Um e-mail enviado ao vizinho sai da sua rede local, vai pela banda larga até a operadora, passa pela rede de servidores (em um ou mais datacenters) e percorre todo o caminho de conexão ao destinatário. O ônus em performance e custo dessa rota é marginal e não compromete o objetivo da aplicação.
Já na interconexão em esteiras de manufatura, centros cirúrgicos ou sistemas de transporte, em que a velocidade do enlace e a qualidade de serviço do 5G mostram ao que vieram, a “inteligência” também tem de estar pertinho, para fechar o ciclo do tempo de resposta. “O 5G não faz sentido sem edge computing. E vice-versa”, resumiu Cristiano Moreira, gerente de produtos da Embratel. Ele participou do painel sobre o impacto do 5G na distribuição dos datacenters durante o Futurecom 2023.
Milissegundos do 5G e edge
Enquanto as nuvens e os grandes datacenters corporativos continuam a ser as locomotivas das transformações como IA e indústria 4.0, a arquitetura de edge computing (computação na borda) permite uma distribuição da execução dos serviços.
Moreira apresentou uma estimativa de que a latência em um acesso à nuvem pública chega a 80 milissegundos. Caso o servidor esteja próximo ao núcleo da rede da operadora, fica em 20 ms. Com edge, varia entre 1 a 5 ms. “Quando uma aplicação de IA precisa de inferências em tempo real, se migra processamento para a borda e o treinamento continua na nuvem”, exemplificou.
Diego Julidori, gerente senior de marketing de produtos Equinix, lembrou que a premissa de baixa latência já era comum nas mesas de operações financeiras (high frequence trading), onde qualquer atraso em uma transação pode representar fechamento de oportunidades ou perdas. “Aprendemos que milissegundos valem dinheiro”, disse. Ele também lembrou que com conteúdo estático, os provedores de serviços (ISPs e operadoras) já usam abordagens descentralizadas de distribuição. “Já há ecossistemas locais em operação. Com edge, esses provedores podem ampliar os serviços executados em seus datacenters”, observou.
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Em relação aos desafios da computação de borda, o gerente da Equinix esclareceu que o processamento descentralizado está longe de ser um retorno à arquitetura cliente/servidor, que tinha ônus do gerenciamento descentralizado. “Mesmo a infraestrutura física tem de ser entregue na velocidade do software”, afirmou. Ou seja, embora as máquinas sejam distribuídas, é na nuvem que se definem as funcionalidades, configurações e políticas.
Outro ponto de atenção para o ecossistema – provedores, integradores, operadoras e indústrias – é identificar os focos de retorno de investimento. “Não se vai colocar edge computing em tudo que é lugar. Não se paga. Hoje, buscamos entender demandas, trabalhar com parceiros e chegar a um ponto de equilíbrio”, disse Julidori.
Moreira, da Embratel, explicou que nos datacenters distribuídos, nas centrais mais próximas aos clientes, as práticas de automação e compartilhamento de recursos de nuvens privativas podem aumentar a eficiência operacional e a competitividade. “O custo pode baixar quando há sobra de capacidade no datacenter”, especulou. “O retorno está na orquestração da demanda com a infraestrutura da rede”, definiu.