Mulheres na Tecnologia

Gartner Symposium: Contratar mulheres para área de TI ainda é um desafio

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Gênero feminino tem somente 18% dos títulos de graduação em Ciências da Computação e preenchem, atualmente, apenas 25% das vagas da indústria digital em todo o mundo.



Por Redação em 03/12/2018

O mercado de tecnologia é um dos que mais cresce no mundo em geração de receita e criação de vagas de trabalho. Isso já era de se esperar. Mas apesar de todo esse crescimento, a participação das mulheres em postos chaves permanece a mesma desde 2004, de acordo com um levantamento da consultoria Gartner. A boa notícia é que o assunto está na pauta de todas as grandes empresas e eventos do setor.

“Essa é uma questão relevante porque os negócios precisam das mulheres”, aponta Cristiane Tarricone, consultora dos Programas Executivos da Gartner na América Latina. “Não é uma questão de gênero, mas um entendimento sobre como mulheres com personalidades, carreiras e propósitos diferentes estão fazendo diferença no mundo digital”, completa.

De acordo com dados da ONU Mulheres, a força de trabalho feminina está fora dos principais postos gerados pela revolução digital. Elas têm somente 18% dos títulos de graduação em Ciências da Computação e preenchem, atualmente, apenas 25% das vagas da indústria digital em todo o mundo. No Brasil, a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) aponta que apenas 20% de profissionais de tecnologia da informação são mulheres.

A diretora executiva para Governo da Embratel, Maria Teresa Azevedo Lima, é uma das mulheres que venceram o teto de vidro e se tornaram exemplo para as outras. Durante o painel Mulheres em TI: Mulheres Impulsionando a Transformação Digital, no Simpósio da Gartner, Maria Teresa contou que foi a única mulher a se formar em uma turma de 35 engenheiros da Universidade de Brasília, no final dos anos 1970. Já numa das primeiras seleções de emprego, ouviu de um homem que não seria contratada porque logo engravidaria e sairia da empresa. “Mas eu não desisti”, conta. Em seguida, foi trabalhar na Telebrasília e de lá construiu a carreira que lhe levou até a diretoria da gigante de telecomunicações.

Desde a graduação de Maria Teresa o interesse e acesso das mulheres aos estudos tecnológicos vêm aumentando, especialmente nas gerações mais jovens. Uma análise da HackerRank, uma plataforma especializada em head hunting de desenvolvedores para empresas de tecnologia, mostra que hoje é 33% mais provável que uma mulher jovem se interesse por estudar Ciências da Computação, tecnologia, engenharias e Matemática do que era nos anos 1980. As gerações mais novas de mulheres também começam a escrever códigos mais cedo do que fizeram há quatro décadas. Nos desenvolvedores avaliados pela plataforma, a diferença entre homens e mulheres que começaram a codificar antes dos 16 anos é de 20 pontos percentuais na faixa dos maiores de 35 anos e de apenas 7 pontos para os candidatos entre 18 e 24 anos.

Camila Achutti é uma destas nativas digitais que começaram cedo. Com menos de 30 anos, ela já passou pelo Vale do Silício e, de volta ao Brasil, é professora do Insper e cofundadora das empresas Ponte21 e Mastertech. Se tornou referência mundial na luta por mais mulheres na tecnologia, conquistando o prêmio Women of Vision 2015. No blog Mulheres na Computação, Camila busca inspiração em outras mulheres de impacto na tecnologia. “Quando digo que eu programo, sempre ouço: ‘Nossa, não parece!’, aí respondo para procurar no Google Ada Lovelace. Para mim sempre foi muito claro que eu tinha que agradecer e me inspirar nas que vieram antes de mim. Criei musculatura nesses exemplos. A cada piada que chega eu mostro mulheres que fizeram algo importante na tecnologia”, conta Camila.

Para a Chief Operating Officer (COO) da Nesthoes, Graciela Kumruian, o caminho das exatas também foi construído com base nos exemplos inspiradores. Graciela, que tem descendência armênia, conta que nasceu em uma cultura bastante machista: “Desde cedo eu sempre soube o que eu não queria para mim: eu não queria ser criada para casar. Eu gostava muito de exatas e busquei inspiração em pessoas que eu admirava e que estavam fazendo algo diferente”. Na Netshoes desde 2008, Graciela foi responsável pela criação de toda a área de tecnologia da empresa. No ano passado, foi eleita uma das 10 mulheres mais influentes em tecnologia do Brasil pelo portal ZDNet, do grupo de mídia americano CBS.

Pipeline vazio

As mulheres estão estudando mais tecnologia e aprendendo a programar mais cedo, mas ainda não estão seguras na hora de aplicar para vagas e promoções. Segundo Graciela Kumruian, há duas dificuldades para preencher as vagas de tecnologia com mais equilíbrio de gênero. Mesmo com o aumento do interesse das mulheres pela área, ainda faltam mulheres profissionais de tecnologia no mercado. E, entre as que existem, muitas não se sentem encorajadas a se candidatar para ascensão em vagas de nível gerencial. “Se a lista de requisitos tiver 10 pontos e a mulher achar que preenche apenas 9, ela não se candidata”.

A COO da Netshoes diz que a questão de gênero é bem equilibrada na empresa, com metade do quadro de funcionários preenchido por mulheres. Mas quando a análise é feita por setores, nas áreas de TI ainda não há equilíbrio. “Começamos um programa focado na atração desse público. Trazemos empreendedoras da área de tecnologia para dar palestras na Semana da Mulher, fazemos tech talks e vamos começar programas exclusivos para mulheres”, conta Graciela.

Na Embratel, Maria Teresa Lima diz que as questões de diversidade, incluindo gênero, entraram no plano de desenvolvimento de pessoas e as lideranças estão sendo estimuladas a discutir o tema abertamente.

Camila Achutti também aponta o pipeline vazio de talentos como um problema que precisa ser enfrentado rapidamente. “Contratamos estagiárias e colocamos um pouco de atenção para que consigam subir rápido. É mais fácil achar esse talento na base e investir para que ascenda”, relata. Segundo ela, muitas empresas estão dispostas a contratar de maneira diferente, mas não encontram candidatas. Por isso, a Mastertech está montando uma escola dentro de um presídio feminino em São Paulo. “O perfil da detenta é diferente, normalmente são cúmplices, foram condenadas por crimes não violentos, relacionados ao aumento de renda. Mas quando ela sai não consegue mais se integrar à força de trabalho. Queremos qualificar essa mão de obra para empresas que estão dispostas a fazer diferença”.



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