conectividade no agro Celso Macedo (Foto: Divulgação)

Conectividade no agro ainda é desafio no Brasil

4 minutos de leitura

Avaliação é de Celso Macedo, Diretor Geral da Farmers Edge para a América Latina, que falou sobre soluções para digitalização no campo



Por Nelson Valêncio em 20/08/2024

Dona de uma plataforma de dados focada na digitalização do plano de safra dos agricultores, a canadense Farmers Edge quer avançar no Brasil. Para o Diretor Geral para a América Latina (LATAM), Celso Macedo, um dos desafios ainda é a conectividade no campo. Ele também destaca a sustentabilidade como conceito-chave do negócio. Nessa entrevista, o executivo detalha como a empresa participa desses processos. Acompanhe.

Qual sua visão da agricultura digital?

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A agricultura digital está em crescimento contínuo. A tecnologia tem se tornado mais acessível e a adoção de soluções digitais tem aumentado. Há ainda uma pequena parcela de agricultores que são reticentes, mas a tendência é de que a digitalização continue a se expandir.

Existe uma integração entre diferentes plataformas de agricultura digital?

Sim. No nosso caso, trabalhamos com APIs que permitem integrar informações de diferentes plataformas. Por exemplo, temos um acordo global com a John Deere, que nos permite integrar dados em diferentes sistemas. A tecnologia está avançando e a interoperabilidade entre plataformas é cada vez mais comum.

Por falar nisso, qual é a metodologia da Farmers Edge no agronegócio?

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Foto: Reprodução/Farmers Edge Brasil via Instagram

Temos uma plataforma completamente integrada, com conjunto de soluções de coleta, processamento, análise, visualização e uso de dados de fazendas, que ajudam na tomada de decisões dos agricultores. Uma delas é a captura de imagens de satélite, por meio da qual o agricultor tem acesso a informações de satélites públicos, com frequência semanal, e também de satélites privados, que oferecem fotos diárias com melhor resolução. Trabalhamos também com soluções de Clima, Telemetria, Fertilidade e Sustentabilidade, fazendo cálculo de emissões de carbono por hectare de cultivo. Tudo isso visa aumentar a eficiência operacional do agricultor no campo, extraindo mais valor de sua propriedade rural.

Vocês têm uma rede de estações meteorológicas próprias. Por que?

Elas complementam a parte de coleta de imagens e são instaladas em nossos clientes, cujo perfil é de agricultores com no mínimo 1.000 hectares, embora alguns com cerca de 500 hectares também possam ter a instalação de uma estação. Além disso, contamos com o apoio do “The Weather Channel”, que ajuda a captar informações climáticas e a fazer o cruzamento com as nossas estações para obter dados mais precisos.

Como funciona a estrutura das suas estações meteorológicas?

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Foto: Reprodução/Farmers Edge Brasil via Instagram

Nossas estações são completas. Elas calculam pluviosidade, previsão do tempo para 10 dias, e também para 30 a 60 dias, embora com menor precisão. Elas fornecem informações sobre vento, possibilidade de incêndios e momentos adequados para pulverização de agroquímicos. Combinando essas informações com imagens, podemos fazer cálculos diários de predição de produtividade dos cultivos instalados.

Pode explicar melhor?

Claro. Por meio da captação de imagens de satélite e das estações meteorológicas, e utilizando nossos algoritmos desenvolvidos e treinados, conseguimos prever, diariamente, a quantidade de sacas a ser produzida em um hectare, ajustando os números conforme as condições climáticas. As condições mudam diariamente, podendo ter uma chuva de granizo, um veranico, qualquer coisa, alterando os cálculos preditivos. Tudo isto é colocado na plataforma FarmCommand, onde nossos dados são armazenados. Estes ajustes são feitos diariamente e, por meio de cálculos, podemos prever como será a colheita futuramente.

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Imagem: Reprodução/Farmers Edge

Os equipamentos de campo também são considerados?

Sim, dentro de um pacote que inclui os dispositivos telemáticos instalados nos tratores e outras máquinas, captando dados como velocidade, consumo de combustível, entre outros. Isso permite ao agricultor monitorar as máquinas em tempo real e ajustar operações para aumentar a eficiência. É uma espécie de “Big Brother” do campo, pois é possível orientar o operador de máquinas e controlar a velocidade do equipamento, reduzindo, por exemplo, a perda de sementes no solo, na etapa de semeadura e/ou colheita.

Quais outras informações são coletadas?

Imagem: Reprodução/Farmers Edge

Usamos informações de satélites para mapear características do solo e direcionar a coleta de amostras e análises de solo de maneira mais precisa, o que permite uma fertilização variável, ajustando a quantidade de fertilizante conforme a necessidade de cada área. Isso é feito em nível de talhão, ou seja, a área que representa uma unidade mínima de cultivo. Esse processo tradicionalmente é feito pelos agrônomos, mas pode ser mais preciso e podemos monitorar a amostragem em função de características físicas dos lotes. A fertilização será maior em áreas de maior demanda e menor nas que exigem menos. O quinto pilar da plataforma envolve o cálculo de emissões de carbono.

Como é isso?

Fazemos as avaliações em cultura de soja por hectare, num processo que desenvolvemos internamente e temos tido conversas com a Embrapa visando suportar o projeto identificado por eles como “Soja de Baixo Carbono”. A ideia é que, no futuro, isso ajude a definir preços mais justos para as culturas, com base na sustentabilidade.

Os agricultores têm adotado essas soluções no Brasil?

Aproximadamente 60% dos nossos clientes utilizam o pacote completo. Agricultores que têm uma visão empresarial já estão investindo nessas tecnologias. A agricultura digital está se tornando padrão e muitos agricultores menores estão adotando a tecnologia por meio das cooperativas.

E quanto à conectividade, como isso impacta o trabalho?

Conectividade é essencial. Com menos de 30% da área agrícola do Brasil coberta, é importante ter uma boa rede para acessar e gerenciar dados em tempo real. Em áreas remotas, a conectividade pode ser um desafio, e é necessário montar redes específicas para gerenciar grandes volumes de dados.

Por falar nisso, vocês são parceiros da Claro e da Embratel. Pode explicar o funcionamento do trabalho conjunto?

A Claro e a Embratel têm uma parceria importante com a Farmers Edge. A Claro está envolvida em vários projetos de conectividade e tem buscado entrar no agronegócio para expandir seu espectro de clientes. A Farmers Edge tem contribuído bastante neste processo para o entendimento e entrada da Claro no agro. Já a Embratel, por sua vez, ajuda a oferecer uma gama completa de soluções para empresas parceiras, permitindo negociações maiores e mais robustas das Soluções Farmers Edge.

Quais são os planos futuros para a cobertura de clientes?

Atualmente, atendemos 300 clientes e devemos fechar o ano com cerca de 1 milhão de hectares. Até 2030, nosso objetivo é alcançar 8 milhões de hectares, através das parcerias com Claro e Embratel, entre outras. Também estamos colaborando com a Sicredi e empresas de seguros para suportar o financiamento agrícola e a mitigação de riscos de seguros.

A sustentabilidade entra como nessa equação?

Ela é um aspecto crucial. Nossa plataforma e as parcerias que a Farmers Edge mantém ajudam a promover práticas agrícolas mais sustentáveis e eficientes. A evolução constante da tecnologia é fundamental para o sucesso e a eficiência na agricultura.



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