Jornada de transformação digital da Rosas de Ouro começou há um ano. Desfile terá app e outras tecnologias para levar experiência digital ao público.
O Carnaval 2020 começa oficialmente nesta sexta (21), e, como temos visto, a tecnologia novamente terá o seu destaque em meio a tantas cores e sons. Se em 2019, o Mundo + Tech abordou as tecnologias que garantiram a segurança dos foliões, neste ano, o site detalha a jornada de transformação digital de uma escola de samba.
Sim, pode parecer uma combinação meio peculiar: arte e tecnologia. Mas, se depender da Sociedade Rosas de Ouro, essa parceria vai durar por muitos anos.
A agremiação vai apresentar no Sambódromo do Anhembi um enredo baseado nas revoluções industriais: desde a primeira, entre os séculos 18 e 19 até a que estamos vivendo hoje e que chamamos de Indústria 4.0.
Porém, esse desfile não ficará apenas no mundo analógico. Ele contará com experiências digitais baseadas em tecnologias como IoT, Inteligência Artificial e Realidade Aumentada. São interações que, dentro e fora do Anhembi, todos poderão acompanhar.
E isso só foi possível porque essa jornada de transformação digital da Rosas de Ouro contou com diversos atores parceiros: Universidade de São Paulo (USP), Centro Universitário FEI, Instituto Mauá de Tecnologia, GS1 Brasil, entre outras empresas privadas que viram com esse projeto uma oportunidade para ampliar e popularizar a discussão sobre tecnologia e inovação no Brasil.
“A questão era encontrar um veículo que pudesse disseminar essas ideias. Foi assim que, por meio de contatos com pesquisadores de outras universidades e empresas, chegamos à Rosas de Ouro. Agora temos a oportunidade de falar sobre o maior desafio da humanidade, na maior festa do planeta”, disse o pós-doutorando e pesquisador do Grupo de Automação Elétrica em Sistemas Industriais (Gaesi) da USP, Elcio Brito, ao Jornal da USP.
Na última terça-feira (18), a escola e as empresas parceiras realizaram um evento no inovabra Habitat, centro de inovação em São Paulo, para contar o histórico desse projeto.
A jornada de transformação digital da Rosas de Ouro
Foi na Quarta-feira de Cinzas de 2019 que a Rosas de Ouro recebeu a sugestão de criar um enredo sobre a tecnologia. A ideia, de início, parecia surreal.
“Tem que ter coragem para falar de tecnologia [em um enredo de escola de samba]”, destacou Angelina Basílio, presidente da Rosas de Ouro. “Foi um grande desafio, mas trouxemos a tecnologia para dentro da escola. Estou feliz com o resultado.”
No espaço de tempo entre um Carnaval e outro, a Rosas de Ouro recebeu as empresas parceiras para entender os impactos da Indústria 4.0. e como a arte iria “demandar” soluções para fazer uma apresentação única e interativa no sambódromo.
O projeto foi configurado em três fases:
- Primeiro momento: início do projeto com a contextualização da Indústria 4.0 e a apresentação dos benefícios da tecnologia em geral.
- Segundo momento: trabalho colaborativo e multidisciplinar para juntar a parte artística e as tecnologias que poderiam apoiar o desfile, levando em conta o que o regulamento da competição permitia. Essa reportagem do UOL mostra como foi a relação entre a academia e a escola.
- Terceiro momento: o dia do desfile, no qual voluntários do projeto serão os responsáveis por proporcionar as experiências digitais desenvolvidas para a escola de samba.
As tecnologias que a Rosas de Ouro vai utilizar
O projeto da Rosas de Ouro vai levar uma ampla arquitetura de hardware e software ao Anhembi, além da equipe que citamos acima para que tanto o desfile físico, quanto o virtual ocorram sem problemas.
Para ter a melhor experiência possível, o público que for acompanhar o desfile deverá baixar o aplicativo Carnaval 4.0, desenvolvido para a escola e disponível para os sistemas operacionais Android e iOS. Entre as funcionalidades, estão:
- Recurso de realidade aumentada (no melhor estilo Pokémon GO), em que você pode tirar foto com o ROXP4 — o robô-mascote do enredo “Tempos Modernos” da escola — ou até mesmo gravar um vídeo dele ensinando a sambar.
- A possibilidade de conferir detalhes de cinco carros alegóricos da escola (também fazendo uso da realidade aumentada). Entre elas uma passista de quase dois metros de altura.
- Leitor de QR Code para, durante o desfile, conferir virtualmente um sexto carro.
- Quiz sobre o que é a Indústria 4.0.
- Filtros para tirar fotos e postar nas redes sociais.
Já durante a apresentação, as tecnologias que estarão presentes serão:
- 2 antenas de rede de celular privada.
- 250 smartbands.
- 2 mil chips de RFID.
- 8 portais de RFID.
- 6 robôs colaborativos.
- 3 infraestruturas de servidores em nuvem.
- 1 estação de monitoramento.
Rede de celular privada e servidores em nuvem
Para garantir uma boa experiência de usuário e da escola, os participantes do projeto precisaram pensar em uma infraestrutura que comportasse a conexão entre todas essas tecnologias. Até porque, no Sambódromo, não há Wi-Fi com alcance para todo percurso.
Então, como garantir conectividade? O primeiro passo foi criar uma tecnologia de banda móvel em nuvem para ser distribuída nas Estações Rádio Base (ERBs). É uma forma de levar conexão para os usuários dos aplicativos e profissionais que irão monitorar o desfile.
Smartbands e RFID
Vários integrantes irão desfilar com um vestível no pulso. A ideia é monitorar batimentos cardíacos, passos, entre outros dados, que serão processados em tempo real na nuvem e enviados para o aplicativo Carnaval 4.0. Assim, usuários poderão conferir as “emoções” de quem está no circuito.
O projeto também quer utilizar os dados de alguns integrantes da escola para comparar com o desempenho de esportistas de alta performance e gerar estudos de caso no futuro.
Já as etiquetas RFID serão usadas para diversos propósitos. Um é a possibilidade de os usuários apontar e ver uma passista sambando no desfile. Já os chips que irão nas fantasias vão servir para monitorar se elas serão devolvidas após o fim da apresentação para que tenham o destino correto, como a reciclagem.
Além disso, com as ERBs, as etiquetas vão mostrar para os diretores de harmonia se as alas estão adiantadas ou atrasadas no trajeto – que tem 530 metros e pode durar somente 65 minutos. É uma forma de organizar as 31 composições para reduzir erros e evitar penalidades na apuração que irá definir a escola campeã.
Jornada de transformação digital que quer ser legado
Embora a jornada de transformação digital da Rosas de Ouro tenha começado há um ano, o projeto deve continuar após o desfile de Carnaval. O objetivo é aproximar cada vez mais a comunidade da tecnologia e capacitá-la para gerar novas oportunidades de renda.
Por fim, a Rosas de Ouro vai fechar o Carnaval 2020, mas, ao mesmo tempo “abrir o Carnaval dos próximos anos por conta da inovação”, garantiu Angelina. E se depender da mesma experiência que a presidente teve com realidade aumentada, os próximos anos serão “mágicos”.
A Rosas de Ouro é a última escola a se apresentar no Carnaval de São Paulo, às 5h10 da madrugada de sábado (22) para domingo.
Confira o enredo do Carnaval 2020 da Rosas de Ouro:
Principais destaques desta matéria:
- Rosas de Ouro vai criar uma experiência digital durante o desfile.
- Projeto, em parceria com instituições públicas e privadas, usa realidade aumentada, Inteligência Artificial e IoT.
- Aplicativo para iOS e Android foi desenvolvido para trazer novas interações, entre elas, o ROXP4, o robô-mascote da escola;
- Jornada de transformação digital da Rosas de Ouro começou há um ano.
- Enredo falará sobre todas as revoluções industriais e a Indústria 4.0.