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neoindustrializacao Da esq: Fabrício Silveira, Rosilda Prates, João Paulo Pieroni, Carlos Nazareth Motta Marins, Carlo Pereira e Ariela Zanetta (Foto: Reprodução/ Futurecom)

A neoindustrialização é digital e sustentável, defendem especialistas

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Proposta é que novo ciclo industrial do país seja apoiado pelo uso de tecnologias de ponta



Por Rodrigo Conceição Santos em 09/10/2024

A atividade industrial, que chegou a representar mais de 35% do PIB brasileiro em 1985, viu a sua participação na economia cair ano a ano, até o menor patamar já registrado, em 2023, quando representou apenas 10,8% de toda a riqueza gerada no país. Mundialmente, a participação da indústria nos PIBs também vem caindo, mas em ritmos menores do que no Brasil, e isso tem provocado os setores público e privado a buscarem soluções de competitividade.

O governo federal levantou a bandeira na figura do vice-presidente Geraldo Alckmin – que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços – com a proposta do que chama de neoindustrialização. Em suma, o conceito visa representar a construção de um modelo produtivo mais inovador, sustentável e digital, conforme explicou Rosilda Prates, presidente da P&D Brasil e integrante do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI). Ela e outros especialistas trataram do tema durante o Futurecom 2024.

O novo vem com energia limpa e digitalização

Segundo Rosilda, o prefixo “neo” serve para diferenciar a industrialização atual da fase anterior, marcada pela dependência de processos mais tradicionais e de maior impacto ambiental. “A neoindustrialização visa reposicionar o Brasil na cadeia global de valor, utilizando a tecnologia como o principal vetor de mudança”, definiu.

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Rosilda Prates (Foto: Reprodução/ Futurecom)

Segundo ela, a indústria brasileira tem a oportunidade de ampliar a competitividade global, graças à matriz elétrica, que, atualmente, é mais de 90% renovável. Mas, para isso, precisa não só utilizar, como também prover tecnologia.

Dado o cenário energético, a produção nacional de insumos para tecnologia – incluindo microprocessadores – tem, naturalmente, uma pegada de carbono reduzida, o que a torna atrativa para a industrialização de setores estratégicos. Para ela, isso reforça a ideia de que a tecnologia não é apenas uma ferramenta, mas um diferencial competitivo que pode alavancar o Brasil na economia global.

Linhas de financiamento são fundamentais para a digitalização

João Paulo Pieroni, do BNDES, valida a digitalização e a sustentabilidade como pilares desse novo modelo de industrialização para o Brasil. Segundo ele, o país deve – e está tentando – reverter a desindustrialização com uma base mais avançada e conectada. Como exemplo, ele citou o Plano Mais Produção, apoiado pelo BNDES e que organiza linhas de financiamento focadas em inovação, digitalização e sustentabilidade. “A ideia é que essa política se torne permanente, como o Plano Safra no agronegócio, promovendo o crescimento industrial de forma contínua”, disse.

João Paulo Pieroni (Foto: Reprodução/ Futurecom)

Entre as linhas de financiamento, ele destacou o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), sancionado em 2000, com o objetivo de “expandir o uso e a melhoria da qualidade das redes e dos serviços de telecomunicações”, mas que, de fato, não havia despendido recursos até o ano passado. 

“No entanto, de meados de 2023 para cá, o Fust já financiou quase R$ 800 milhões em projetos, com financiamentos baseados na taxa referencial (TR), que ficaram na faixa de 2% ao ano (abaixo da inflação de 3,83% do ano passado)”, disse Pieroni.

Hermano Tercius, secretário do Ministério das Comunicações e também presente no Futurecom, detalhou em outro painel que há cerca de R$ 2,2 bilhões depositados no Fust, e que esse valor já conta com rendimentos acumulados ao longo das duas últimas décadas. Segundo ele, o MCom está preparando novos editais para aplicação do Fust em crédito para pequenos provedores de telecomunicações, conectividade em escolas e créditos para micro, pequenas e médias empresas do setor de telecomunicações.

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Hermano Tercius (Foto: Reprodução/ Futurecom)

João Paulo Pieroni, do BNDES, destacou também o Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (Funttel), que apoia a produção de máquinas e equipamentos desenvolvidos no Brasil, reforçando a necessidade de inovação na indústria local, assim como o Mais Inovação, voltado para o financiamento de pesquisa, desenvolvimento e digitalização de processos. Este último busca incentivar a criação de plantas pioneiras no Brasil, como a planta de semicondutores da AData, que está recebendo aportes de R$ 290 milhões do BNDES.

IA na neoindustrialização

Além da disponibilidade de recursos e formas de atratividade da indústria para o Brasil, os especialistas presentes em painel dedicado ao tema no Futurecom falaram das soluções necessárias para alavancar esse cenário. Carlos Nazareth Motta Marins, diretor do Inatel, avaliou, por exemplo, que a inteligência artificial tem papel fundamental nisso, mas que depende da coleta e processamento de grandes volumes de dados. “Essa coleta, contudo, depende de dispositivos de internet das coisas (IoT)”, destacou. 

Carlos Nazareth Motta Marins (Foto: Reprodução/ Futurecom)

Segundo Marins, a maioria das empresas brasileiras já automatizou parte de seus processos, como o setor offshore, que monitora quase todos os parâmetros de operação. No entanto, ele argumenta que os dados coletados ainda são subutilizados, servindo para alertar problemas, em vez de permitir ações preditivas. “Redes privativas 5G, associadas à criação de dispositivos IoT desenvolvidos no Brasil, poderiam mudar esse cenário, permitindo o uso eficiente da IA e impulsionando a competitividade industrial”, detalhou.

Neoindustrialização e competitividade global

Para Carlo Pereira, do Pacto Global da ONU, a neoindustrialização também está intimamente ligada às exigências globais de descarbonização e de sustentabilidade. Ele mencionou que o Brasil, com sua matriz energética renovável, já exporta produtos com baixa pegada de carbono, como soja e aço. “No entanto, o país ainda precisa transformar essas vantagens comparativas em vantagens competitivas, especialmente no que diz respeito à transparência e monitoramento da descarbonização”, disse. 

Carlo Pereira (Foto: Reprodução/ Futurecom)

Segundo Pereira, o país precisa se estruturar melhor para enfrentar barreiras tarifárias e regulatórias impostas por outras nações, garantindo que os produtos nacionais cumpram com as exigências ambientais e sociais globais.

Ariela Zanetta, executiva da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de Tecnologias Digitais (Brasscom), reforçou que as tecnologias digitais serão cruciais para aumentar a competitividade do Brasil no cenário global. A neoindustrialização, neste caso, requer investimentos em infraestrutura digital, inovação tecnológica e capacitação da força de trabalho, segundo ela. 

Ariela Zanetta (Foto: Reprodução/ Futurecom)

Ela defendeu também que o desenvolvimento de dispositivos IoT e a digitalização dos processos produtivos serão fundamentais para que o Brasil se destaque na economia digital global.

Em síntese, para Ariela, a neoindustrialização do Brasil é um processo que envolve a integração de novas tecnologias, como a inteligência artificial, IoT e redes 5G, com um modelo produtivo mais verde e competitivo. Nesse sentido, a Brasscom apresentou ao governo federal o Plano Brasil Digital 2030+, que é uma estratégia de longo prazo para promover o desenvolvimento e uso de tecnologias digitais no país, com foco em impulsionar o crescimento econômico e social. “Esse plano visa ampliar a inclusão digital e a distribuição de renda, estimular a inovação, fortalecer a economia digital e aumentar a relevância do Brasil no cenário global”, explicou.

O plano está dividido em quatro ambições: (1) Uso da tecnologia digital para distribuição de renda e inclusão, (2) Crescimento sustentável do PIB, (3) Estímulo à inovação e criação de negócios digitais e (4) Relevância do Brasil no cenário global de tecnologia.

Para medir esses avanços, a proposta é acompanhar indicadores como a participação do setor de TIC no PIB, acesso à internet pela população e competitividade digital em relação a outros países, além da implementação que deve ocorrer com base em seis pilares: infraestrutura, tecnologias estratégicas, pesquisa e inovação, capacitação digital, inclusão social e ambiente de negócios, com governança conjunta entre os setores público e privado.



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