As fintechs encontraram um ambiente favorável para se desenvolverem no Brasil com o surgimento da cloud, aproveitando a tecnologia amadurecida pelas instituições financeiras tradicionais e pelo avanço recente do open finance. “As fintechs já estão utilizando várias ferramentas, como soluções em nuvem e análises de dados”, destaca o Gerente de Vendas de Data Analytics da Claro, João Del Nero, nesta entrevista ao Próximo Nível.
Nesse cenário, segundo o especialista, as fintechs têm agora o grande desafio de descobrir como personalizar serviços sem invadir dados pessoais, e isso envolve análise de informações para redução de fraudes, confiabilidade na concessão de crédito e até mesmo na identificação de locais mais favoráveis para a instalação de pontos de venda/ atendimento físicos.
Confira, a seguir, alguns trechos da entrevista:
Por que a análise de dados é um diferencial para as fintechs?
João Del Nero – O grande diferencial destas empresas é o uso de tecnologias que permitem decisões mais ágeis. A gestão de dados possibilita isso desde estratégias relacionadas à oferta de determinados produtos até a melhoria da segurança.
Uma pesquisa divulgada pela TransUnion no ano passado mostrou que as fraudes virtuais haviam aumentado (até então) 457%, em decorrência da maior digitalização, ocorrida durante a pandemia. Ainda no ano passado, o estudo Mapa da Fraude, da consultoria Clearsale, identificou um aumento de 32,7% nas tentativas de fraudes em e-commerces no primeiro semestre de 2021, na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Esse cenário acaba trazendo um certo grau de risco para as operações, especialmente no ambiente virtual. Porém, com a análise de alguns dados, é possível elevar a segurança.
Poderia exemplificar de que forma os dados funcionam para a segurança?
João Del Nero – A Embratel oferece algumas ferramentas importantes para segurança e prevenção de fraudes: Valida Telefone, Valida Endereço e Alerta. O primeiro faz uma validação do CPF com o telefone. Assim, por exemplo, quando uma pessoa preenche um cadastro para abrir uma nova conta, fazer um cartão ou qualquer outro serviço digital, a ferramenta aponta se aquela linha de telefone realmente está vinculada àquele CPF. Certamente que alguém pode estar utilizando uma linha em nome de outra pessoa sem que isso signifique uma fraude, mas se a inconsistência for detectada, o sistema gera um alerta para verificação. Importante frisar que os dados do cliente não são expostos. O sistema apenas confirma se a linha pertence ao CPF ou não e, no segundo caso, fica a cargo do usuário solicitar outras confirmações.
A validação de endereço funciona de maneira similar. Aqui usamos um score de 1 a mil; quanto mais baixo, menor a probabilidade de o endereço informado estar correto. De novo, nenhum dado é exposto, apenas indicamos a maior ou menor probabilidade de o endereço fornecido estar correto.
A terceira solução é o Claro Alerta, que identifica situações de troca de chip, fraude conhecida como Sim Swap, que é quando o criminoso rouba o chip de alguém e, com isso, passa a roubar senhas de outros serviços. Afinal, o celular muitas vezes é utilizado para validação desses dados.
O Claro Alerta permite ainda que o usuário de nosso serviço saiba quando foi a última troca de chip daquele cliente. Por exemplo: a chance de alguém ter trocado o chip e minutos depois abrir uma conta em uma fintech é muito pequena. Pode acontecer, mas isso gera uma suspeita, que deve ser checada.
E quanto à concessão de crédito, existem indicadores que podem ser consultados, sem que os dados dos clientes sejam expostos?
João Del Nero – Sim. Todas as ferramentas estão em linha com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) e não há exposição de nenhuma informação de nossos clientes. Isso garante, inclusive, que o serviço seja utilizado exclusivamente para decisões de crédito e não para venda de produtos. Aliás, todos os clientes da Claro podem acessar o Portal da Privacidade para entender quais dados são coletados, quais as finalidades disso, como controlar as preferências e nossa políticas de proteção das informações.
No caso de concessão de crédito, a solução é bastante importante para fintechs que atuam na área de empréstimos pessoais, financiamentos de veículos, cartões de crédito e contas digitais, por exemplo. Nossa base cria um score dos assinantes (Claro Score), com range que vai de 1 a mil.Quanto maior o score, em tese, maior a capacidade de pagamento, o que representa uma segurança extra a quem vai ofertar o crédito. Reforço que a decisão de crédito cabe à empresa que utiliza o serviço.
E no caso de usuários de linhas pré-pagas, há algum tipo de analytics?
João Del Nero – Sim, esse é um dos grandes diferenciais de nossa solução. Hoje, estimamos que a maior parte dos usuários de linhas pré-pagas é formada pela população ainda desbancarizada (cerca de 34 milhões de brasileiros).
Essas pessoas, como não têm cartão ou conta em banco, não têm registros em sistemas de análise de crédito tradicionais. Normalmente, pagam suas contas em dinheiro ou boleto. Assim, o score pode ser determinante para que as fintechs entendam melhor seu comportamento de compra e a possibilidade de adimplência.
Esse serviço fornece uma base de apoio para os próprios clientes, que podem querer abrir uma conta, solicitar um financiamento, entre outras demandas, e muitas vezes têm dificuldade por não terem comprovação de renda ou histórico de pagamentos em outras instituições.
Os dados servem para que as fintechs criem novas ofertas a seus clientes?
João Del Nero – Não fornecemos esse tipo de informação, em respeito à LGPD. Os serviços da Claro para esse segmento se baseiam na prevenção de fraudes e na oferta de crédito. Nós estamos lançando um novo serviço, o Claro GeoData, que analisa o fluxo e movimentação das pessoas em uma região, apresentando isso de forma anonimizada e agrupada, como dado estatístico. Então é possível saber que grupos circulam em determinadas regiões, por exemplo. Os dados são anonimizados e agrupados, indicam classe social, idade e gênero.
O produto é direcionado a instalações físicas, pois as empresas conseguem identificar onde está seu público-alvo. No caso de fintechs, pode interessar àquelas que estão migrando para um modelo híbrido, com pontos de atendimento físicos e online, ou mesmo para grandes redes de varejo, que estão apostando em serviços financeiros no caminho de uma “espécie de fintechização”.