redes privativas Imagem gerada por Inteligência Artificial

Redes privativas móveis avançam no Brasil

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Crescimento de ativações foi de 60% em 2024. País tem exemplos de referência mundial como os da Rede Globo e da Vale



Por Nelson Valêncio em 01/07/2025

As redes privativas móveis 4G LTE/5G estão impulsionando a digitalização em diversos setores no Brasil, com destaque para a indústria e mineração. O crescimento é significativo, com mais de 60% de aumento na implantação entre 2023 e 2024, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

Os dados são de Vinicius Caram, superintendente de Outorga e Recursos à Prestação da agência, durante o MPN Forum 2025, evento organizado pelo site Mobile Time em São Paulo.

Vinicius Caram (Foto: Reprodução/ Mobile Time)

Na indústria, o especialista da Anatel destaca que as aplicações incluem controle de dados, automação de processos, integração e logística. A robótica e automação de veículos autônomos são outras frentes. A mineração e metalurgia incluem casos relevantes como os da Vale e da Usiminas e em ambos, a conectividade viabilizada pelas MPS, sigla em inglês para mobile private network, foi a habilitadora dos processos.

Outras iniciativas também são referência internacional, como é o da Rede Globo, para a cobertura do carnaval no Rio de Janeiro, e o da Vale, em suas minas de ferro no Pará.

Em função da liderança da indústria na implementação das MPNs, as faixas de frequência mais usadas atualmente são as 2.3 GHz, 2.9 GHz e 3.5 GHz. O espectro disponível no Brasil, no entanto, é amplo e inclui os 700 MHz, onde estão alocadas as redes privativas do agro, devido à cobertura territorial maior.

No mercado de serviços públicos, que envolve eletricidade e gás, entre outros, as redes empregam principalmente as faixas de 250 MHz e as de 400 MHz.

Em termos de pedidos de autorizações de uso, os segmentos de eletricidade e gás lideram as solicitações na Anatel, mostrando que esses segmentos devem ter um aumento de implementações. Especialistas ouvidos pelo Próximo Nível durante o MPN Forum indicam que há vários pedidos de propostas (RFPs) em andamento no setor elétrico, especialmente entre as distribuidoras de energia. 

Para o superintendente da Anatel, porém, um mercado potencial é o das Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs). Ele dá como exemplo os casos de Pecém (CE) e Rio Grande (RS). Nesses locais, a digitalização é fortemente incentivada por benefícios fiscais e as redes privativas permitem o uso maciço de recursos de automação e integração.

Como as ZPEs envolvem, normalmente, um porto em sua configuração, o maior exemplo internacional é Roterdã, nos países baixos. A instalação europeia tem automação total no controle de contêineres, com estocagem e direcionamento de veículos, de forma integrada e automática usando redes 5G. Na avaliação de Caram, é um modelo interessante para o Brasil.

Se os mercados potenciais aparecem no radar da Anatel, dois casos consolidados no Brasil são referências mundiais. O primeiro deles é o da Rede Globo.

Thiago Facchin, gerente de TI do Grupo Globo, destaca que a cobertura do carnaval do Rio em 2025 foi um case global de tecnologia no entretenimento e um divisor de águas para a transmissão ao vivo de eventos usando as MPNs.

De acordo com ele, a Globo já utilizava redes privadas 4G para eventos, mas de forma limitada. A novidade foi colocar as principais câmeras do evento (especialmente para conteúdo de entretenimento, que exige baixa latência e alta qualidade) integradas na rede privativa. A configuração anterior tinha câmeras auxiliares em redes 5G públicas ou 4G privadas.

“A principal meta ao montar uma rede privada é garantir mobilidade com baixíssima latência, alta qualidade e um throughput (vazão) muito alto para o tráfego de vídeo”, destacou o especialista.

A iniciativa trouxe uma série de desafios, mas também um grande aprendizado para a emissora. Facchin destaca que a tecnologia permitiu a redução do tempo de montagem da infraestrutura para o evento, de 30 para 5 dias, o que gerou uma diminuição significativa dos custos gerais do evento.

Ainda segundo ele, uma das lições apreendidas foi a necessidade de se ter observabilidade de todos os pontos da infraestrutura – não apenas da rede 5G privada. Isso significa que toda a infraestrutura – rede interna, backbone e conectividade até a emissora – foi monitorada para garantir latência, confiabilidade e disponibilidade na operação crítica.  

A arquitetura de rede 5G privada no Sambódromo também foi estrategicamente pensada, sendo a área de desfile dividida em dois grandes clusters de cobertura. Entre os recursos aplicados, o gerente de TI lembra que foram instaladas seis antenas (três em cada região), formando duas grandes células combinadas.

A operação utilizou canais de 100 MHz na faixa de 3.7 a 3.8 GHz, com sete câmeras principais utilizadas, sendo quatro no primeiro cluster e três no segundo. Um controle rigoroso foi adotado pela Globo para evitar que as câmeras invadissem outras células e roubassem throughput.

Entre as inovações, Facchin chama a atenção para o desenvolvimento de uma van que funcionou como uma central técnica móvel, pré-instalada e testada, que se conectava ao centro de produção da emissora via fibra óptica.

Outro destaque foi a compressão de vídeo: a Globo utilizou o padrão HBC, uma tecnologia superior ao MPEG-4, permitindo alta qualidade de vídeo e inovando graças à rede habilitadora. O executivo adiantou que o próximo passo em eventos ao vivo será a ativação de rede privativa móvel em estádios de futebol, começando com o Maracanã.

Longe do asfalto no Rio, a Vale é outra referência de MPN. Lennon Bento, gerente de Tecnologia da mineradora, destacou que a mina autônoma é a primeira etapa da ambição da empresa em termos de digitalização usando redes privativas. A evolução das aplicações envolve ainda usinas de processamento, portos, ferrovias e outras instalações.

Os números atuais de duas minas no Pará mostram mais de 60 sites na estrutura de 4G LTE privada da mineradora e uma disponibilidade de 99,9% da rede, importante para a ativação de recursos avançados como os caminhões autônomos.

Em termos de conexão, as minas têm 2 mil dispositivos integrados e mais de 380 equipamentos fazendo parte da rede. O monitoramento por vídeo envolve 362 câmeras. Em termos de cobertura, a Vale tem uma infraestrutura de MPN superior a 620 km2.

Entre os parceiros da mineradora está a Nokia, dona do Bell Labs, laboratório de referência mundial e um dos participantes da iniciativa de rede privativa da multinacional brasileira. Alberto Rodrigues, líder da área de Desenvolvimento de Negócios da Nokia, destacou alguns números do case.

O projeto piloto da empresa junto com a Vale envolveu o desenvolvimento – no Brasil – de um equipamento chamado de Black Box, que foi embarcado em caminhões autônomos que operavam 24×7 na mina de ferro de Carajás, no Pará. O dispositivo coletava mais de 200 parâmetros a cada 10 segundos, incluindo dados de rede 5G temporária montada especialmente para o teste. O equipamento também enviava informações de localização, temperatura e vibração.

Entre os ganhos projetados com a iniciativa, Rodrigues destaca 25% de aumento na conectividade e redução de 9% nas paradas não-planejadas ocasionadas por falta conectividade. Outra métrica importante foi o aumento de 80% na segurança das equipes de TI, que não precisavam mais fazer levantamentos constantes de campo.

A segurança do trabalhador mostrada no case da Vale se repete mundialmente, segundo Rodrigues. Pela experiência da Nokia, os ganhos incluem ainda a redução de custos operacionais, o aumento da produtividade e a redução de emissões.

O executivo destaca outra métrica importante, apurada na pesquisa da Global Data de 2024, que entrevistou mais de 100 empresas que implementaram redes privativas 4G LTE/5G. Segundo levantamento, 78% das companhias avaliadas obtiveram retorno sobre o investimento (ROI) em até 6 meses na ativação da tecnologia.



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