundação Certi, a configuração brasileira impõe desafios imediatos, entre os quais o atendimento à demanda de eletricidade, algo que depende da digitalização das redes.
“Estima-se que o consumo de energia elétrica no Brasil chegue a mais de 1.600 TWh em 2050. Isto é quase o triplo da média atual, conforme o levantamento realizado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE)”, escreveu ele em artigo publicado pelo Canal Energia. O especialista avalia que o investimento em fontes de energia sustentáveis, como energia solar e eólica, é uma das soluções para atender a essa demanda, mas isso, novamente, está atrelado ao melhoramento das redes de distribuição e transmissão de energia.
Segundo Martins, com a digitalização das redes é possível melhorar o controle do fluxo de energia, a partir da inteligência de dados, para compreender a demanda e gerar resultados sustentáveis, tornando a atuação mais preventiva do que corretiva. “Isso torna o sistema mais eficiente e dinâmico, além de possibilitar a coleta e compartilhamento de informações com outros serviços essenciais, como gás, água e telecomunicações”, escreveu ele. “Hoje, os equipamentos que compõem o setor – cabos, transformadores, chaves, disjuntores – são utilizados unicamente para distribuição de energia na maioria dos casos”, completou.
Gêmeos digitais e outras tecnologias de digitalização da energia elétrica
A proposta é que soluções como as de gêmeos digitais (digital twins) ganhem mais aplicações no setor elétrico. Essas são representações virtuais dos equipamentos físicos do sistema e dos processos, e funcionam com sensores inteligentes. Esses sensores são conectados à rede e se integram a sistemas de apoio, possibilitando acesso a informações relevantes e cruciais, que auxiliam na tomada de decisões críticas.
A tecnologia de gêmeos digitais tende a tornar o sistema de energia mais confiável, uma vez que atualiza as informações da rede constantemente, evitando lapsos no funcionamento. Além disso, a tecnologia pode integrar mapas, imagens, modelos 3D e dados coletados de todos os dispositivos conectados às smart grids e, assim, realizar simulações no sistema e para prolongar a vida útil dos equipamentos.
“Essa é uma das soluções capazes de otimizar o sistema de transmissão e distribuição de energia elétrica, mas não a única”, diz Martins, complementando com outras soluções como os georadares, imagens em alta resolução e a realidade virtual e aumentada.