Principais destaques:
– LGPD entra em vigor em agosto de 2020;
– Empresas devem se adequar para utilizar dados dos clientes de forma segura e transparente;
– Evento no inovabra Habitat discutiu sobre o impacto da LGPD nas instituições financeiras;
– 5 especialistas falam das oportunidades e desafios da LGPD para o setor.
A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) entra em vigor somente em agosto de 2020. Com pouco mais de 500 dias para as empresas se adequarem, muitas ainda enxergam a LGPD como barreira para seus negócios quando, na verdade, ela poderá ser “um divisor de águas entre empresas que encontram oportunidades no cumprimento da lei e as que não têm maturidade”, como afirmou Beatriz Pelegrino, diretora executiva jurídica da Visa.
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A advogada esteve presente no LGPD Countdown, realizado na quinta (28) no inovabra Habitat, em São Paulo. O encontro teve o objetivo de debater as oportunidades e desafios da LGPD nas empresas do setor financeiro. Participaram também Vitor Morais de Andrade, professor da Faculdade de Direito da PUC-SP e advogado da LTSA Advogados; Paulo Alessandro, head de pré-vendas e product management da Tempest, empresa de segurança da informação; Diego Murakami, CTO da ExpenseOn, startup de controle de despesas; e Charlie Nakagawa, head de analytics do Banco Next.
Os cincos convidados concordaram que a LGPD não vai entrar em vigor para atrapalhar os processos das empresas, mas para que elas tenham consciência de como usar e armazenar os dados dos clientes com segurança. Como consequências – até já citamos 9 delas aqui no Mundo + Tech – essas companhias, a longo prazo, terão maior competitividade no mercado global, além de maturidade nos negócios e melhor tomada de decisão ao saber interpretar ou descobrir novos dados.
No setor financeiro, uma barreira para se adequar à LGPD pode ser o custo de implementação, uma vez que envolve tecnologias, consultorias jurídicas e integração de todos os setores da empresa. Mas a legislação “pode impactar positivamente os negócios quando as empresas atendem os aspectos da lei”, reforçou Pelegrino. Ela e os outros participantes comentaram sobre os desafios e oportunidades sobre a LGPD e o Mundo + Tech resume nos tópicos abaixo:
A LGPD é oportunidade para novos players de mercado
Com a lei estabelecida, empresas brasileiras terão maior potencial competitivo, garantiu Beatriz Pelegrino, da Visa. “A LGPD vai ser uma mudança de paradigma porque vemos players internacionais com perfil predatório tentando entrar no mercado brasileiro. E a LGPD vai trazer condições iguais de concorrência para essas empresas e as empresas brasileiras, o que gera uma oportunidade de desenvolvimento do Brasil”, afirmou.
Paulo Alessandro, da Tempest, complementou que o desafio pode ser a postura reativa das empresas, mas que elas deveriam ver a LGPD como oportunidade. “Os dados circulam e [com condições iguais] é uma forma da empresa mostrar que ela leva o cliente a sério e se destacar da concorrência. Para se destacar, por que não começar se perguntando ‘de quais dados eu preciso?’, ‘por que eu preciso?’ e ‘como armazená-los?’”.
Startups e fintechs terão maior visibilidade…
“Porque elas já nascem digitais”, ressaltou Charlie Nakagawa, do Next. “O custo para proteger e garantir a segurança dos dados é menor e a implementação é mais ágil”, explicou. Mas o problema, segundo Diego Murakami, da ExpenseOn, é que startups não têm investimento e capital necessário para se adequar à LGPD como uma empresa grande tem. Mas ele concorda que uma startup que “se adianta nessa adequação pode garantir maior visibilidade com empresas de grande porte para receber investimentos.”
Vitor Morais de Andrade, da PUC-SP, salientou que as startups precisam ficar atentas às questões legais. “Não tem como implementar a LGPD sem tecnologia e muitas startups começam seus projetos sem nenhum respaldo jurídico. É preciso considerar também que muitas querem colocar as mãos em um grande volume de dados. Mas de quem são os dados? Das startups, das fintechs ou dos bancos? Elas precisam levar em conta os custos regulatórios e contratos que deixem claro os responsáveis pelo tratamento e uso dos dados.”
Cadastro positivo e LGPD
Em relação ao cadastro positivo, o banco de dados com informações sobre os consumidores que são bons pagadores, a LGPD pode ajudar as empresas a “entenderem melhor a forma como o cliente consome diversos produtos”, avaliou Paulo Alessandro, da Tempest. Vitor Morais de Andrade, da PUC-SP, citou que “o modelo atual de crédito tem restrição de dados, o que gera uma limitação de interpretação deles quando as instituições financeiras têm acesso ao histórico devedor do consumidor.”
“Isso pode abrir crédito para pessoas que não tem conta bancária, por exemplo. Um banco pode oferecer serviços financeiros a esse perfil ao analisar os dados certos que estarão disponíveis no cadastro positivo. A empresa vai poder entender melhor que a pessoa é uma boa pagadora”, explicou Charlie Nakagawa, do Next.
Mas é preciso segurança, transparência e responsabilidade para isso acontecer
“A LGPD vai trazer maior clareza quanto ao uso dos dados e maturidade para as empresas porque elas serão transparentes com os seus clientes. É uma via de mão dupla – a instituição financeira se aproxima ainda mais do seu público, que se aproxima ainda mais da instituição financeira”, disse Paulo Alessandro, da Tempest.
O desafio, segundo Charlie Nakagawa, pode nem ser a adequação à LGPD, mas o volume de dados com que as empresas terão que lidar. “O desafio acaba virando uma oportunidade porque as instituições vão priorizar esses dados, vão descobrir quais algoritmos usar para trazer insights que irão gerar receitas”, comentou. “A tomada de decisão vai ser muito mais assertiva. Basta mapear, diagnosticar e entender o ciclo de vida desses dados”, finalizou Beatriz Pelegrino, da Visa.