O grande volume de informações captado atualmente representa uma oportunidade para empresas e órgãos públicos, que podem entender melhor as necessidades dos clientes e cidadãos, além de anteciparem demandas e direcionarem decisões.
Com o uso correto dos dados, isso traz benefícios tanto para seus titulares, que obtêm melhores serviços, quanto para as mais diversas organizações, que, a partir das informações, conseguem direcionar suas prioridades e ações. Isso vale não somente para a iniciativa privada. Instituições governamentais também se beneficiam da análise de informações, utilizando-as para direcionar seus esforços.
O tema foi discutido durante o AWS Public Sector Symposium, realizado em 8 de maio, em Brasília (DF) e funcionou como pano de fundo para o painel “Modelos de Contratação que Habilitam a Inovação na Era da Inteligência Artificial”, que contou com a participação da Embratel, Tribunal de Contas da União (TCU) e AWS. A abordagem dos participantes do painel deixou claro que a tecnologia funciona como um meio para que as demandas da população sejam atendidas pelo governo de forma mais eficaz.
“A nuvem é essencial para a inovação, pois há uma necessidade de estar em um ambiente escalável, com plataformas disponíveis. Mas, em um ambiente de governo, sabemos que existe uma metodologia de contratação e isso pode ficar restrito”, disse Diuliana França, diretora de Serviços Cloud B2B na Embratel, na abertura do painel.
Modelos de contratação adequados
Segundo Diuliana, no setor público o modelo correto de contratação é o que vai viabilizar a flexibilidade e a inovação. “Todos nós somos gerenciados, nossos dados, nossos comportamentos, nossas cidades. E tudo isso gera um volume de informações muito grande, que precisa ser tratado e armazenado de forma adequada, para gerar insumos para uma plataforma de aprendizados, que vai se transformar em inteligência”, disse a executiva. “A nuvem viabiliza isso”, completou.
Diuliana citou que, segundo estatísticas do Gartner, neste ano (2024), 45% das empresas devem aumentar seus investimentos em inteligência artificial (IA). “Sabemos que este número tende a ser muito maior no futuro. Esse índice mostra que as empresas e órgãos públicos estão começando esses experimentos com IA através do uso de dados e armazenamento em nuvem. Estes casos de uso são criados, gerando negócios, eficiência, maior produtividade e, com isso, vão se pagando”, declarou.
Na abertura da apresentação, Diuliana convidou os participantes a refletirem sobre tendências para o futuro – as quais, obviamente, sinalizam as estratégias que as empresas devem seguir para acompanhar os novos rumos da tecnologia. “Com a IA, a gente aumenta a produtividade, melhora a experiência do cliente. Mas é necessário saber como utilizar as ferramentas de forma adequada”, disse.
Durante o SXSW deste ano, Ray Kurzweil, autor do livro A singularidade está muito próxima, trouxe uma informação que deixou a plateia aguçada: “todos os seres humanos estarão conectados diretamente à nuvem em 2045”, disse ele. Esse cenário ampliaria a nossa capacidade de inteligência em 1 milhão de vezes. “Claro que isso é um desenho do futuro, mas quando olhamos o que ele previu no passado, vemos que muitas coisas já estão acontecendo. Por essa razão, inclusive, ele é apelidado de ‘Nostradamus da IA’”, destacou Diuliana.
A diretora de Serviços Cloud B2B na Embratel também mencionou que, durante o SXSW, especialistas trouxeram a informação de que estamos vivendo um superciclo tecnológico, com grandes avanços em tecnologia, as quais geram mudanças no comportamento e na sociedade. “Aqui, no Brasil, destacamos três delas: conexão entre pessoas e coisas, tudo está conectado e gerando dados, biotecnologia, que vai nos garantir melhor qualidade de vida e de saúde, e IA, que está cada vez mais presente no dia a dia”, disse Diuliana.
Nuvem no serviço público
Lorena Brasil, diretora de Infraestrutura do TCU, ressaltou a importância da evolução das organizações, de forma que as necessidades estejam endereçadas à inovação e que a nuvem não cause limitações.
O tribunal iniciou a jornada para a nuvem entre 2016 e 2017, quando, segundo Lorena, tomou a decisão correta de contratar um ambiente de nuvem com catálogo aberto e plataforma multicloud. “Isso nos trouxe maior flexibilidade e [com o passar do tempo] o nosso primeiro contrato evoluiu. Hoje, isto nos permite ter acesso a tecnologias atuais, como a IA”.
Segundo Lorena, é preciso experienciar a nuvem e suas oportunidades. “É possível, por exemplo, fazer um contrato menor, em termos de capital alocado, para começar a entender os benefícios. Também acredito que temos de ousar um pouco, pensando no que é possível experimentar, pois é isso que vai nos permitir conhecer os benefícios e malefícios da tecnologia”, afirmou.
Além disso, não basta apenas a plataforma, Lorena complementou que serviços técnicos especializados são fundamentais para que se possa ampliar a capacidade de execução pelos órgãos públicos e complementar os expertises técnicos necessários.
Para Maria Teresa Lima, diretora executiva de Governo da Embratel, modelos de contratação de nuvem flexíveis, como o do TCU, no final das contas, melhoram os serviços públicos e servem os cidadãos com mais efetividade. Para ela, o modelo de contratação mais flexível promove a inovação. “O cidadão quer um serviço simples, rápido e seguro, e essa combinação depende muito desta jornada que todos os órgãos estão fazendo para a nuvem”, pontuou.
Flexibilidade é a solução
De acordo com Rafael Bitencourt, líder regional de Negócios para Governo na AWS, o potencial da IA ainda é desconhecido. “Somos os primeiros nesta nova jornada. Quem poderia imaginar, no século passado, quando a internet surgiu, todas as possibilidades que, hoje, são realidade?”, exemplificou. “Quando a internet foi criada, ninguém imaginava, por exemplo, as vitrines virtuais. Hoje, uma loja que não tem um site ou não está nas redes sociais, praticamente não existe”, disse.
Ele contextualizou que a evolução tecnológica está ocorrendo de forma cada vez mais rápida e é difícil prever os próximos passos. “Mas podemos nos preparar, e a solução é buscar a flexibilidade. Em 2016/17, quando se criou o primeiro modelo de contratação de nuvem, ninguém sabia como usar e, muito menos, como contratar em órgãos públicos. Evoluímos muito de lá para cá”, afirmou.
Segundo Bitencourt, a principal oportunidade de contratação em modelo flexível é a opção pelo catálogo aberto atualmente. “Isso se refere não apenas aos provedores de nuvem, mas também a outras demandas que podem ser necessárias ao longo da jornada de nuvem”, esclareceu. Segundo ele, dependendo do grau de maturidade de cada instituição, serão necessários mais ou menos serviços especializados, e isso deve ser definido caso a caso.
Para Maria Teresa Lima, o superciclo tecnológico vai mudar a forma como as pessoas vivem e interagem. “A IA já existe, está presente e acelerando. É preciso pensar na forma como tudo isso se conecta, incluindo ecossistemas integrados, IA e biotecnologia”, disse.
No futuro próximo, ela prevê que teremos uma “comporta de dados absurdamente grande”, com serviços novos. “Isso representará uma oportunidade de ações preditivas, que vão ajudar o governo em decisões práticas, não deixando as instituições tão engessadas em um modelo que impeça a inovação”, afirmou. “Isso ajuda na prestação de serviços para a população”, reforçou.
A diretora da Embratel completou que existem estágios de maturidade diferentes para cada organização, o que faz com que elas enfrentem desafios distintos. “Há aqueles que, de fato, entendem que têm de ir para a nuvem para promover o processo de inovação e transformação. Mas também existem empresas que querem experimentar e entender, além daquelas que precisam ir mas não conseguem por falta de recursos financeiros e de capital humano, para fazer uma transição dessa natureza”, destacou Maria Teresa.
Regras para o contrato aberto
Embora os participantes do painel concordem que o contrato flexível (ou aberto) para os serviços de nuvem é o ideal, Lorena, do TCU, lembrou que é necessário estabelecer regras claras e limites. “Precisamos acompanhar a legislação, para termos mais segurança”, disse.
Segundo ela, a perspectiva é de que, no futuro, as contratações sejam submetidas a regras comuns reguladas.
Maria Teresa complementou que há níveis de maturidade tecnológica diferentes nos órgãos públicos, e o TCU é um exemplo avançado. “Ir para a nuvem é o primeiro passo. O que observo é que aqueles que iniciaram a jornada há mais tempo, como o TCU, estão maduros e entendem que, no estágio atual, precisam de modelos de contratos mais flexíveis, com catálogo aberto”, disse. Outros órgãos, segundo ela, ainda estão em fase de maturação, mas, hora ou outra, vão entender que o avanço das suas operações rumo à inovação depende, essencialmente, de uma infraestrutura de nuvem inteligente e flexível.