Com mais de dois dispositivos digitais por habitante (462 milhões de dispositivos), sendo que 249 milhões são smartphones, os brasileiros não parecem carecer de digitalização. Os dados são da Fundação Getúlio Vargas, publicados no ano passado, e o diagnóstico de que estamos digitalizados foi de comum acordo entre Luiza Trajano, da Magazine Luiza; Rodrigo Marques, Chief Strategy Officer da Claro; e Mate Pencz, co-fundador e CEO da Loft; durante o Web Summit Rio 2024.
“O Brasil está bem desenvolvido na parte digital. Temos um número grande de dispositivos. O que precisamos é dar acesso a mais coisas que o digital pode oferecer. Temos tantos aplicativos culturais, de educação, e precisamos desenvolver isso”, disse Luiza.
Quando abrimos as redes sociais, segundo Pencz, da Loft, a impressão realmente é de que não falta acesso. “O que falta é educação básica e educação financeira”, na visão dele.
No mercado imobiliário, onde atua, o executivo entende que é preciso proporcionar esse tipo de educação visando a obtenção de crédito e a consequente inclusão habitacional. “Proporcionando a educação financeira, acredito que cada vez mais a gente consiga ofertar e personalizar as transações imobiliárias. Isso vai proporcionar uma onda de prosperidade que talvez a gente nunca tenha passado”, avaliou.
Igualdade digital
Os comentários de Luiza e Pencz estão, para Rodrigo Marques, da Claro, sob o guarda-chuva da igualdade digital. “Trabalhamos muito nisso. Atendemos uma grande parcela da população brasileira com a nossa rede de telefonia móvel e temos desenvolvido produtos para atender as necessidades dos diferentes tipos de clientes. O Claro Free é um exemplo, por ser um produto de comunicação móvel que não tem mensalidade e no qual replicamos, em partes, o modelo de TV aberta, ao permitir que todos possam assistir vídeos sem necessitar de um plano pago para dados”, disse.
Presente em todo o país, a Claro tem dois papéis no cenário digital, segundo Marques. O primeiro é o de habilitador, na medida que, como empresa de telecomunicações, fornece a conectividade necessária para todo o ambiente digital. “E nesse aspecto, investimos, nos últimos três anos, R$ 30 bilhões para ampliar essa conectividade”, disse.
O outro papel da empresa é avançar na sua própria transformação digital. Isto também tem papel social, pois, dado o seu tamanho, as suas ações influenciam grande parcela da sociedade. “Esse processo tem de ser feito com muito cuidado, para não interferir no primeiro ponto (conectividade). Portanto, chamamos esse segundo desafio de ‘além do core’ e, geralmente, as ações vão ao encontro com o propósito de ajudar os nossos clientes”, completou.
Cliente no centro
Também pensando na facilidade do cliente – que se tornou o centro das estratégias corporativas – a Magazine Luiza lançou o primeiro serviço de nuvem brasileiro que, segundo Luiza, é mais barato e visa atender as pequenas e médias empresas. “A Magazine Luiza nasceu física e, talvez, seja uma das poucas empresas do mundo que, após décadas de atividade, entrou no digital para aprimorar a facilidade ao nosso cliente”, disse.
A inteligência artificial generativa deve provocar grandes mudanças. “Temos uma das maiores influenciadoras digitais do mundo, a Lu. Ou seja, já usamos inteligência artificial há muito tempo. A diferença, agora, é que a inteligência artificial generativa inclui conteúdos e imagem”, disse.
IA generativa
No caso da Loft, que já nasceu como uma plataforma digital no mercado imobiliário, Pencz elaborou que a inteligência artificial generativa tem ajudado a reduzir o lead time dos processos imobiliários. “Hoje, as pessoas conseguem encontrar o lar desejado, aprovar crédito, pagar no cartão de crédito diretamente. Com isso, processos que demoravam meses, agora são feitos em poucos dias, ou até horas”, disse.
Em outras palavras, Pencz resumiu que a ascensão de tecnologias de IA têm acelerado os processos e proporcionado inclusão, principalmente na base da pirâmide financeira, graças a esse aumento de capilaridade/alcance.
No caso da Claro, disse Marques, a IA generativa permite, principalmente, melhorar a experiência do cliente, à medida que possibilita mais personalização. “Com a IA, podemos personalizar em escala e isso se reflete em um salto de qualidade”, explicou.
Para clientes corporativos, que são atendidos pela unidade B2B do grupo, a Embratel, há desenvolvimentos como o Claro Geodata, que melhora a produtividade e reduz custos operacionais. “Temos grande expectativa que a IA generativa vai ampliar esses resultados. Hoje, temos vários testes no mercado, mas entendo que ainda em fase inicial. Porém, em breve, devemos experimentar uma expansão dessas aplicações, e isso vai mudar o ambiente de negócios”, previu.
Para o futuro, portanto, Marques indica a necessidade de um ambiente de negócios propício à inovação, o que, novamente, exige educação. “São as pessoas que criam inovações. Por isso, precisamos propiciar que elas estejam preparadas e tranquilas para tentar, errando e acertando, para inovar”, disse.
A motivação para que as empresas invistam nessas oportunidades, na visão de Luiza, pode ser encontrada no próprio cenário do Brasil, que ainda tem muito a progredir. “Apenas 10 milhões de residências têm ar condicionado e temos um déficit habitacional enorme”, disse. “A nossa maior luta [portanto] vem do desenvolvimento econômico. Precisamos ter um plano no Brasil no qual educação, saúde e moradia devam ser de acesso de todos. E só a sociedade civil unida conseguirá alcançar isso“, concluiu.