O 5G tem vários desafios e um deles é colocar os projetos de aplicação na prática. O processo envolve várias frentes, inclusive universidades e a indústria, como apontou o painel sobre o tema durante o evento 5G em ação no Brasil, realizado em novembro pelo jornal O Estado de S.Paulo e com patrocínio da Embratel e da Ericsson. Quatro especialistas apontaram problemas e também soluções no encontro.
Marcelo Zuffo, professor titular da USP e diretor do Centro de Inovação da instituição, listou várias iniciativas da universidade em projetos-piloto para internet das coisas (IoT), com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A USP tem ainda estudos em conjunto com a Embratel, Ericsson e com a Deloitte e, para Zuffo, o avanço desses e demais projetos para aplicação do 5G passam, necessariamente, por maior geração de mão de obra qualificada.
Mão de obra qualificada é o primeiro desafio
O professor da USP defende que a formação deve ir além da universidade e incluir, por exemplo, os cursos técnicos. Além da formação local, Zuffo lembra ainda o desafio de reter os profissionais no país e destaca a disputa dos engenheiros brasileiros por gigantes dos Estados Unidos e China. Para ele, o processo envolve a reinvenção da própria universidade e o aumento da consciência tecnológica dos usuários.
O professor da USP advoga, inclusive, que os engenheiros formados devem se propor a influenciar outras pessoas nesse sentido. O pesquisador também destaca os programas de formação complementar das universidades e de players de mercado, como a Embratel.
O ponto de vista de Zuffo é compartilhado por Ricardo Janes, professor adjunto do departamento de engenharia de produção do Centro Universitário FEI. A instituição tem um centro dedicado ao 5G e recebe muitas visitas, integrando uma futura mão de obra ao mercado.
5G precisa sair do lugar comum da maior velocidade
Mas Janes destaca outro desafio para o avanço das dos projetos com aplicação do 5G: provar que a tecnologia é uma ferramenta de competitividade e sair do lugar comum de maior velocidade. “Nosso desafio é mostrar como usar a tecnologia a favor da indústria”, resume.
Ele lembra que os empresários buscam muita informação sobre a aplicação do 5G em seus negócios, inclusive na modernização de máquinas. “A academia é o caminho para complementar o que o mercado não tem capacidade para formar”, explica Janes.
No caso da FEI – e não é diferente na USP – os recursos como laboratório de estudo do 5G, com uso de recursos como os gêmeos digitais, que permitem a simulação de aplicações antes da ativação na prática.
IoT e o habilitador tecnológico para o 5G
Paulo Sppacacherque, presidente da Associação Brasileira de Internet das Coisas (Abinc), lembra que os desafios envolvem mais do que mão de obra e entendimento do que é o potencial do 5G. Ele avalia, no entanto, que a pandemia de coronavírus impulsionou a digitalização e que a IoT é o coração desse processo e, portanto, é necessário entender melhor os negócios envolvendo IoT e 5G. “O IoT já existia antes da quinta geração, mas foi impulsionado por ela”, defende o presidente da Abinc.
O papel das operadoras nos desafios de implementar projetos com o 5G foi defendido por Marcello Miguel, diretor executivo de Marketing e Negócios da Embratel. Sobre o desafio da reinvenção, ele destaca que a Embratel vem se reinventando há quase 60 anos, desde sua criação. Para Miguel, as empresas do setor precisam se posicionar como digital services enabler e atuar como orquestradores do processo de transição digital.
De acordo com ele, a Embratel já se preparava para a disrupção antes mesmo do leilão do 5G e pode avaliar o impacto da tecnologia, principalmente no mercado corporativo. É o caso da Nestlé, pioneira da adoção do 5G na América Latina, com suporte da Embratel, na unidade de Caçapava, interior de São Paulo. A companhia ampliou as possibilidades de utilização de automatização de robôs, entre outras iniciativas, tendo como resultado final o aumento de produtividade.
Por trabalhar com várias verticais, Miguel acredita que a Embratel tem avançado em transformar projetos de aplicação em casos reais. E inclusive aproveitando sinergias, como o fato de o governo brasileiro ser o quinto mais digitalizado do mundo.
O executivo da Embratel destaca que a operadora tem provas de conceito em andamento nas dez principais verticais de mercado do país, combinando várias tecnologias associadas como a AI e o machine learning. “Um ponto em comum é a cibersegurança fim a fim, independentemente da aplicação”, finaliza.