Mais do que o apelo do acesso em altíssima velocidade para comunicação e consumo de serviços digitais, o desempenho do mercado de 5G se entrelaça à criação de aplicações de automação de processos sensíveis (como equipamentos médicos ou transporte); aproximação dos dados e da inteligência computacional ao ponto de consumo; ou redes corporativas segregadas (com altos padrões de desempenho e segurança). Esse foi o eixo de algumas das principais discussões do Futurecom 2023.
Em um painel dedicado ao tema e intitulado Forecasting: Evolução da entrada e potencial de crescimento do 5G na América Latina, Rodrigo Robles, gerente do escritório de projetos da UIT; Horácio Arricobene, arquiteto de rede da Telefônica; e Felipe Otero, vice-presidente para América Latina da 5G Américas, debateram o assunto.
Robles afirmou que, junto ao 5G, é importante uma estratégia nacional de transformação digital. “Estamos apenas começando a ver o aumento da densidade de dispositivos conectados”, disse.
Enxurrada de dados no ecossistema 5G
Disponível comercialmente em oito países da América Latina a partir deste ano, os maiores beneficiários neste momento, segundo Robles, são organizações de manufatura e serviços.
Arricobene enfatizou a necessidade de compartilhamento de infraestrutura. “É necessário para viabilizar as metas de inclusão”, argumentou. Ele lembrou que, além da conexão, outras condições são importantes para aproveitar e dar conta da “enxurrada de dados” trazida pelo 5G. “O 5G não precisa apenas de espectro e antenas. Requer recursos como edge computing, além da criação de serviços e modelo econômico”, menciona.
Otero observou que a rede 5G chegou com defasagem menor do que ocorreu com 3G e 4G. No entanto, a expansão de cobertura e densidade enfrenta obstáculos. “Escala é importante. Para chegar a uma cobertura massiva, os terminais teriam de custar até US$ 75”, estima.
Ele reconhece que uma das dificuldades para o 5G é a liberação de espectro. “É um desafio conciliar os interesses das operadoras e do governo (no que se refere ao custo das licenças)”. “Ainda assim, é necessário propor os licenciamentos de forma mais atrativa. O caminho adotado no Brasil, de trocar preço por obrigações, é interessante”, mencionou. Além dos investimentos em licença, Otero recomendou atenção à pressão sobre a infraestrutura fixa, que são as malhas de fibra óptica que sustentam a rede móvel.
Wilson Cardoso, CTO para América Latina da Nokia e congressista no Futurecom, contou que, hoje, os setores com mais projetos de redes privativas sobre 5G mineração, logística (particularmente portos) e manufatura conectada. “Até agora, as redes eram feitas para conectar terminais. Hoje, falamos de 5G para conectar máquinas, com os requisitos de baixa latência e segurança”, afirma.
Paulo Spacca presidente da Associação Brasileira de Internet das Coisas (Abinc), ponderou que nem todos os casos de uso de IoT dependem de 5G. Ele enxerga uma demanda mais imediata para redes privativas, ao mesmo tempo em que se desenvolvem os dispositivos, os processos e o modelo de negócio que tiram proveito do 5G. “Nosso legado industrial é grande e leva um tempo para sensorizar ou trocar os equipamentos”, concluiu.