Os táxis autônomos da cidade de São Francisco foram citados como exemplo de disrupção tecnológica durante o Febraban Tech. Para Rodrigo Dantas, diretor de Tecnologia do Itaú Unibanco, o futuro do setor financeiro também envolverá autonomia. E que nesse cenário, não teremos motoristas, mas certamente haverá um copiloto: a inteligência artificial (IA).
A IA está mais diretamente ligada a duas das quatro tecnologias emergentes identificadas em um estudo que a Febraban deve lançar em agosto deste ano: os agentes de IA e a IA aplicada ao ciclo de vida de desenvolvimento de software (SDLC). Completam o quarteto a identidade digital e a computação quântica.

Segundo Douglas Silva, diretor executivo da Accenture — uma das organizadoras do estudo, ao lado da AWS —, não foi fácil escolher as quatro tecnologias. Isso porque a seleção foi feita a partir de uma lista inicial de 135 opções levantadas na primeira edição da pesquisa, realizada em 2024.
O material analisado para o “mergulho profundo” — ou deep diving, como mencionou Silva — envolveu também 291 casos de uso relatados no relatório anterior, além da participação de 40 instituições.
Esse mergulho incluiu visitas técnicas aos Estados Unidos para verificar, localmente, o cenário disruptivo impulsionado por startups avaliadas em bilhões, como a Windsurf, e por empresas já consolidadas, mas com forte viés tecnológico, como a Nvidia.
A viagem, segundo Silva, foi produtiva para compreender melhor, entre outros pontos, como está sendo estruturado o ecossistema de computação quântica e o uso dos agentes de IA — que sinalizam para uma “viagem de táxi” ainda mais surpreendente.
O especialista da Accenture antecipa que o uso de IA no SDLC e na platform engineering (metodologia voltada à modernização da entrega de softwares) já é uma realidade — e sua adoção tem avançado no setor financeiro.
Nesse contexto, a aplicação vai além da codificação e abrange engenharia reversa de requisitos legados e a geração de experiências enriquecidas nos canais. A IA também tem reduzido a carga cognitiva humana na platform engineering.
Em outras palavras: a IA tem sido usada para diminuir atividades manuais e, cada vez mais, contribuir na modernização do legado — extraindo valor do enorme volume de dados que as instituições financeiras possuem. Além da redução de custos, outra palavra-chave é aumento de produtividade.
As métricas do estudo indicam que a adoção da IA nessa área pode elevar em 21% a velocidade de execução de tarefas. Além disso, os recursos geram um aumento de 53% na qualidade das entregas por equipes que combinam humanos e agentes de IA — uma das quatro principais tecnologias emergentes avaliadas. E mais: a aplicação de IA no SDLC permitiria, em média, mais de 26% de tarefas concluídas.
Identidade digital em expansão

A segunda tecnologia mais consolidada é a identidade digital, que teve avanços recentes — como métodos biométricos sem contato (leitura facial, de veias, identificação por voz e características comportamentais).
A integração é outro ponto-chave. Segundo Silva, o estudo indica a convergência entre biometria, identificação de dispositivos e de comportamentos, reunidos em uma única identidade digital.
A identidade digital também se expande para os agentes de IA, especialmente aqueles que atuam em nome de seres humanos.
Para Dantas, do Itaú Unibanco, a identidade digital é uma realidade para todos, mas traz preocupações com fraudes e riscos. Nesse sentido, o estudo da Febraban aponta a necessidade de uma gestão intensa por parte dos bancos, com destaque para o combate a ocorrências como deepfakes.
Tendências futuras na mira

Os dados do levantamento também apontam tendências futuras. Por exemplo, em 2024 houve um aumento de 45% nos crimes digitais no Brasil em comparação com o ano anterior.
Já os agentes de IA mostram que nosso “táxi imaginário” está prestes a dar saltos ainda maiores. O estudo cita o Manus AI, um agente capaz de executar tarefas complexas sem supervisão humana contínua.
Na escala evolutiva, os agentes de IA estão duas etapas à frente da IA tradicional combinada com machine learning (ML) e uma etapa à frente da IA generativa (GenAI).
Na prática, o estudo apresenta aplicações nas quais agentes de IA atuam como novos canais de atendimento para os bancos e executam processos complexos e multifuncionais.
Para Dantas, os agentes de IA ainda não são amplamente adotados, mas apontam para um futuro em que poderão gerenciar outros agentes — ou até mesmo pessoas.
Computação quântica no setor financeiro
A computação quântica fecha o grupo das quatro tecnologias emergentes analisadas no estudo da Febraban. Entre as novidades, estão os avanços nos chips quânticos, que se tornaram mais estáveis e menos propensos a erros, e a aplicação da tecnologia no combate a fraudes.
Segundo Silva, as previsões para a maturidade da computação quântica variam entre quatro anos (visão otimista) e dez anos (visão conservadora). Uma das grandes preocupações é o uso da tecnologia por cibercriminosos, com destaque para a possível quebra da criptografia RSA — amplamente utilizada na transmissão segura de dados.
Márcio Rodrigues, superintendente de Arquitetura e Governança de TI do Sicoob, faz um balanço interessante entre o que já é realidade e o que ainda está por vir em termos de tecnologias emergentes no setor financeiro. Nesse contexto, o mercado dos Estados Unidos funciona como vitrine de maturidade.
Segundo ele, a visita às empresas envolvidas com computação quântica demonstrou o papel fundamental da educação no ecossistema de disrupção. Embora menos tangível do que outras tecnologias, Rodrigues destaca que há muitos profissionais com formação acadêmica avançada — como mestrado e doutorado — envolvidos com o tema.
A visita, parte integrante do estudo, também promoveu maior integração entre os participantes do ecossistema tecnológico financeiro. Isso reforça a ideia de que a colaboração deve ser contínua — especialmente considerando a escassez de mão de obra especializada e a necessidade de grandes investimentos.
Por fim, Carolina Sansão, diretora de Inovação, Tecnologia Bancária e Cibersegurança da Febraban, destacou a evolução do estudo, conduzido pela Accenture em colaboração com a AWS.
“Está num nível e profundidade que vai auxiliar os bancos em sua jornada de tecnologia.”
Ela também ressaltou a cocriação do estudo com o setor financeiro, incluindo 13 sessões com o Grupo de Trabalho (GT) de Novas Tecnologias da Febraban.
Nos Estados Unidos, a troca de experiências envolveu 30 encontros para debates e oito imersões em empresas e startups locais. Duas cidades foram visitadas durante a jornada: São Francisco (Califórnia) e Seattle (Washington).