A melhoria da conectividade pode transformar as vidas das pessoas, de diversas maneiras, e a pandemia de Covid-19 comprovou isso. Durante o período em que o afastamento social foi necessário, as pessoas ficaram em casa e o mundo não parou. Foi possível trabalhar e estudar a partir de qualquer lugar onde houvesse conexão à internet, as ferramentas de telemedicina avançaram e a logística conseguiu um salto de qualidade, atendendo às demandas de quem permaneceu em lockdown. Mas, e quem não tem acesso às ferramentas digitais?
“Ainda existe um grande desnível nesta questão. Se por um lado a conectividade e as soluções tecnológicas estão avançando, por outro ainda existem muitos problemas, como o analfabetismo digital”, disse Isadora Firmino, gerente de Interações Institucionais, Satisfação e Educação para o Consumo da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), em painel realizado durante o Futurecom 2023.
Segundo ela, a questão atinge desde cidadãos que moram em locais onde não há conectividade, como áreas rurais, até pessoas que não têm educação (ou segurança) digital, como o público maduro. “Hoje, temos todos os documentos digitalizados e vários serviços públicos na plataforma .Gov, mas muitas pessoas não sabem como utilizar os recursos, o que causa brechas, quando se trata de inclusão digital”, disse ela.
“E a questão tende a se acentuar”, ponderou Arivaldo Lopes, consultor sênior da Omdia, mencionando que, na América Latina, pelo menos um terço da população ainda não tem conectividade. “A educação digital é fundamental, mas a conectividade precisa avançar”, ressaltou.
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Degrau maior é um risco na inclusão digital
Segundo Lopes, além do 5G, que começa a avançar no país, o Brasil é referência mundial em fibra óptica. “A tendência é de que os serviços baseados em conectividade avancem rapidamente, mas isso pode aumentar o ‘tamanho do degrau’”, comentou. Na visão do analista, estratégias de inclusão são essenciais para minimizar a brecha digital.
Rubens Costa, gerente de Planejamento e Estratégia Comercial da Embratel, explicou que ainda existem barreiras para a expansão da conectividade. “Há entraves para levar fibra para algumas regiões do país, e também existe sobreposição de redes. Em algumas localidades, a infraestrutura se torna muito cara. Então, nestes casos, temos alternativas, como satélites”, afirmou. “Mas é preciso ponderar que existem regiões no Brasil que sequer têm energia elétrica. Ou seja, esse abismo da falta de conectividade não é causado pelas operadoras”, frisou.
Costa acrescentou que existem no país mais de 138 mil escolas públicas. “Se considerarmos os recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST) para conectar esses locais com qualidade e segurança, se fizermos uma conta por escola, precisaremos parar e pensar nos recursos disponibilizados. O tema é complexo”, disse. Em sua avaliação, a conectividade faz parte de um ecossistema de serviços, e todos os elos precisam se desenvolver para que o avanço ocorra.
“Somente durante a pandemia, o Grupo Claro conectou mais de um milhão de alunos. Outras operadoras fizeram ações similares. Foi um grande esforço bem-sucedido, pois não se trata apenas de conectar, mas, sim, de conectar com segurança, com proteção”, pontuou.
Ecossistema digital é necessário para a inclusão
O ecossistema de serviços citado por Costa inclui diversos elos, o que exige um esforço da gestão pública. “Se não trabalharmos unidos para fazer essa conectividade, não é possível imaginar que um ente sozinho [uma operadora] vai resolver o problema. Por exemplo, precisamos de um ecossistema vinculado. Não adianta chegar com a conectividade se a pessoa não tem o dispositivo. E, se ela tem o dispositivo, não adianta ter conectividade se não tem conhecimento para utilizar”, ilustrou.
Em sua avaliação, com o apoio do poder público várias iniciativas podem ser aplicadas. Dentre elas, Costa citou a iluminação inteligente, que viabiliza diversos serviços que contribuem para a melhoria da gestão urbana, e as soluções de conectividade para o agronegócio. “Ao conectar um trator ou uma colheitadeira, toda a comunidade rural da região acaba também tendo acesso, então políticas que viabilizem essa conectividade no campo são essenciais para que a inclusão digital aconteça”.
Conectividade gera desenvolvimento
Elisabete Donato, gerente de Projetos da Invest SP (Agência Paulista de Promoção de Investimentos e Competitividade), lembrou que a conectividade também é essencial para o desenvolvimento econômico. “Nenhuma empresa vai se instalar em uma cidade onde não exista conectividade”, afirmou. “A atração de novas empresas é importante para a geração de renda e criação de novos postos de trabalho. Por isso, os gestores municipais têm que estar atentos aos benefícios da conectividade para trazer inovação”, completou.
Importante destacar que, quando se fala em conectividade nas cidades, existem vários serviços que podem ser beneficiados, como mobilidade urbana, segurança, educação, acesso a serviços e gestão de dados populacionais, por exemplo. “Existe um leque de possibilidades proporcionado pela conectividade. Porém, é preciso um ecossistema colaborativo, no qual todos os elos contribuam para o avanço da tecnologia”, disse Costa, da Embratel.