A tecnologia de telefonia de quinta geração (5G) já chegou de fato no Brasil, mas o ecossistema que envolve instituições financeiras, operadoras de telecomunicações e clientes corporativos e residenciais, entre outros, está em pleno desenvolvimento.
O estado atual de cobertura do 5G e seu potencial em serviços financeiros foi o principal tema do painel O 5G já chegou, moderado por Gustavo Paul, diretor adjunto de Comunicação da Febraban. Além dele, a discussão envolveu Marcos Ferrari, presidente executivo da Conexis Brasil Digital, Júlio Volpp, vice-presidente de varejo da Caixa, e Débora Bortolasi, diretora-executiva de B2B da Vivo.
Ferrari destacou que o 5G não envolve apenas aumento de velocidade em relação ao 4G, mas abre a perspectiva para uma infinidade de aplicações, inclusive no mercado financeiro. “Há 12 anos, quando o 4G foi implementado, nós não tínhamos aplicações de bancos como temos hoje”, argumenta. Para ele, setores mais preparados digitalmente ou que usam bastante os recursos, caso de alguns segmentos do agronegócio e grande parte do setor financeiro, estão entre os exemplos.
Uma oportunidade lembrada pelo executivo é o monitoramento e controle de ervas daninhas no campo. Com o 4G atual, o tempo médio para analisar uma propriedade padrão envolve 12 horas, mas pode ser reduzido em 75% com 5G.
O executivo lembra ainda que o 5G, em dez meses, chegou uma cobertura de 9 milhões de pessoas conectadas, enquanto o 4G levou dois anos para atingir isso. A implementação, porém depende de infraestrutura e ele vê uma barreira na legislação municipal, que regula a instalação de antenas – considerada obsoleta.
Ele também lista a infraestrutura como um dos cinco desafios que a tecnologia enfrenta atualmente. O segundo é a necessidade de uma reforma tributária, uma vez que o Brasil tem a segunda maior carga do mundo em serviços de telecomunicações.
A mão de obra qualificada é o terceiro gargalo apontado por Ferrari, uma vez que o novo universo de recursos, incluindo big data, exige conhecimento especializado. O quarto gargalo é a demanda, porque sem ela não haverá movimentação de mercado e está ligado ao quinto fator, que é a necessidade de políticas públicas para incentivar o uso de 5G na população de menor renda.
Já Débora, da Vivo, reforça que os números atuais do 5G envolvem todas as capitais, cidades acima de 500 mil habitantes e agora caminha para as de 250 mil. No total, são 109 cidades que concentram cerca de 40% da população urbana brasileira.
Esse avanço depende de ecossistema como os smartphones – números atuais falam em pelo menos 90 modelos homologados – mas atualmente pelo menos 22% da base de clientes de pós pago tem dispositivos habilitados para isso. A performance média chega a 400 megabits por segundo, mas há picos de 1 gigabit por segundo, ou seja, praticamente dez vezes a velocidade atual do 4G.
A executiva chama a atenção para o potencial de cocriação, com vários parceiros que fazem parte do ecossistema, abrindo a frente para vários mercados, que vão de óleo e gás ao varejo.
“Temos casos reais de aplicação em fábricas, onde pode-se monitorar a segurança dos trabalhadores, usando câmeras para verificar se estão usando os equipamentos de proteção individual e, em caso negativo, parar a operação e corrigir isso”, detalha.
A jornada do 5G em bancos também está sendo apoiada por uma iniciativa da GSA, organização mundial do setor de telecomunicações, para desenvolvimento aberto de uso de interfaces de aplicação de programação (API) que deve ajudar a modelar novos negócios voltados ao setor.
Padronização e segurança
Além de padronização, a iniciativa vai agregar ainda soluções de segurança, como recursos que identificam se determinado usuário trocou seu SIM card. No Brasil, Débora destaca o desenvolvimento de provas de conceito (POC) entre julho e setembro desse ano, dentro dessa iniciativa.
Para Volpp, da Caixa, o 5G potencializa a distribuição de serviços que o banco tem atualmente. Hoje, a rede física com 26 mil pontos de atendimento, inclusive agências bancárias montadas em caminhões e barcos, se amplia. O executivo aposta num modelo figital e acredita em uso cada vez maior de aplicativos, pois a quinta geração pode agregar mais uso pelos novos padrões de segurança.
O vice presidente da Caixa destaca que o banco estatal tem metade dos seus clientes sem uma experiência digital significativa. Ele acredita no 5G para amplificar e personalizar serviços com segurança para quem já desfruta de algum serviço digital. A quinta geração também poderá favorecer a outra metade, ao complementar a jornada física dos clientes menos assistidos, com mais serviços.