Hoje, tudo pode ser feito a qualquer hora e em qualquer lugar. Desde o acesso a redes sociais, e-mail e videochats, escaneamento de código de barras e checkin remoto até baixar os aplicativos de sua preferência. Não é de se estranhar, portanto, que o usuário requeira recursos similares que tornem o seu trabalho mais flexível e produtivo, esteja no escritório ou longe dele.
Empresas que abraçaram essa demanda colhem os frutos da mobilidade. Para além de e-mail e internet, muitas estenderam o acesso móvel a um sem-número de aplicações, como gestão de relacionamento com o consumidor (CRM), gestão empresarial (ERP) e ferramentas de automação de força de vendas e logística, entre outras.
Além da maior produtividade e satisfação dos funcionários, um dos ganhos citados é a maior agilidade nos processos de negócios, atributo indispensável para acompanhar a dinâmica do mundo digital. Há também economia de custos quando a companhia aceita o BYOD, sigla em inglês para “traga seu próprio dispositivo”, fenômeno em que as pessoas trabalham com seus próprios smartphones e tablets, em vez de usar aparelhos cedidos pelo empregador.
O BYOD e o fornecimento de aparelhos corporativos são duas das principais tendências em mobilidade atualmente. De acordo com a IDC Brasil, perto de 25% dos brasileiros que trabalham longe de suas mesas dispõem de um aparelho móvel cedido pela empresa. Eram 21% há cerca de um ano. “Essa prática é irreversível e continuará crescendo”, afirma Pietro Delai, gerente de pesquisa da consultoria.
O BYOD também segue em expansão, ainda que moderada, no país. Segundo Delai, para cada quatro aparelhos corporativos, existem outros três que são de propriedade dos colaboradores e igualmente usados para o trabalho.
Quanto mais dispositivos móveis inteligentes chegam às mãos da população, maior a pressão nas empresas para que seus sistemas “conversem” com os dispositivos de seus funcionários.
Para Patricia Peck, advogada especializada em Direito Digital, é importante que as empresas saibam que o BYOD é incontornável. “Mesmo a empresa que ainda não adotou regra clara sobre mobilidade ou BYOD, por certo, já tem que lidar com empregados acessando informações em nuvem, usando celular para interagir via aplicativos como WhatsApp e levando tablets próprios para reuniões. Fazer vista grossa para os equipamentos particulares que já invadiram o ambiente corporativo é tapar o sol com a peneira”, diz ela.
Além da questão legal, as empresas precisam estar preparadas para esse crescimento do uso de dispositivos próprios. Um aspecto comum entre as corporações que implantaram projetos bem-sucedidos de mobilidade é o uso das chamadas plataformas de Mobile Device Management (MDM). Trata-se de software que permite aos gestores de TI gerenciar smartphones e tablets particulares ou corporativos. São soluções que podem rodar a partir da nuvem ou de um servidor localizado na empresa. No primeiro caso, em vez de comprar uma licença, a empresa paga apenas pelos recursos que usar, com flexibilidade para aumentar ou diminuir esses recursos a qualquer tempo.
“As soluções MDM são essenciais para uma adequada gestão de riscos desse ambiente, sejam de segurança da informação ou de outra natureza”, diz Patricia. Ela lembra que a tecnologia possibilita, por exemplo, a total separação entre os conteúdos corporativo e particular armazenados em um mesmo dispositivo. Dessa forma, a empresa controla o seu ambiente com recursos como criptografia, limites de acesso e antivírus, enquanto o funcionário tem total liberdade para usar o aparelho para assuntos pessoais sem que sua privacidade seja violada.
Os recursos disponíveis no MDM, do mais simples ao mais sofisticado, variam conforme a solução. Em geral, com esse tipo de software é possível, remotamente, implantar software, rastrear dispositivos com recursos de geolocalização, desativar aparelhos perdidos ou roubados ou apagar os seus dados, aplicar políticas de acesso, fazer backup e restauração de dados, bloquear acesso a aplicações não autorizadas, entre outros.
No ano de 2015, o mercado local de MDM atingiu US$ 28,7 milhões, segundo pesquisa da Frost & Sullivan, que projeta crescimento a uma taxa média anual superior a 9% entre 2015 e 2021.
Para Pietro Delai, da IDC, a adoção de MDM tende a se acelerar à medida que as empresas percebem o seu custo-benefício. “Sai mais barato se a empresa comparar os riscos da mobilidade sem gestão com os benefícios trazidos pelo software de MDM”, afirma ele.
Publicado em: Valor Econômico - 01/11/2017