Revista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) divulgou 10 tecnologias que vão impactar a forma como as pessoas vivem e trabalham.
Você sabe dizer como as tecnologias moldam pessoas, empresas e setores? Todo ano somos apresentados a uma lista de tendências inovadoras, mas nem sempre sabemos de qual maneira elas vão impactar a sociedade.
Por exemplo, o Google Glass parecia promissor quando foi anunciado em 2012. No entanto, o preço alto e preocupações com a segurança (os óculos facilitavam a gravação de vídeo sem outra pessoa perceber) levaram a interrupção da produção em 2015.
Nesta lista de 2017 feita pelo site da revista Times, você pode até conferir 20 falhas tecnológicas mais bem-sucedidas (conteúdo em inglês).
Porém, o problema de todo ano surgir tendências tecnológicas é que, muitas vezes, são projetos pilotos, dispositivos exagerados e que não fazem uma diferença real na resolução de problemas importantes.
Então, o que esperar para 2020 e para próximos anos? Muita coisa diferente, se depender do que está estampado na capa da MIT Technology Review, revista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), dos Estados Unidos. A publicação divulgou uma lista com 10 tecnologias que vão mudar a maneira como vivemos e trabalhamos.
1. Internet impossível de ser hackeada
Uma equipe da Universidade de Tecnologia de Delft, na Holanda, está desenvolvendo uma rede de internet baseada em tecnologia quântica para permitir uma comunicação segura. O projeto vai conectar quatro cidades daquele país e utilizará técnicas quânticas de ponta a ponta.
A rede não será hackeada porque ela vai ser criada a partir de um comportamento quântico de emaranhamento (quando um par ou grupo de partículas é gerado ou interage, mas o estado quântico de cada partícula não é descrito mesmo quando há mudança de estado da partícula).
Ok, mas o que isso tudo quer dizer?
Significa que partículas emaranhadas não podem ser lidas secretamente sem interromper seu conteúdo. O desafio, porém, é que elas são difíceis de criar e de transmitir por longas distâncias. Então, essa tecnologia exigirá repetidores quânticos para estender a rede sem perder conexão.
- Por que o projeto importa?
A internet está cada vez mais vulnerável a hackers e a tecnologia quântica pode inviabilizar ataques. - Disponibilidade:
Em até 5 anos
2. Medicina hiperpersonalizada
Mila Makovec é uma garotinha que sofre uma doença causada por uma mutação genética. Graças a uma leitura do erro de DNA dela, médicos conseguiram fabricar um medicamento específico para ela. O caso foi publicado no New England Journal of Medicine em outubro de 2019.
Isso foi possível porque cientistas fizeram um diagnóstico molecular da condição neurodegenerativa. Após um ano de tratamento, Mila não foi curada, mas a condição dela foi estabilizada: as convulsões foram reduzidas e ela conseguiu se levantar e andar com assistência.
Essa tecnologia de programação digital de medicamentos pode ajudar na correção de falhas genéticas de pacientes com doenças raras. O desafio, questiona o MIT, é: quem pagará por essa medicação quando ela vai servir para apenas uma pessoa?
- Por que a tecnologia importa?
Medicina genética adaptada a um único paciente significa esperança para pessoas cujas doenças eram consideradas incuráveis. - Disponibilidade:
Agora
3. Dinheiro digital
A China é vanguardista quando o assunto é inovação. Tanto que o país vai emitir uma versão digital da sua própria moeda como forma de substituir o dinheiro físico. Essa iniciativa veio como uma resposta ao anúncio da Libra, “moeda digital global” do Facebook.
Uma vez que o dólar tem enorme poder sobre o sistema financeiro global, o dinheiro digital chinês pode iniciar uma descentralização da moeda americana em outros mercados. Se o Facebook, que prometeu estender a liderança financeira dos EUA no mundo, ainda vai lançar a Libra? Ninguém sabe.
- Por que a tecnologia importa?
Como o uso de dinheiro físico diminui, o mesmo acontece com a liberdade de realizar transações sem um intermediário. Enquanto isso, a tecnologia da moeda digital poderia ser usada para fragmentar o sistema financeiro global. - Disponibilidade:
Este ano
4. Medicamentos para retardar os efeitos do envelhecimento
Medicamentos senolíticos removem células senescentes (criam inflamação de baixo nível e suprimem os mecanismos normais de reparo celular, criando um ambiente tóxico para células vizinhas) que se acumulam à medida que as pessoas envelhecem.
Em junho de 2019, a Unity Biotechnology, com sede em São Francisco, relatou resultados iniciais em pacientes com osteoartrite leve a grave do joelho. Os resultados de um ensaio clínico maior são esperados no segundo semestre de 2020.
Já em dezembro do ano passado, pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Drexel (Estados Unidos) tentaram até ver se um creme, incluindo a droga supressora do sistema imunológico poderia retardar o envelhecimento da pele humana.
Esses testes refletem os esforços crescentes dos pesquisadores para descobrir se muitas doenças associadas ao envelhecimento – como doenças cardíacas, artrite, câncer e demência – podem ser retardadas com medicamentos senolíticos.
- Por que a tecnologia importa?
Doenças associadas ao envelhecimento podem ser retardadas e, assim, conferir mais qualidade de vida para uma população cada vez mais longeva. - Disponibilidade:
Em menos de 5 anos
5. Moléculas descobertas por Inteligência Artificial
Já trouxemos aqui no Mundo + Tech um blog post sobre um antibiótico desenvolvido com ajuda da Inteligência Artificial. Tecnologias como IA e Machine Learning podem transformar moléculas em até 1060 drogas potencialmente vitais.
Essa possibilidade se dá por meio da exploração de grandes bancos de dados de moléculas existentes e suas propriedades. Com essas informações, os pesquisadores podem agilizar e baratear a descoberta de novas drogas.
- Por que a tecnologia importa?
Comercializar um novo medicamento custa em média US $ 2,5 bilhões. Uma razão é a dificuldade de encontrar moléculas promissoras. - Disponibilidade:
De 3 a 5 anos
6. Megaconstelações de satélites
Satélites podem transmitir uma conexão de banda larga aos terminais da Internet. Porém, esses terminais só fornecem conexão a um dispositivo próximo caso tenham uma visão clara do céu. Se depender da SpaceX, de Elon Musk, esta década será de muitos equipamentos em órbita.
O que não é uma realidade distante já que satélites estão cada vez menores e os lançamentos estão mais baratos. Segundo o MIT, vários deles podem ser “amarrados” em foguetes para reduzir ainda mais o custo de lançamento.
Porém, o que alguns pesquisadores questionam é se a quantidade de satélites em órbita não vai atrapalhar estudos em astronomia. Ou pior, se uma colisão não vai se transformar em grandes pedaços de detritos espaciais.
- Por que a tecnologia importa?
Esses sistemas podem cobrir o mundo com Internet de alta velocidade – ou transformar a órbita da Terra em um campo minado cheio de lixo. - Disponibilidade:
Agora
7. Supremacia quântica
Os computadores quânticos armazenam e processam dados de uma maneira completamente diferente daquela com a qual estamos acostumados. O Google até chegou a anunciar que atingiu a supremacia quântica, em outubro do ano passado.
Em teoria, computadores quânticos podem resolver problemas que um supercomputador clássico levaria milênios para resolver: como quebrar os códigos criptográficos atuais ou simular o comportamento preciso de moléculas para ajudar a descobrir novos medicamentos e materiais.
No entanto, máquinas que podem quebrar a criptografia atual exigirão milhões de qubits. Em outras palavras, provavelmente levará décadas para chegar lá. Mas um equipamento que possa modelar moléculas deve ser mais fácil de construir, pontua o MIT.
- Por que a tecnologia importa?
Eventualmente, os computadores quânticos serão capazes de resolver problemas que nenhuma máquina clássica pode gerenciar. - Disponibilidade:
Nos próximos 5, 10 ou mais anos.
8. Tiny IA
O uso de Inteligência Artificial tem um porém: é preciso usar uma grande quantidade de dados (Big Data). Outra questão é que os profissionais que irão treinar a tecnologia usam cada vez mais poder computacional e serviços em nuvens centralizados. Essa combinação gera três problemas:
- Uma grande quantidade de emissões de carbono.
- A quantidade de dados limita a velocidade de execução de soluções de IA.
- E justamente por estarmos falando de dados, à preocupações quanto à privacidade dos aplicativos baseados em IA.
Na contramão desse cenário, diversas empresas estão trabalhando em novos algoritmos para reduzir os modelos atuais de Deep Learning, mas sem perder a capacidade desses modelos. É a chamada Tiny IA.
Para impulsionar a Tiny IA, fabricantes já começaram a desenvolver chips de IA que acumulam maior poder computacional em um espaço físico mais restrito (smartphone, por exemplo), conseguindo treinar e executar a IA com muito menos energia.
Um exemplo básico é o Google Assistente. Agora é possível uma pessoa executar a aplicação sem enviar solicitações dela para um servidor remoto. Algo semelhante acontece em iPhone com iOS 13 instalado. O reconhecimento da fala da Siri é executado na borda (Edge Computing).
Contudo, isso vai trazer alguns desafios: pode ser mais difícil combater sistemas de vigilância ou vídeos deepfake, por exemplo. É possível também que aumente o número de algoritmos discriminatórios.
- Por que a tecnologia importa?
Nossos dispositivos não precisam mais falar com a nuvem para que possamos nos beneficiar dos mais recentes recursos orientados por IA. - Disponibilidade:
Agora
9. Privacidade diferencial
A privacidade diferencial é uma técnica matemática que torna o processo de identificação de uma pessoa mais rigoroso ao adicionar um mecanismo de ruído. O método já é usado pela Apple e pelo Facebook para coletar dados agregados sem identificar usuários específicos.
Pense no Censo que provavelmente vai acontecer no Brasil agora em 2020. Caso aconteça um vazamento, os dados de muitos brasileiros seriam expostos, dando munição para cibercriminosos realizarem ataques. Porém, um mecanismo de ruído poderia prevenir isso.
- Por que a tecnologia importa?
É cada vez mais difícil manter em sigilo os dados coletados. Uma técnica chamada privacidade diferencial poderia resolver esse problema, criar confiança e se tornar um modelo para outros países. - Disponibilidade:
Já será usado no Censo dos EUA em 2020
10. Identificação de mudanças climáticas
Dez dias após a tempestade tropical Imelda começar a inundar bairros em toda a área de Houston (Estados Unidos) em setembro passado, uma equipe de pesquisa de resposta rápida anunciou que as mudanças climáticas quase certamente tinham um papel importante.
O grupo, chamado World Weather Attribution, comparou simulações em computador de alta resolução de dois “tipos” de mundos: um com mudanças climáticas e outro sem. No primeiro, que representa o mundo em que vivemos, a tempestade severa era 2,6 vezes mais provável – e até 28% mais intensa.
Esse e outros estudos de atribuição de condições meteorológicas extremas foram realizados nos últimos anos, e as ferramentas e técnicas de aprimoramento rápido os tornaram mais confiáveis e convincentes.
Isso foi possível graças ao registro prolongado de dados detalhados de satélites, que ajudam a entender os sistemas naturais. Além disso, o aumento do poder computacional significa que os cientistas podem criar simulações de alta resolução e realizar muito mais experimentos virtuais.
Essas e outras melhorias permitiram aos cientistas afirmar com crescente certeza estatística que, sim, o aquecimento global está frequentemente alimentando eventos climáticos mais perigosos.
- Por que a tecnologia importa?
Ela está fornecendo uma noção mais clara de como as mudanças climáticas estão piorando o clima e o que precisamos fazer para nos preparar. - Disponibilidade:
Agora
Principais destaques desta matéria
- Revista do MIT divulgou lista que tecnologias que serão tendências a partir de 2020.
- São inovações que vão impactar a forma como a sociedade vive e trabalha.
- Privacidade diferencial, supremacia quântica e internet que não pode ser hackeada são algumas dessas tecnologias.