Em um setor destacado por absorver de forma mais rápida e intensa as novas tecnologias, encontrar os casos de uso com benefícios valorizados pelo cliente e retorno à instituição, é um desafio constante. Neste momento, bancos e seguradoras estudam como integrar as redes de automação residencial, monitoramento de ambientes (com câmeras e sensores), telemetria (controladores embarcados em carros, por exemplo) e outros recursos de Internet das Coisas (IoT) em produtos e serviços financeiros.
“Na indústria financeira, o ápice da integração (dos serviços de bancos e seguradoras com as redes de dispositivos inteligentes) depende de outros avanços”, disse Lorena Prado, gerente executiva da Diretoria de Tecnologia do Banco do Brasil, no painel Banking of Things, já ouviu falar? O IoT e o 5G estão por trás, no Febraban Tech 2024. “O ponto central é identificar que conveniência interessa ao cliente”, resumiu Glória Kojima, superintendente executiva da Bradesco Seguros. “Já há modalidades de banking of things, como pagamento de estacionamento e pedágio, que só se percebem quando a tag não funciona. Mas, tecnologia é cara e qualquer iniciativa tem que ser feita com muita racionalidade”, ponderou Marcelo Cavalcante de Oliveira Lima, diretor de Transformação Digital da Huawei para América Latina. “Os avanços em telecomunicações provocam inovação em outros setores. As operadoras estão além das obrigações do edital do 5G, porque outras indústrias trazem demanda”, observou Mariana Abreu, gerente executiva da presidência da Conexis Brasil Digital.
No segmento de seguros, o uso de telemetria tem perspectivas de aplicação tanto em serviços aos clientes quanto em análise de risco e precificação com base em dados capturados continuamente.
“Em uma casa inteligente, o cliente pode autorizar acesso a dados de sensores que acusem um vazamento e a seguradora entra em contato para agendar uma visita do encanador”, exemplificou Glória Kojima. “Os sensores podem captar informações do carro, se está transportando crianças, e até prover dados sobre o estado emocional do motorista. Para isso, é preciso um 5G com cobertura ampla, capaz de enviar os dados para análise”, acrescentou.
Mesmo com as possibilidades tecnológicas, Kojima reconhece que é difícil definir os casos de seguros sob demanda. “Para bancos e seguradoras, IoT e 5G podem gerar fontes de receita. Tudo depende da adesão do cliente”, afirmou.
O diretor da Huawei, que até o final do ano passado trabalhava em banco, recomendou muito critério na prospecção tecnológica. “O mercado recebe as inovações de forma muito ávida e isso é necessário. Mas, é preciso discernimento. A Huawei já trabalha com 6G, mas o 4G já atende a muitas das atuais aplicações. Se eu quiser consumir streaming de vídeo, só vou precisar de 5G se resolver baixar o filme na hora de entrar no avião”, ironizou.
Mariana Abreu lembrou que o 5G chegou a 5 milhões de acessos em dois anos, com cobertura de 138 municípios (que incluem cerca de 60% da população), enquanto o 4G levou quatro anos para chegar a 159 cidades. “Com a pandemia obrigando a dezenas de milhões a usar canais digitais e depois o PIX, alavancamos o já digitalizado setor financeiro”, mencionou.
Entre as características do 5G, ela aponta que a capacidade de cobrir uma maior quantidade de dispositivos (1 milhão por Km2, contra 100 mil do 4G) é a inovação mais relevante para as aplicações de IoT no setor financeiro. “Latência e largura de banda não fazem tanta diferença”. Na prática, passar de 1,5 segundo com 4G para menos de 1 segundo com 5G pode afetar uma automação, mas é imperceptível na transmissão de dados para análise.
“Já há estudos sobre Internet de Comportamentos. Quando falamos de atendimento virtual, a baixa latência faz diferença”, anteviu Lorena Prado. Ela vê setores como Saúde e Agricultura com casos de uso mais consolidados. Ela também observou que, junto a dados dos ambientes de serviços financeiros, como câmeras e sensores das agências, a IoT pode, por exemplo, revelar informações sobre a família para oferta de seguros ou crédito escolar. “Mais do que banking of things, temos que pensar nos ecossistemas que se compõem na vida digital”, concluiu.
Glória Kojima destacou as preocupações com segurança. “A forma de os dispositivos se autenticarem e as possíveis modalidades de fraude são questões a se trabalhar”.
“Temos que ser rápidos na discussão e na criação de regras. Com o ritmo da evolução, há o risco de os mecanismos de segurança já surgirem desatualizados”, advertiu Mariana Abreu.
IoT em serviços financeiros: muitos prêmios e poucos resultados
Frequentadores de muitas edições anteriores da Febraban Tech, desde o tempo em que o evento se chamava Ciab, os painelistas fizeram uma breve retrospectiva bem humorada de iniciativas promissoras, que caíram no esquecimento ou são ignoradas pelos mais novos no mercado.
“Em stands altamente concorridos, já vimos bancos investindo em aplicações para set top boxes de TV digital. As iniciativas renderam mais premiações do que usuários, mas criou massa crítica para desenvolvimento de aplicações interativas”, disse Marcelo Lima.
“Há 7 anos, o Banco do Brasil lançou uma pulseira com chip para pagamentos. A iniciativa não deu certo, mas ajudou a chegar nas wallets mobile e em smart watches”, lembrou Lorena Prado.