Parceria Editorial
As empresas de varejo costumam se adaptar a novos cenários, mas o ritmo dessas mudanças tem aumentado bastante desde o início da pandemia de Covid-19. As preferências dos consumidores e o comportamento de compra evoluíram com rapidez, acompanhando o movimento intenso de digitalização das empresas em resposta às restrições impostas pelo período pandêmico. O resultado, para o setor, foi uma revolução que tende a se intensificar.
Imersos como nunca no ambiente digital, os consumidores, que nunca deixaram de ser o foco das estratégias de vendas, passaram a ocupar um lugar ainda mais central na atenção das empresas. Com múltiplos canais de comunicação à disposição, mudaram seu comportamento de compra, passaram a ditar tendências por meio de avaliações nas mídias sociais, e definiram novos significados na relação com as empresas, uma vez que esperam cada vez mais experiências memoráveis e uma comunicação perfeita, seja qual for o ponto de contato com a marca. E para se manterem competitivos, os varejistas enfrentam hoje um enorme desafio: usar as novas tecnologias digitais como ferramentas capazes de desvendar o que quer cada consumidor e mostrar o caminho mais curto em direção a esses anseios.
Pandemia, restrições e digitalização
Em 2020, quando as autoridades de saúde e governos determinaram o fechamento das lojas físicas, muitas empresas perderam seu principal canal de vendas. Mesmo aquelas que já mantinham operações no e-commerce sentiram o desafio de tornar o processo de compra mais ágil, simples e seguro para o consumidor. Em consequência disso, companhias de diferentes segmentos foram obrigadas, do dia para noite, a se modernizar e encarar o digital como principal canal de venda e fonte de interação e divulgação de produtos para os consumidores. E engana-se quem acredita que essa é uma tendência que deve diminuir com a desaceleração da pandemia e o avanço das campanhas de vacinação.
De acordo com a 9ª edição da pesquisa global EY Future Consumer Index (FCI), realizada em fevereiro de 2022, 44% dos entrevistados no Brasil pretendiam, no momento da pesquisa, fazer todas as suas compras em ambiente digital em um futuro próximo.
Um novo hábito que vai muito além de se manter distante das filas e aglomerações. Para muitos, comprar online se tornou sinônimo de comodidade, economia de tempo e mais facilidade para comparar preços. E diante dessa nova realidade, surge a necessidade de facilitar o processo de gestão interna e operacional das empresas de varejo a partir de ferramentas acessíveis e de fácil implementação. A solução não veio do céu, mas da nuvem. Apesar de não ser uma novidade, o Cloud Computing, ou Computação em Nuvem, há muito vinha sendo negligenciado por parte das empresas.
Novas tecnologias como agentes de transformação
Utilizar servidores na nuvem para o armazenamento de dados e para aplicações em ambientes compartilhados permite agilizar o processamento das operações de venda em suas diferentes fases, como cadastro, pagamento e emissão de notas fiscais. Além disso, com a nuvem, as empresas têm em mãos um sistema prático, seguro, flexível e expansível.
Daniel Feche, Head de Varejo para Soluções Digitais da Embratel, destaca dois pontos que sustentaram por muitos anos essa resistência das empresas em migrar para o ambiente digital. O primeiro deles era a antiga crença de que o departamento de TI deveria funcionar como uma área de suporte, em vez de desempenhar um papel mais estratégico na companhia. Um paradigma que, segundo ele, vem se modificando nos últimos anos. Outra questão era a resistência orçamentária para investimentos em novas tecnologias: “Temos visto, no entanto, uma mudança de mindset cultural, que era muito resistente, mas que, pouco a pouco, vem se transformando”, comenta.
Feche lembra ainda que, além da nuvem, a quinta geração de telefonia móvel, o 5G, que já foi disponibilizada em boa parte das capitais brasileiras, também contribui para essa revolução no varejo. Isso porque, além do aumento na conectividade trazido pelo 5G, o setor ganha a possibilidade de trabalhar de forma cada vez mais integrada, com redes multinacionais e mais velocidade de tráfego de informação. Os benefícios ainda recaem sobre a cadeia de suprimentos e logística, com a automatização do processo de distribuição e contagem dos estoques, por exemplo.
Cloud Computing e escalabilidade do negócio
Daniel Feche explica que a Embratel desenvolve um papel importante como integradora e habilitadora dessa transformação digital. E lembra que uma prática já adotada pela empresa, para qual as demais companhias devem sempre estar atentas, é o desenvolvimento de soluções já em um ambiente de Cloud para tornar mais fácil a escalabilidade do negócio. Nesse sentido, ele destaca a importância de investir em duas frentes para quem quer se destacar no mercado: velocidade e assertividade. “Em um mundo em que todo mundo compete com todo mundo e o cliente não é fiel a nada, o grande desafio é aumentar a fidelidade e os resultados.”
Feche explica que um ambiente na nuvem permite aos varejistas trabalharem mais rapidamente a apuração de diferentes dados. Consequentemente, permite a elaboração de campanhas mais específicas. Outro ganho é a possibilidade de troca de informações entre as equipes mais facilmente, visto que todo mundo tem acesso a uma mesma informação, mas com restrições de alteração.
E, apesar de ainda ser possível encontrar varejistas que preferem investir em servidores on-premisses, nos quais a própria empresa assume a responsabilidade de processar suas aplicações de hardware e software, Feche aposta que as empresas se abrirão cada vez mais para essa nova tecnologia. Isso porque servidores próprios demandam altos investimentos para garantir toda a infraestrutura, customização e configuração desses sistemas. Um custo que aumenta quando, em ocasiões de grandes volumes de venda, surge a necessidade de ampliar esse espaço.
Outro fator a ser considerado é a segurança, visto que existe a necessidade de se investir em sistemas de proteção contra incêndios, inundações, desabamentos e roubos. Já quando se adota um sistema Cloud, todos os dados são armazenados em um Data Center externo e digital. Assim, além da economia de custos, o varejista garante um sistema mais expansivo e altamente adaptável às suas necessidades. “Pensando em um contexto de Black Friday, por exemplo, quando o volume de vendas aumenta exponencialmente em uma data específica, o varejista tem a liberdade de aumentar sua capacidade máxima e no dia seguinte diminuir essa demanda, se assim desejar”, afirma.
Foco em estratégias omnichannel
Toda essa transformação não pode, no entanto, deixar de considerar um dos pontos-chave para a conversão das vendas: a experiência do consumidor. Tendo em mente que as vendas físicas continuarão assumindo um importante papel dentro do varejo, a omnicanalidade ganha ainda mais relevância nesse momento. Mais que nunca, é importante garantir uma percepção única de marca entre os consumidores, independentemente do canal utilizado para venda ou divulgação de um produto. O consumidor hiperconectado quer ter, por exemplo, a liberdade de comprar na loja e receber em casa, ou o inverso: comprar online e retirar o produto em uma loja física. Uma demanda que pode ser solucionada com investimentos em Cloud que ajudem os varejistas a manter estoques integrados e estruturar a logística, proporcionando novas experiências de check-out.
“Há alguns anos, o conceito de omnicanalidade era muito mais um discurso do que uma realidade dentro das operações das empresas”, avalia Feche. Ele faz uma analogia ao Mito da Caverna, de Platão. “Todo mundo estava dentro da caverna, vendo sombras que achavam ser o mundo real. Todos foram colocados para fora e, apesar do medo e do estranhamento, muita gente tem descoberto que há muito mais oportunidades aqui fora do que lá dentro. É um caminho sem volta.”
*Carlos Aros é editor-executivo MIT Technology Review Brasil