Por Ethevaldo Siqueira*
É claro que não tive nenhum mérito nesse trabalho de repórter. Fui apenas testemunha de um grande acontecimento. Mais do que isso, eu me sinto até hoje privilegiado por ter podido estar lá e acompanhar, como jornalista, há exatos 50 anos, todos os momentos gloriosos da Apollo 11.
E afirmo com toda honestidade: a cobertura da conquista da Lua me proporcionou duas das maiores emoções de minha vida. A primeira, às 9:32 da manhã de 16 julho de 1969, no momento da decolagem do Saturno V, na Flórida. A segunda, quatro dias depois, no dia 20 de julho, quando eu e mais de 600 milhões de seres humanos pudemos testemunhar o gesto icônico de Neil Armstrong, ao pousar o pé na superfície da Lua.
Digo a todos que foi, realmente, emocionante assistir tudo naqueles cenários, desde a partida dos astronautas no imenso foguete, estacionado na histórica Plataforma de Lançamento 39A, do Centro Espacial Kennedy, da NASA. Eu não tinha a menor ideia do impacto que seria ver a uma distância de apenas um quilômetro e meio a decolagem do Saturno V um gigantesco foguete de mais de 2.900 toneladas e 110 metros de altura. Mesmo com fones protetores de ouvido, o ruído me parecia ensurdecedor. Mas aquilo era apenas o começo de uma histórica jornada de oito dias de duração.
Como repórter em começo de carreira, eu me sentia feliz e orgulhoso por estar lá, na plataforma reservada aos jornalistas de todo o mundo, no Cabo Canaveral. Dali eu podia ver a multidão de centenas de milhares de pessoas nas estradas vizinhas, nos campos próximos ao Centro Espacial Kennedy e nas praias ao norte e ao sul da base de lançamentos.
Eu havia chegado bem cedo à arquibancada dos jornalistas e, ansioso, consultava o relógio a cada cinco minutos, para saber quanto tempo ainda faltava para o grande momento da decolagem do Saturno 5.
Uma emoção nos invadiu quando aquele imenso foguete começou a subir lentamente do Cabo Canaveral, na Flórida. Uma repórter ao meu lado, chorava sem controle. Em torno da base de lançamento, quase 200 mil pessoas –embora alguns jornais tenho dito, depois, que havia quase 1 milhão – vindas dos mais longínquos pontos dos Estados Unidos e até de outros países, pulavam e saudavam com bandeiras ao ver o Saturno 5 decolar, naquele momento histórico da partida dos três astronautas – Neil Armstrong, Edwin “Buzz” Aldrin e Michael Collins – da Apollo 11.
E tudo correu conforme previsto. A única coisa que nos surpreendeu foi a emoção que nos invadiu quando o Saturno V começou a subir lentamente do Cabo Canaveral, na Flórida. Dali para frente perdi a ideia do tempo.
Com as informações da NASA, acompanhávamos as etapas seguintes do lançamento. Assim, ao completar uma volta e meia em torno da Terra, duas horas e 44 minutos depois do lançamento, o último estágio do Saturno reacendeu para uma segunda ignição de cinco minutos e 48 segundos, para colocar a Apollo 11 na órbita definitiva, rumo à Lua. Mas o que nos importava, em realidade, é que tudo caminhava bem naquela nave com três astronautas, a caminho da Lua.
Quatro dias depois, já em Houston, eu acompanhava a entrada da Apollo 11 em órbita lunar. Diante de um telão, junto ao Centro de Controle de Missões da NASA em Houston, eu assistia a tudo, com antecedência de alguns segundos em relação ao resto do mundo. Assim, pude ver todas as etapas da descida na Lua, naquela grande tela, com a imagem chuviscada em preto e branco, inclusive o momento culminante, ocorrido às 22:56 do dia 20 de julho de 1969 (hora da costa leste dos EUA), ou 23:56 de Brasília, ou ainda 2:56 UTC, do dia 21 de julho. Esse nesse exato instante que que Neil Armstrong colocou seu pé direito sobre a superfície lunar e pronunciou, emocionado, as palavras memorizadas durante meses: “Um pequeno passo para o Homem, mas um grande salto para a Humanidade.”
A reportagem de minha vida
Eu nem acreditava que iria cobrir para o jornal O Estado de S. Paulo a chegada do homem na Lua, em julho de 1969, nos Estados Unidos. Vibrei de alegria ao receber essa incumbência de meu saudoso chefe de reportagem, Clóvis Rossi. Era quase um sonho para mim, embora eu já tivesse visitado a NASA no ano anterior e acompanhado em Houston os momentos emocionantes da Apollo 8, no Natal de 1968. Naquela data tão especial, os astronautas Frank Borman, Jim Lovell e William Anders – sobrevoaram pela primeira vez o lado oculto da Lua e mostraram pela TV o “Earthrise” (o nascer da Terra), a Terra a elevar-se sobre o horizonte lunar.
Com a Apollo 11, as coisas eram ainda muito mais importantes do que as missões anteriores. Como jornalista, eu estava razoavelmente preparado para a cobertura na NASA, pois acabava de escrever um suplemento especial sobre a conquista da Lua que circularia no domingo, 20 de julho, data da chegada da Apollo 11 à Lua.
Hoje, 50 anos depois de testemunhar também todos momentos da missão Apollo 11, no Cabo Canaveral e em Houston, eu só posso afirmar que foram momentos magníficos do que podemos chamar de glória efêmera – ou seja, aquela que todo jornalista experimenta ao ver tudo acontecer in loco desde os menores até os grandes eventos históricos da Humanidade.
Às vezes, eu penso no que significa a alegria quase infantil que é proclamar aos amigos, aos meus filhos, netos e à bisneta:
— Conquista da Lua? Eu estava lá. Eu assisti a tudo, do começo ao fim. Eu vi com meus próprios olhos a chegada do Homem à Lua, em Houston, no Centro de Controle de Missão, da NASA.
*Ethevaldo Mello de Siqueira é um jornalista brasileiro, sendo ainda escritor e consultor especializado em telecomunicações, eletrônica de entretenimento e novas tecnologias da informação.
Imagem de destaque: NASA/Flickr