Febraban Tech 2024 Febraban Tech 2024
esg no credito Da esquerda para a direita: Amaury Oliva, Paulo Rodrigo de Lemos Lopes, Kathleen Krause, Luiz Lessa e Luiz Awazu Pereira

Instituições buscam padrões para precificar ESG no crédito

3 minutos de leitura

Setor financeiro inclui riscos climáticos em avaliação de suas carteiras de crédito e investimentos



Por Redação em 27/06/2024

Junto às questões institucionais e de reputação, danos ambientais, atritos com comunidades ou setores sociais, impacto das mudanças climáticas, e outras transformações complexas têm efeitos cada vez mais fortes na qualidade das carteiras de crédito e de ativos das instituições financeiras. Em mais um passo para estabelecer critérios comuns de avaliação, o Brasil foi o primeiro país a adotar oficialmente os padrões de sustentabilidade e clima do ISSB/IFRS (International Sustainability Standards Board, da International Financial Reporting Standards), que passa a ser obrigatório para companhias abertas, fundos de investimento e companhias securitizadoras a partir de 2026, conforme determinação da CVM. As formas de dimensionar os riscos para avaliação de investimentos e crédito foram o eixo do painel: “O desafio de sincronizar informações de sustentabilidade e balanços”, na Febraban Tech 2024.

“Contar com informação granular, comparável e com qualidade é o maior desafio. A prioridade é informação”, enfatizou Kathleen Krause, chefe adjunta do Departamento de Regulação Prudencial e Cambial do Banco Central. Ela explicou que o papel do regulador é padronizar os requisitos e buscar equilíbrio com outras regulações. “Também é preciso equilibrar custos para as empresas se alinharem às melhores práticas de gestão de riscos e políticas de ESG”, disse.

esg no credito
Kathleen Krause, chefe adjunta do Departamento de Regulação Prudencial e Cambial do Banco Central

Krause reconheceu que o pioneirismo do Brasil na adesão a normas globais tem o potencial de atrair investimentos, além do aumento da estabilidade financeira. “Há as perspectivas de investimento e prudencial, mas não são excludentes”, mencionou.

“O plano é continuar a desenvolver as normativas”, informou a representante do Bacen. Ela esclarece que o trabalho do Bacen se sustenta em três pilares: interlocução com a sociedade (por consultas públicas e debates), alinhamento com outros reguladores e aos melhores padrões internacionais.

“A adesão a normas tem custo, mas há vários benefícios em reputação e governança. Outra ganho é uma taxonomia bem definida para ativos verdes. Normas transparentes permitem que o investidor tenha clareza sobre a empresa e os produtos, sem green washing”, disse Luiz Lessa, presidente do Banco da Amazônia.

Paulo Rodrigo de Lemos Lopes, vice-presidente de Sustentabilidade e Cidadania Digital da Caixa, apontou três etapas da agenda: entender as normas, internalizar e tornar as melhores práticas transversais nas organizações e cadeias de valor.

Paulo Rodrigo de Lemos Lopes, vice-presidente de Sustentabilidade e Cidadania Digital da Caixa

Cisne verde

Luiz Awazu Pereira, vice-gerente geral do BIS (Bank of International Settlements), contou que quando chegou à instituição lançou um alerta para os bancos centrais sobre o risco sistêmico ao mercado financeiro com as mudanças climáticas. “Os países com economias avançadas eram os mais atrasados em tratar de uma questão que afeta os preços e a estabilidade financeira”, lembrou.

Luiz Awazu Pereira, vice-gerente geral do BIS (Bank of International Settlements)

Em contraposição à figura do Cisne Negro, uma referência à atipicidade da crise financeira global, Awazu disse que agora temos um Cisne Verde. “Não estamos diante de um evento que acontece de vez em quando. A crise climática é irreversível e vai gerar instabilidades. O Cisne Verde é um novo tipo de risco sistêmico”, definiu.

“A transição precisa ser financiada. Se colocarmos US$ 4 trilhões nisso por ano, é um investimento lucrativo. Mas, tudo tem que ser auditado”, disse Awasu. Ele constatou que as mudanças climáticas atingem mais intensamente os países pobres e a população de baixa renda dos ricos. Ele, contudo, menciona outros motivos para direcionar recursos para as regiões menos industrializadas. “Não é filantropia. É do interesse de todos que os países que precisam crescer adotem novos modelos de desenvolvimento”, defendeu.

Alinhamento global com atenção aos riscos locais

Os executivos da Caixa e do Banco da Amazônia sumarizaram algumas das políticas e iniciativas de finanças sustentáveis de suas instituições. Além das ações para definir a “taxinomia” do crédito sustentável, que representa 60% da carteira da Caixa, Lopes adiantou que no segundo semestre começa a emissão de “títulos sustentáveis”. Ele informou também que a instituição aguarda a regulamentação e está pronta para atuar no mercado de crédito de carbono.

Lessa destacou que o crédito rural é necessariamente subordinado a uma análise ambiental e o banco não financia a abertura de novas áreas. “Sob a floresta, há 30 milhões de pessoas com um IDH lamentável. Temos que levar crédito e assistência técnica para preservar a floresta melhorando a vida desses cidadãos. Se o agricultor ganha produtividade, não precisa desmatar”, disse. Ele acrescenta que os grandes produtores conseguem taxas reduzidas, conforme as análises de ESG.

Luiz Lessa, presidente do Banco da Amazônia

Sem se contrapor à necessidade de alinhamento global, enfatizada pelos demais participantes do painel, Lessa chamou atenção para a gravidade e a dinâmica dos efeitos locais das mudanças climáticas. “O que tem ocorrido com a calha do Rio Negro, em uma economia movida a transporte fluvial, tem um impacto imenso no risco de crédito, que não está na regulação. Teremos que ser muito ágeis para entender essas situações e lançar no balanço dos bancos, ou pelo menos em relatórios”, advertiu.


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