Perguntas semelhantes, respostas diferentes. Os especialistas que compuseram um painel sobre hiperautomação com IoT, redes de alto desempenho e edge computing no Futurecom 2024 retomaram uma discussão ocorrida na edição anterior do evento, só que desta vez com foco no aprendizado com a execução de projetos.
“Tivemos a transformação digital dos serviços e agora vemos a transformação digital da indústria”, diz Diuliana França, diretora de soluções de cloud da Embratel.
Com uma abordagem pragmática, ela focou sua apresentação neste ano em projetos já realizados e em produção. “Sabemos que indústrias têm forte preocupação com segurança no trabalho”, contextualiza. “Com visão computacional, 5G privado e edge computing, conseguimos uma redução importante no número de acidentes em um cliente que solicitou uma solução”, menciona.
Além de instalar câmeras de alta resolução e treinar a visão computacional para reconhecer pessoas, EPIs (equipamentos de proteção individual) e outros objetos relevantes à aplicação, foi feito um mapeamento da planta industrial e configuradas regras de movimentação (para ninguém estar onde não deveria) e melhores práticas. O processamento das análises das imagens e dos comportamentos no chão de fábrica roda em um servidor local, conectado aos dispositivos por uma rede privada 5G. A aplicação também se conecta à nuvem, para backup, atualização de software e funções de analytics menos sensíveis ao sincronismo, como alertas preditivos para manutenção de equipamentos. “Integramos reconhecimento de imagens, rede de baixa latência, e combinação de processamento local e em nuvem. A rede 5G e o edge permitem intervenções em tempo real”, descreve.
“Até 2026, 50% dos analytics vão rodar em edge”, dimensiona Pietro Colloca, especialista em aplicações da Intel. Ele também descreveu um case, para resolver erros no empacotamento de produtos expedidos em uma cervejaria. Com câmeras 3D conectadas a uma aplicação de análise, hoje se pode conferir, imediatamente e em larga escala, os itens e o volume de cada pallet, com controle em tempo real no dashboard de qualidade. Nesse caso, a infraestrutura local resolve a prioridade do tempo de resposta. “Em outros projetos, a opção por edge tem a ver com segurança, para não expor dados que não precisam sair do perímetro”, acrescenta.
A diretora de soluções de cloud reconhece que o uso de infraestrutura distribuída – com dados e processamento próximos ao ponto de consumo, em redes privativas de baixa latência – impõe desafios de integração, gerenciamento e segurança. “São projetos que envolvem ambientes, hardware e equipes diferentes. Mas em todos os casos constatamos que entregam muito valor”, conta.
Estrutura local ao estilo da nuvem
Pietro Colloca observa que o setor de manufatura responde, hoje, pela maior parte das iniciativas, mas destaca as perspectivas para aplicações em automação urbana (cidades inteligentes) e no agronegócio.
Atualmente, nos EUA, o número de veículos não tripulados no campo é três vezes maior do que nas ruas.
Embora edge computing signifique uma infraestrutura fisicamente descentralizada, não se cogita um retorno à gestão dispersa entre múltiplas localidades, que multiplicava linearmente a necessidade de manutenção, gente e recursos financeiros em cada ponto. Em termos de arquitetura, as instalações na borda continuam a fazer parte de multicloud, com todas as características de padronização e automação do macroambiente de TI das empresas modernas.
No que se refere aos modelos técnicos e comerciais, o edge também usufrui de todas as vantagens operacionais e econômicas da infraestrutura como serviço gerenciado.
Diuliana França explica que com a opção de Deep Edge, em que o servidor fica no local exato da operação, sem qualquer dependência de conexões externas, o provedor instala os equipamentos e continua a responder pelo gerenciamento. “Colocamos um rack bem robusto, preparado para ambientes sem os controles do datacenter”, menciona.
Outra opção para quando se precisa encurtar rotas, baixar a latência e restringir o tráfego é a alternativa de Cloud Edge, em que os serviços rodam em instalações muito próximas ao ponto de consumo, com datacenters distribuídos em múltiplas localidades.
Redes privadas 5G – das PoCs à produção
O painel Redes privativas e integração de tecnologias disruptivas também retornou a discussão sobre redes privadas 5G na edição anterior do evento, quando ainda se especulava sobre casos de uso.
“Passamos da fase de experimentação para os projetos”, avalia Maria Teresa Lima, diretora para Governo da Embratel. “Conforme grandes cases em indústrias de alimentos, mineração e outros setores são divulgados, as companhias prestam mais atenção às novas alternativas de conectividade. Agora, muitos projetos de IA pressupõem uma infraestrutura com muita performance e se entendem os recursos da rede como habilitadores. À medida que investem em robôs, sensores de IoT, análise de vídeos e outras tecnologias disruptivas, veem claramente os benefícios e o retorno da conectividade avançada”, esclarece.
Ela lembra que nos últimos dois anos, várias PoCs (provas de conceito) de redes privativas 5G em indústrias, agronegócio e mineração se desenvolveram. “Houve aprendizado e amadurecimento das operadoras e das companhias. As organizações perceberam as oportunidades de redução de riscos e custos, assim como outros benefícios da automação”, diz.
“Nossos times de arquitetura e pré-venda já elaboraram praticamente uma centena de grandes projetos”, informa. Ela explica que cada caso exige modelagens customizadas, com requisitos particulares de latência, pontos de interconexão a redes externas e controles de segurança. “Não são soluções que se tira da caixa e põe na tomada. Envolvem estudo de frequências, survey, instalação, testes e homologação. Com os projetos, acumulamos experiência para acelerar essa jornada”, esclarece.
Ao mesmo tempo em que destaca o amadurecimento no setor industrial, a diretora para setor público reconhece que os projetos com 5G em Cidades Inteligentes avançam menos do que a demanda potencial. “Muitos gestores de municípios ainda pensam com o paradigma de precisar lançar malhas de fibra para interconectar a estrutura urbana. Talvez não estejamos conseguindo comunicar que já existem redes disponíveis e prontas para atender às necessidades de Qualidade de Serviço e Segurança”, admite. “Precisamos mostrar como usar os recursos de segregação (network slicing), VPNs e outras abordagens atuais, que permitem projetos com menor custo e tempo de execução”, defende.