Foi por uma ordem do ex-ministro das Telecomunicações, Sérgio Motta, em 1994, que uma equipe de três técnicos da Empresa Brasileira de Telecomunicações se sentou em uma sala para conectar a ampla população do Brasil ao mundo. Luciano Carino, colaborador da Embratel há 38 anos, estava lá.
“Sabe qual foi a maior dificuldade de trazer a internet para o Brasil? É que não tinha internet!”, conta ele, que agora é um diretor dos mais animados.
Carino quer dizer que não tinha um site de buscas, no qual fosse possível realizar as pesquisas. Não havia e-mails da forma como temos hoje nem a variedade de aplicações existentes atualmente. A rede estava restrita a universidades e poucas empresas ligadas à tecnologia.
A primeira tarefa do grupo foi estudar tudo o que havia a respeito da internet acadêmica para, então, implantar o embrião do NOC – um roteador Cisco 7000. Surge a internet comercial no Brasil, a partir da criação de um backbone, tornando a Embratel o primeiro provedor de acesso discado do País.
“A gente não fazia a mínima ideia do volume que isso ia gerar, não fazia a mínima ideia de quantidade. Os nossos primeiros clientes foram Mandic, UOL… A gente vendia acesso, era o provedor dos provedores.”
Na conta feita pela Embratel, no primeiro ano de internet, a demanda seria de 10 clientes – provedores para acesso. Foram 60. No segundo ano, 300. Isso considerando que, na época, 90% do acesso era direcionado a sites externos.
Técnica
O primeiro link, ativado em maio de 1995 e que permaneceu durante todo o ano inicial da internet no Brasil, era de 384 KB – para a saída inteira do País, dividida entre todos os provedores.
“Para você ter uma ideia, hoje um acesso Wi-Fi simples tem 500 MB. Mas como o computador era mais lento, as pessoas tinham mais paciência ao utilizá-lo. Era até romântico”, ri Carino.
A engenharia consistia na transmissão de dados em intervalos de um canal de voz, pois não existia uma rede única para dados, já que não havia capilaridade para isso. “Naquele momento, a voz é que ia ser perene. Os dados eram uma brincadeira. A gente, nas horas vagas, fazia ‘sisteminhas’ para transmitir poucos dados na rede de voz. Hoje, a ideia foi totalmente invertida. Tudo é dado.”
Por isso, o acesso à internet era uma ligação, chamada de conexão dial-up. No entanto, Carino lembra que a tecnologia do Wi-Fi existe há 40 anos, o que faltava eram dispositivos para que ela pudesse funcionar com todas as suas capacidades.
Linha do tempo da internet
A internet completa 49 anos em 2018. A rede que existe hoje é uma superevolução de um projeto desenvolvido pelos Estados Unidos na década de 1960, durante a Guerra Fria. Para descentralizar as informações nacionais do Pentágono, evitando uma perda irreparável em caso de ataque, foi criada a Arpanet, uma rede de conexão da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada dos Estados Unidos (Darpa).
Essa primeira rede era apenas um sistema de fragmentação e codificação de dados, de modo que os documentos pudessem ser quebrados e divididos em trechos com dados, endereços de destinatários e outras informações que permitiam a remontagem do documento completo. Em 1970, surgiram os protocolos de internet, como o TCP/IP, e em 1974 foi usado pela primeira vez o termo “internet” para uma rede global. Já em 1983 entrou no ar a primeira rede de grande extensão baseada nesse protocolo.
A próxima etapa foi o desenvolvimento da National Science Foundation Network, um conjunto de redes universitárias interconectadas em 56 KB. A partir do Protocolo de Internet, a transmissão de dados entre redes conectadas pelo mesmo IP passou a ser possível, de forma que todos os computadores poderiam navegar pelos arquivos e trocar mensagens. Próximo passo? Surgiram os backbones.
Depois de todas essas etapas, foram os interesses comerciais que propiciaram a popularização da internet. No final dos anos 1980, surgiram os primeiros serviços de correio eletrônico e provedores de conexão dial-up. E, finalmente, em 1992, conhecemos o “www” – a World Wide Web – uma criação do cientista Tim Berners-Lee para que a Organização Europeia para Investigações Nucleares pudesse oferecer a possibilidade de trabalho conjunto e em tempo real aos seus colaboradores. A continuidade disso nos trouxe ao lugar onde estamos hoje, conectados full time em múltiplas plataformas e telas, com um infinito de conteúdos passando diante de nós e sendo oferecido por nós aos outros.