Agricultura 4.0 pede colaboração entre universidade e iniciativas privadas para que pequenos produtores consigam inovar e escalar seus negócios.
A tecnologia tem tido um papel cada vez mais relevante em diversas cadeias produtivas. No agronegócio, por exemplo, a Internet das Coisas (IoT) já mostra o potencial aos agricultores ao conseguir antecipar as decisões, baseadas em dados, com o intuito de melhorar os negócios.
Mesmo assim, essa cultura de inovação no agronegócio é ainda um desafio. Tanto que a transformação digital no setor foi tema do Summit Agronegócio Brasil 2019, evento realizado na segunda semana de novembro em São Paulo.
A Agricultura 4.0, como é chamada pelos especialistas, consiste em usar tecnologias que vão escalar os negócios do setor. Inteligência Artificial, Machine Learning, Big Data e, claro, IoT são algumas das várias soluções que vão ajudar os produtores a garantirem as melhores práticas.
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Embora a adoção dessas tecnologias seja mais comum em grandes agricultores, pequenos e médios ainda não conseguem integrá-las aos negócios, apontou Otávio Celidonio, superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR-MT).
“Agricultura 4.0 é um processo de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D). Tem o desenvolvimento de tecnologias, mas também tem erros [até a validação do modelo]. O pequeno produtor não está capitalizado o suficiente para absorver essas falhas”, pontuou.
O cenário ideal, acredita Celidonio, é a criação de políticas públicas para acelerar a adoção de tecnologias nos negócios de pequenos produtores. “Enquanto isso, o mercado vai produzir soluções para esse público, mas não agora, já que o foco está nos grandes produtores”, afirmou.
Quem concorda com Celidonio é Lúcio André de Castro Jorge, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). “Além das políticas públicas, é preciso também treinamento para difundir essas tecnologias em massa aos pequenos produtores”.
Segundo o pesquisador da Embrapa, a entidade trabalha, em parceria com uma fabricante de chips, no desenvolvimento de uma tecnologia que será embarcada em drones. “Ainda falta virar produto, mas ela vai ser capaz de minimizar o custo da solução para o pequeno produtor”.
Agricultura 4.0 é um processo multidisciplinar
É fato que não há inovação no agronegócio sem conectividade. Se antes a comunicação no campo acontecia via satélite, hoje as redes móveis são essenciais para garantir a conectividade dos agricultores e também dos dispositivos de Internet das Coisas.
Como afirmou Eduardo Polidoro, diretor de negócios de IoT da Claro, a Agricultura 4.0 para o pequeno e médio agricultor é um tema em alta. “A grande pergunta que devemos fazer é: como fazer para impulsionar a competitividade desses produtores?”.
Para o executivo, fornecer conectividade e soluções como serviço é uma forma de pequenos agricultores adotarem a inovação. “Isso pode acontecer se você oferece conectividade sem custo de instalação, por exemplo, e associada a outro serviço como gestão de fazenda”, comentou.
Além da conectividade, a Agricultura 4.0 só será escalável quando as tecnologias forem validadas pelos pequenos agricultores. Em outras palavras, quando os agricultores conseguirem ou enxergar ou extrair algum valor dessas tecnologias.
Por isso, Sérgio Marcus Barbosa, gerente executivo da incubadora EsalqTec, defende a aproximação com as associações e cooperativas locais.
“São elas que vão comprar a tecnologia e validá-la com os pequenos agricultores. Mas para isso acontecer é preciso uma interface entre pesquisa e inovação. É fazer com que o projeto de uma universidade se torne um serviço para esse público”, sugeriu Barbosa.
Essa aproximação com a academia também deve ser vista como forma de levar o conhecimento aos agricultores, acredita Otávio Celidonio, do SENAR. “Talvez qualificá-los seja um desafio ainda maior que o investimento em conectividade. Qualificar exige uma mudança de cultura e ela acontece a longo prazo. Mas isso é necessário para conectar esses profissionais à tecnologia”.
Outro ponto defendido pelos participantes é que nenhum ator do ecossistema de inovaçãoconsegue resolver só os problemas do agronegócio. “Tem que ter uma colaboração científica. O que a academia gera, a iniciativa privada consome e encontra meios de melhorar e, assim, atingir o consumidor final, no caso, os agricultores”, destacou Eduardo Polidoro, da Claro.
Inovação depende de dados com qualidade
Investir em inovação resulta na geração de dados. Mas os dados extraídos das tecnologias podem não garantir uma melhor tomada de decisão. Isso porque alguns produtores esperam um retorno rápido das soluções instaladas em suas propriedades.
“Vamos pensar que a maior demanda de um produtor é a redução da ineficiência. Às vezes, ele olha para a Inteligência Artificial como um investimento que vai solucionar esse problema. Só que esquece que é preciso dados confiáveis e com qualidade para que a IA forneça os insights necessários para essa redução”, comentou Polidoro.
Para o executivo, ainda é preciso mostrar ao agricultor como extrair valor desses dados para que as tecnologias emergentes façam sentido no negócio. Além disso, investimentos em IA, por exemplo, deveriam estar em uma etapa mais avançada do projeto de transformação no negócio de um produtor.
Ou seja, vale a mesma lógica para se ter um cultivo de sucesso no campo. Antes de partir logo para a adoção de IA, é preciso — com o perdão do trocadilho — preparar o terreno para que a tecnologia realmente faça a diferença. “Os dados chegarão de aplicações de monitoramento e a conectividade móvel vai ajudar a extrair esses dados confiáveis para que o agricultor consiga escalar o seu negócio”, explica Polidoro.
Principais destaques desta matéria:
- Agricultura 4.0 utiliza diversas tecnologias para escalar os negócios de agricultores;
- Mas pequenos produtores ainda têm o desafio de conseguir inovar em suas propriedades;
- Evento Agro Summit Brasil 2019 discutiu como as iniciativas pública e privada podem capacitar e fomentar a inovação para esse público.