SXSW 2019: o que de mais interessante aconteceu no festival de inovação e tecnologia

SXSW 2019 | Mundo + Tech

4 minutos de leitura

Tecnologia nos diversos setores ganhou destaque na última edição do festival realizado nos Estados Unidos.



Por Redação em 18/03/2019

Principais destaques:
– O uso da tecnologia em setores como alimentação levantou discussões no evento;
– Startup criou jogo com gatinhos para explicar o valor do blockchain;
– Cultura brogrammer pode ser uma barreira no desenvolvimento de cidades inteligentes;
– Possível candidata à presidência dos Estados Unidos defende a fragmentação das gigantes da tecnologia.

Tecnologia e comida de mãos dadas

A indústria alimentícia tem um grande desafio para os próximos 30 anos. A expectativa é que 10 bilhões de pessoas existam no mundo nas próximas três décadas, o que vai exigir um aumento de, no mínimo, 25% na produção de alimentos. E quais são os papéis da tecnologia nessa jornada? Um é no desenvolvimento de novas fontes de proteína – como à base de plantas e insetos -, embalagens comestíveis e métodos de cultivo. Grandes empresas já têm se movimentado para se aproximar mais de fazendeiros e produtores agroecológicos e garantir maior transparência das pesquisas e inovações ao público. Outro é o uso de machine learning para promover hábitos mais saudáveis aos consumidores e o escalonamento de cozinhas inteligentes para o preparo de diversos pratos de forma autônoma e sob demanda. Mas o desafio mesmo são os desertos alimentares e as altas taxas de obesidade.

“A verdade é que humanos não precisam de inteligência artificial ou de planos alimentares sofisticados para serem mais saudáveis, só precisam de mais frutas e legumes e algum exercício”

Max Elder, líder da divisão de alimentação do Institute for the Future

Entendendo o blockchain através da gamificação

Qual a melhor forma de criar valor para o blockchain? Para a startup Dapper Labs, era reunindo duas coisas favoritas da internet: gatinhos e criptomoedas. Foi assim que nasceu o CryptoKitties, um game desenvolvido para tornar a tecnologia mais acessível às pessoas. O game permite os usuários comprarem um dos gatinhos digitais da geração 0 (zero). Ao adquirir um, é possível procriar e cada filhote gerado possui sua própria característica. Todos esses gatos criados são cadastrados na Ethereum — uma plataforma descentralizada para executar aplicações com a tecnologia blockchain sem a interferência de terceiros — e os donos recebem um token, um ativo digital para provar que cada animal é original. O jogo provou ter dado certo. Com preço entre US$ 1 (R$ 3,81) e US$ 140 mil (R$ 533 mil), já são 1,5 milhão de gatos criados com 25% dos perfis cadastrados conhecendo o blockchain pela primeira vez. Além disso, as operações do CryptoKitties já representaram 25% de todas as transações do Ethereum, sobrecarregando a plataforma e fazendo com que alguns processos mais rápidos demorassem uma semana. Recentemente, a startup recebeu um aporte de US$ 27 milhões.

A falta de diversidade no desenvolvimento de cidades inteligentes

Você já ouviu falar na palavra brogrammer? O conceito foi criado para explicar homens programadores mais “descolados” que fogem do estereótipo do nerd tímido. Embora saibam programar, esse tipo de profissional é visto como alguém com comportamento imaturo, competitivo e hostil. Para Stella Hiroki, fundadora da Smart City Talks, projeto que reúne pesquisas sobre Cidades Inteligentes, essa cultura é uma barreira que impede as cidades de serem inteligentes. “Os projetos de tecnologia que delineiam as cidades são desenvolvidos na maioria das vezes por homens, brancos, ricos e do hemisfério Norte, a chamada Brogrammer culture. Junto a isso, a corrupção que aumenta ainda mais a desigualdade social são os grandes desafios que desaceleram as cidades a se tornarem inteligentes”, reforçou durante debate na SXSW 2019.

Gigantes da tech: mocinhas ou vilãs?

O debate sobre tecnologia tomou um rumo mais introspectivo na SXSW 2019. Um dos questionamentos foi sobre o poder das grandes empresas do setor e o que fazer com ele. Para a senadora democrata Elizabeth Warren, uma saída seria o desmembramento do Facebook, Amazon, Google e Apple em empresas menores. Dias antes do começo do festival, a possível candidata na disputa à presidência norte-americana em 2020 publicou um texto defendendo essa divisão como uma mudança estrutural no setor de tecnologia para promover a concorrência. O assunto logo tomou conta da SXSW, com os fundadores do Instagram, Kevin Systrom e o brasileiro Mike Kireger, discutindo que a ideia não resolveria os problemas das grandes empresas. Outro assunto levantado por Warren foi sobre as consequências do uso da tecnologia. Há uma corrente do “tecnotimismo” nas empresas — quando somente o lado positivo da tecnologia é observado, excluindo o lado negativo — e muitos painéis foram além ao querer avaliar os dois lados de uma inovação por questionar como produtos inovadores poderiam prejudicar o consumidor.

Uma guerra fria cibernética pode começar em breve!

Bruce Sterling, respeitado escritor de ficção científica, acredita que sim. Durante a SXSW, o autor famoso por popularizar o termo cyberpunk argumentou que “as grandes empresas de tecnologia enojam as pessoas, os políticos querem limitar o poder desses negócios [referência à senadora Elizabeth Warren]] e os chineses olham tudo de longe”. Mas, como ele mesmo afirmou, tudo não passa de uma especulação. Ele defendeu que as previsões trazidas em publicações do gênero literário nem sempre se concretizam. “A ficção científica não é realista, é especulativa”, falou. Ele defendeu ainda que esses livros podem estimular pessoas citando Jeff Bezos e Elon Musk como exemplos. “[Musk] quer ser o protagonista da própria história”, afirmou.

O smartphone pode ser o seu pior inimigo

É comum, durante o expediente, pegar o smartphone para verificar as redes sociais e outros aplicativos. Só que os estímulos recebidos por esses programas dificultam evitar a ansiedade. Foi por essa ótica que Brian Solis, futurista e antropólogo digital, conversou sobre o tempo que os usuários passam olhando para a tela do celular. Um colaborador era capaz de ficar focado, em média, por três minutos em uma demanda. Esse número caiu para 45 segundos. Já usuários do iPhone chegam a desbloquear a tela 80 vezes por dia. Para Solis, intercalar distrações com o trabalho causa ansiedade, estresse e afeta a criatividade do indivíduo. Ele aconselhou um exercício de ficar sem utilizar o smartphone por 25 minutos e se dar cinco minutos de intervalo após esse tempo. Mesmo com críticas ao uso excessivo do smartphone, ele enfatizou que a tecnologia é necessária. “Não abrirei mão do meu smartphone. O que precisamos fazer é ter bom senso”.



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