Futurecom Futurecom
escolas conectadas Da esq: Guilherme de Souza Dias, Fabíola Gomes, Marcos Alberto Bussab, Gesilea Fonseca Teles e Ana Lígia Scachetti (Foto: Reprodução/ Futurecom)

Escola conectada: conectividade virou poder de conhecimento

4 minutos de leitura

Especialistas mostram como programas públicos e tecnologias da iniciativa privada podem universalizar o acesso à internet de qualidade nas escolas públicas brasileiras



Por Rodrigo Conceição Santos em 09/10/2024

A qualidade da conexão é inadequada nas cerca de 138 mil escolas públicas de educação básica no Brasil, principalmente entre aquelas que estão em áreas rurais (51 mil). Junto a isso, há escolas que sequer estão conectadas à internet. E mais: 2,5 mil delas não têm nem energia elétrica ainda. Para completar o diagnóstico, as escolas com piores cenários ficam majoritariamente (90%) no Norte e Nordeste, evidenciando uma disparidade regional a ser vencida em um país que busca desenvolvimento.

Estes e outros dados foram apresentados durante o Futurecom 2024, em painel dedicado ao tema “Escolas Conectadas”. Especialistas da Anatel, Embratel, Senai e Associação Nova Escola expuseram opiniões e planos para avançar nesse cenário, assim como a importância do desenvolvimento deste setor para as crianças e adolescentes e, concomitantemente, do Brasil.

GAPE entra em cena

Recentemente, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) instituiu o Grupo de Acompanhamento do Custeio a Projetos de Conectividade de Escolas (GAPE), com a finalidade de “conectar as escolas públicas de educação básica do país com internet de qualidade e velocidade necessárias”. Esse grupo atua sob as demandas da Estratégia Nacional de Escolas Conectadas (Enec).

Gesilea Fonseca Teles é chefe de gabinete do presidente do GAPE, Vicente Aquino Neto, e explicou que é preciso não só universalizar a conectividade, mas, também, melhorar a qualidade das conexões existentes. Segundo ela, apenas 17 mil (ou 13% do montante de 138 mil escolas públicas de ensino básico) possuem velocidade de conexão adequada para fins educacionais, segundo dados do NIC.br. 

Gesilea Fonseca Teles (Foto: Reprodução/ Futurecom)

Ao todo, existem 400 mil alunos no país que sequer possuem qualquer tipo de conectividade nas escolas, o que limita as suas possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento de habilidades digitais, cruciais para a sociedade contemporânea. 

Diante deste cenário, o ENEC foi estruturado para coordenar esforços e investimentos, visando não apenas levar infraestrutura, mas, também, capacitar professores e alunos para o uso da internet e das tecnologias digitais na educação. “É preciso ir além da simples instalação de equipamentos, promovendo a inclusão digital de forma abrangente”, defendeu Gesilea.

Letramento digital de alunos e professores

Ana Lígia Scachetti, CEO da Associação Nova Escola, valida a afirmação de Gesilea com números. A associação não tem fins lucrativos e deriva da revista Nova Escola, publicada inicialmente em 1986, pela Editora Abril. A associação em si foi criada em 2015, tendo como mantenedora a Fundação Lemann – detentora do título criado pela editora da família Civita.

escolas conectadas
Ana Lígia Scachetti (Foto: Reprodução/ Futurecom)

Segundo levantamento da Nova Escola, cerca de 14% dos professores de escolas públicas ainda não usam internet. Outros 50% – ou seja, a maioria – usam a internet para fins pessoais, mas não para a atividade pedagógica. A parcela restante, de 36%, seria a que já utiliza a tecnologia na sala de aula. “Isso é preocupante, pois a cultura digital é uma competência a ser desenvolvida nas escolas, como rege o Ministério da Educação (MEC)”, disse.

Fabíola Gomes, diretora de Vendas para Governo da Embratel, alertou que a “conectividade não deve ser vista como o objetivo-fim”, no sentido de que, a partir do momento em que as crianças e adolescentes têm acesso à internet, é preciso também cuidar do seu letramento de navegação, incluindo a cibersegurança.

Guilherme de Souza Dias e Fabíola Gomes (Foto: Reprodução/ Futurecom)

Posto isso, a executiva avaliou positivamente o cenário atual, no sentido de que os programas e planejamentos para universalizar a conectividade estão estabelecidos e, em boa parte, em andamento. “Ao mesmo tempo, as operadoras de telecomunicações, como a Claro, estão avançadas no cronograma de implementação do 5G, devendo levar conectividade de qualidade para todo o país até 2028”, diz.

O promissor FWA 5G para as escolas conectadas

A conectividade 5G, segundo Fabíola, habilita as demandas digitais mais avançadas no ambiente escolar. Isso pôde ser testado pela Embratel em parceria com outras empresas, como o CPQD, em um trail em Brasília (DF).

Entre março e abril deste ano, esse programa testou o uso de redes FWA (Fixed Wireless Access) para prover conexão de alta velocidade a 2.456 alunos. “As estruturas FWA foram instaladas a cerca de 800 metros de uma estação rádio-base (ERB) e ofereceram resultados bastante satisfatórios de ‘conectividade significativa’, como rege o Enec”, disse.

Em detalhes, ela contou que as velocidades variaram de 480 a 900 mbps, com latências baixas, que não ultrapassaram a faixa de 43 milissegundos. 

Além disso, a tecnologia é de implementação simples, quando a região é “iluminada” com fibra óptica para a implantação das estações rádio-base, segundo Fabíola. “O FWA 5G, portanto, foi comprovado como uma solução com potencial para transformar o cenário de conectividade nas escolas”, disse.

Voltando ao GAPE, Gesilea Teles lembrou que as suas atribuições foram bem selecionadas no plano do Enec. “Está claro, por exemplo, que não iremos fornecer computadores para as escolas”, disse. Essa demanda fica a cargo de outros órgãos competentes do governo, igualmente parte integrante do Enec.

A respeito do GAPE, os esforços estão concentrados no atendimento de 40 mil escolas em áreas remotas e desconectadas – fundamentalmente no Norte e Nordeste – com casos que utilizam até painéis solares para levar energia aos estabelecimentos que não a têm, e também link de internet via satélite, quando não há fibra óptica. 

Igualmente em um projeto-piloto – sendo este realizado em 167 escolas – o Gape comprovou a viabilidade de levar internet de qualidade para todos os ambientes escolares, incluindo a instalação de redes Wi-Fi. Essa experiência, segundo Gesilea, deve servir de modelo para as próximas fases do programa, que pretendem atender 23 mil escolas, principalmente nas regiões Norte e Nordeste. “A conectividade não se resume apenas a ter acesso à internet, mas, sim, a transformar a educação por meio da tecnologia. É preciso capacitar professores para utilizar as ferramentas digitais em sala de aula, proporcionando um aprendizado mais dinâmico e engajador para os alunos”, disse.

Guilherme de Souza Dias, supervisor de tecnologias educacionais do Senai, destacou a importância de enfrentar os desafios da falta de conectividade também na educação profissional, que está mais próxima ao mercado de trabalho, onde as tecnologias são, de fato, usadas. “A educação profissional tem esse desafio de atualizar os currículos em uma velocidade que atenda aos mercados e em um cenário no qual o ciclo de vida das tecnologias está cada vez mais curto”, disse.

Guilherme de Souza Dias (Foto: Reprodução/ Futurecom)

Dias ressaltou a conectividade no contexto das tecnologias computacionais, pontuando ser ela a porta de entrada para soluções que permitam escalabilidade. 

No Senai, por exemplo, há 1 milhão de matriculados e mais de 5 mil professores, mas é preciso oferecer equidade na formação dos alunos, algo possível somente com processos digitais – dependentes da conectividade. “Isso mostra que a conectividade não apenas habilita as tecnologias, mas também impacta nas profissões. Não deve ser privilégio de um aluno utilizar inteligência artificial generativa hoje, por exemplo”, disse.



Matérias relacionadas

alemanha white paper Conectividade

Alemanha lança white paper sobre sistemas de IA

Documento apresenta o tema “Transparência de sistemas de IA” e deve evitar violações de direitos de autor e proteger os dados pessoais, entre outros pontos

conectividade logistica rumo Conectividade

Rumo escolhe Embratel para garantir conectividade de operação logística

Com maior conectividade logística, empresa aumenta a eficiência do negócio, além de reduzir emissões e otimizar a segurança

tecnologia e conectividade brasil Conectividade

Tecnologia e conectividade transformam o ensino no Brasil

Conheça algumas iniciativas que estão mudando a realidade do ensino brasileiro e ampliando o acesso da população à educação

5g advanced Conectividade

5G Advanced prepara caminho para 6G

Também chamada de 5.5G, o 5G Advanced promete tecnologia que proporcionará mais velocidade e menor consumo de energia