Os resultados em Saúde dependem da conjugação de fatores gerais – como estratégia de saúde populacional, e desenho da infraestrutura e processos – e do que acontece em cada interação dos clientes com os profissionais. A assistência de Inteligência Artificial nessas duas vertentes foi o eixo do painel A jornada do paciente impulsionada por IA – personalização, prevenção e longevidade, que reuniu médicos e especialistas dedicados ao setor no Conarec 2024.
Flávia Camargo, pediatra e diretora de experiência em saúde do Hospital Israelita Albert Einstein, menciona o projeto Health Story, uma ferramenta de GenAI para consultas ao prontuário. “Percorrer as seções e achar as informações no prontuário toma tempo do profissional de saúde. O aplicativo deixa o médico mais disponível para conversar”, disse.
Além da parte clínica, a gestora também chama atenção às oportunidades que a tecnologia traz a outros processos, que determinam a experiência do paciente. “A automação de registros também muda a dinâmica da sala de espera, com os funcionários dedicados a dúvidas e atendimento. Quem passava o dia digitando agora foca no acolhimento”, resumiu.
A médica destaca também os potenciais ganhos do uso de modelos preditivos para planejar o suporte às próximas etapas do atendimento. “A partir do olhar da jornada, se pode obter maior engajamento do próprio paciente, com comunicação transparente e oportuna”, acrescentou.
Informação e processos que salvam
A capacidade de passar milhares de exames por dia por algoritmos de visão computacional, treinados com centenas de parâmetros, pode muitas vezes nem ter impacto no tratamento de um paciente.
Débora Granjeiro, superintendente de experiência do cliente da Dasa, conta que entre 20% e 30% dos pacientes sequer buscam os exames, o que pode ser um grande risco para pessoas com doenças assintomáticas. “Os laudos com achados relevantes são encaminhados ao prescritor. São dados alertas aos pontos de atenção (para o médico investigar)”, informou.
Ela acrescenta que a capacidade analítica também enriquece o trabalho clínico. “No dia a dia da assistência, nem sempre o médico vê todas as possíveis correlações”, constatou.
Marco Bego, diretor de inovação do Inova HC, interveio que “não dá para fazer com IA o mesmo processo que se fazia sem IA. As práticas podem ser transformadas”, afirmou.
Personalização e privacidade com assistência da IA
Tanto as grandes bases de saúde populacional, preciosas para estatísticas de predições, quanto as informações completas sobre um paciente são as bases das transformações. “Vamos usar cada vez mais a IA para assistência com base nos dados. E não apenas os seus dados”, comentou o diretor do Hospital das Clínicas.
Contudo, embora haja padrões bem estabelecidos para troca de dados em cadeias de saúde complementar, o setor não conta com um equivalente ao “open finance”, que padronize o compartilhamento seguro de informações. “A interoperabilidade é um desafio”, reconheceu Flávia Camargo.
Iatrogenia, riscos financeiros e clínicos
Rafael Ielpo, superintendente da Rede Assistencial Seguros Unimed, argumentou que, além dos dados transacionais, a disponibilidade de dados assistenciais, dentro da devida regulação aplicável em cada caso, agrega previsibilidade e transparência.
O executivo conta que hoje a operadora trabalha com IA em três pilares: gestão populacional; combate a abusos e fraudes; e experiência (do paciente e dos profissionais de assistência).
A estimativa das operadoras é que as fraudes e desperdícios cheguem a drenar 30% dos custos assistenciais. “Há tentativas de fraude no momento anterior à contratação, com CNPJs de fachada. Em praticamente 5% dos atendimentos também se tentam fraudes de identidade”, revela.
Ielpo enfatiza que, junto à prevenção à fraude, a IA pode também ser aplicada para aumentar a vinculação do uso de recursos ao desfecho clínico. “A tecnologia permite identificar com precisão quais pacientes responderão melhor a determinados tratamentos, considerando os efeitos e riscos. Nem sempre a solução é mais medicina. A iatrogenia (consequência indesejável de uma intervenção) pode levar a complicações mais graves”, concluiu.