O hábito tipicamente brasileiro de trocar posts e mensagens sobre a novela ou o jogo de futebol, na prática, já é uma forma comum de interagir com as mídias. Todavia, a experiência é fragmentada em duas telas, duas redes e modelos de negócio paralelos e concorrentes – embora com algumas interseções indiretas. As oportunidades trazidas pela tecnologia para que as emissoras ampliem suas alternativas de serviços, assim como suas fontes de receita, foram o eixo do painel TV 3.0: Tecnologia e Negócios, na SET Expo 2024.
Além da qualidade de imagem e áudio da TV 3.0, a tecnologia de transmissão ATSC 3.0 (Advanced Television Systems Committee), definida em julho como padrão no Brasil, embute recursos de customização e relativa interatividade (com as aplicações baixadas no televisor).
Ainda que seja necessária uma conexão à internet para aplicações altamente interativas, Boris Kauffmann, arquiteto de soluções da AWS, argumentou como a arquitetura de referência para ATSC 3.0, junto à competência dos criadores de serviços, pode proporcionar ao cliente uma experiência integrada, com um gerenciamento central das entregas e do feedback.
O arquiteto mencionou que o avanço da virtualização é um dos direcionadores dessa arquitetura de referência. “Da mesma forma que ocorre a convergência no receptor (TV, streaming e serviços de dados por meio do mesmo dispositivo), também faz sentido a convergência na origem”, afirmou. O especialista em broadcast vislumbra um cenário em que a nuvem funcione como um backbone virtualizado para as operações de TV, cabendo às retransmissoras apenas modular e irradiar o sinal.
Dos reclames à mídia programática
A transformação digital empreendida pelas emissoras, a maturidade das estruturas virtualizadas e em nuvem, junto aos padrões da TV 3.0, trazem um novo equilíbrio ao jogo. Possibilidades como publicidade por microlocalização, com precificação granular, junto a produtos a serem criados, proporcionam às emissoras flexibilidade comercial e reforça a atratividade aos clientes. “O CPM (custo por mil visualizações) da TV tem que ter um valor necessariamente maior. É a maior tela da casa, em uma mídia segura e com credibilidade”, afirmou Bruno Pacheco, CEO da Zedia.
Ele definiu o “Anunciante 3.0” como um cliente que requer métricas, cobra performance, e anseia por novidades, embora seja conservador para testar. “É importante focar em como apresentar resultados aos clientes; estruturar modelos com métricas interessantes”, disse.
Outra figura descrita por Pacheco é a “Concorrência 3.0”, que inclui as big techs, as plataformas públicas e até marketplaces que geram conteúdo e publicidade. Contudo, enfatizou a relevância da TV, que deve ser alavancada com as inovações.
Em meio a debates sobre as mudanças na tecnologia, nas redes e as grandes transformações na indústria de televisão, Pacheco destacou a importância de alinhar a força de vendas, até para que as oportunidades técnicas se revertam em resultados para as emissoras e afiliadas.
“O maior desafio é dentro de casa, com as equipes comerciais”, resumiu. “O vendedor estava acostumado a receber a compra. Agora o cliente quer uma venda mais consultiva, com mais alternativas de formatos e preço”, concluiu.