Por Renato Cruz, jornalista especializado em tecnologia e inovação
Tecnologias que eram consideradas tendência em edições anteriores do CIAB FEBRABAN, maior evento de tecnologia para o setor financeiro da América Latina, começam a ser integradas ao dia a dia das instituições bancárias.
Inteligência Artificial, Internet das Coisas e Blockchain foram destaque durante o evento, com aplicações que se tornam cada vez mais presentes na vida de empresas e consumidores.
Inteligência Artificial
Nos últimos anos, a Inteligência Artificial vem sendo aplicada com sucesso no atendimento a clientes, tanto em comunicação de voz quanto bate-papo via internet.
Existem outras três áreas, menos visíveis ao consumidor, em que a tecnologia deve ser cada vez mais adotada: personalização de produtos e serviços, automação de processos e segurança.
Durante painel no CIAB, Beatriz Sanz Saiz, sócia líder global de Analytics da EY, destacou a importância da qualidade dos dados com que a inteligência artificial vai trabalhar.
Guillermo Kopp, diretor de Serviços Financeiros da Microsoft, afirmou que a empresa tem como objetivo incluir inteligência artificial em cada aplicação.
Um ponto importante, ressaltado por ambos palestrantes, foi o uso ético da inteligência artificial.
As pessoas precisam saber, de maneira clara, como suas informações estão sendo usadas, e as empresas precisam ter como se assegurar de que os sistemas adotados por elas respeitam a legislação e as regras de governança.
Internet das Coisas
A Inteligência Artificial é alimentada por dados, e vivemos um momento de crescimento exponencial das informações disponíveis, graças à expansão da internet das coisas.
O avanço dos sensores e objetos conectados cria uma oportunidade imensa para aplicações. A chegada da quinta geração das comunicações móveis (5G), prevista para o ano que vem, deve trazer ainda mais força a esse mercado.
A casa conectada torna-se cada vez mais acessível. Hoje é relativamente fácil conectar, por exemplo, lâmpadas inteligentes a uma caixa de som equipada com a assistente de voz Alexa, da Amazon.
Em serviços financeiros, um consumidor pode permitir que a seguradora acesse as informações de seu carro conectado, para demonstrar que dirige de forma responsável e, assim, baixar o valor do seguro.
Eduardo Polidoro, diretor de negócios de IoT da Embratel, mostrou como a adoção de internet das coisas na agricultura pode trazer benefícios às instituições financeiras.
Com sensores, é possível acompanhar a situação de uma safra para a qual o agricultor recebeu empréstimo. Ou garantir a localização de uma máquina financiada. A tecnologia também permite comprovar o volume de produto estocado em silos agrícolas. Essas aplicações trazem mais segurança e devem incentivar o agronegócio.
Blockchain
Foi anunciada durante o CIAB a Rede Blockchain do Sistema Financeiro Nacional, a primeira do setor a adotar a tecnologia. A aplicação inicial chama-se Device ID, um sistema para que os bancos consigam compartilhar informações sobre celulares que possivelmente estão sendo usados em fraudes.
O blockchain é a tecnologia que serve de base para criptomoedas como o bitcoin. Ela permite o registro de informações num modelo distribuído, que reduz custos e aumenta a agilidade e a segurança. Inicialmente, nove instituições participam da rede, mas a expectativa é que esse número suba nos próximos meses.
Implementada pela Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP), a rede deve ser usada futuramente tanto para compartilhamento de informações como para transações entre os bancos.
Além da rede, bancos brasileiros têm projetos individuais de blockchain.
Fator humano
Tecnologias como Blockchain, Inteligência Artificial e Internet das Coisas tornam as instituições financeiras mais eficientes, melhoram o atendimento ao cliente, reduzem o risco e combatem as fraudes.
Nesse cenário de mudanças aceleradas, o grande desafio é engajar pessoas e atualizar processos. Um dos painéis do CIAB discutiu como os bancos podem se tornar mais ágeis, parecidos com startups.
A conclusão foi de que a questão não é tecnológica.
“As pessoas oferecem resistência à mudança quando não entendem, quando não se sentem parte do processo ou quando não acreditam nele”, resumiu Walkiria Schirrmeister Marchetti, diretora de Tecnologia da Informação do Bradesco. “É importante preparar as pessoas.”
Renato Cruz é jornalista especializado em tecnologia e inovação. Foi colunista do jornal O Estado de S.Paulo. Hoje é editor do site de notícias inova.jor. Ele acompanhou as palestras do segundo dia do CIAB FEBRABAN a convite da Embratel.