Projeto Natick como a Microsoft quer levar data centers para o fundo do oceano

Projeto Natick: como a Microsoft quer levar data centers para o fundo do oceano

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Lançado em 2015, Projeto Natick atualmente está na fase 2, em que Microsoft analisa potenciais benefícios e características da iniciativa.



Por Redação em 11/03/2021

Lançado em 2015, Projeto Natick atualmente está na fase 2, em que Microsoft analisa potenciais benefícios e características da iniciativa

Já imaginou sua empresa ser mais sustentável ao usar data centers instalados no fundo do oceano? É essa a missão da Microsoft com o Projeto Natick, lançado em 2015. A iniciativa, que atualmente está na segunda fase, quer entender como esses servidores podem beneficiar os usuários de nuvem.

Em uma conversa, Ronan Damasco, diretor de tecnologia da Microsoft Brasil, explicou que metade da população mundial vive a menos de 200 quilômetros do oceano. Então, ter esses servidores offshore“aumentaria a proximidade entre a estruturas e as pessoas”.

Ou seja, esses data centers proporcionariam mais velocidade e capacidade de resposta. Porém esses não são os únicos benefícios para toda a sociedade.

No campo da sustentabilidade, os servidores são fabricados com materiais reciclados e aproveitam a energia verde produzida localmente. Além disso, podem ser reciclados ao fim da vida útil – que deve durar aproximadamente dez anos.

Já na visão de negócios, os data centers da Microsoft garantem baixa latência, essencial para o tráfego de sinais pela internet – geralmente, eles viajam a cerca de 200 quilômetros por milissegundo. “Ou seja, se estiver a 200 quilômetros de distância de um data center, você teria resposta em cerca de 2 milissegundos, mas, se estiver a 4.000 quilômetros, o tempo aumentaria para 40 milissegundos”, explica Damasco.

Outra vantagem é o tempo de implementação. Segundo o executivo da Microsoft, a instalação do data center subaquático pode ser feita em menos de 90 dias.

projeto natick da microsoft
Foto: Jonathan Banks/Microsoft

Projeto Natick: as diferenças da fase 1 e da fase 2

O Projeto Natick foi lançado em 2015 e, na fase 1, a ideia da Microsoft era decidir a viabilidade do conceito de data center subaquático. Além disso, a companhia quis entender se havia a possibilidade de operar remotamente um servidor “lights out ou apagado.

Um data center apagado, como explica a Microsoft, é um servidor que está física ou geograficamente isolado. Assim, suas flutuações ambientais e o acesso humano são limitados. Com isso, é possível economizar a energia usada para iluminar e manter um clima adequado em torno das portas usadas com frequência apagando as luzes.

Enquanto a fase 1 conseguiu demonstrar que é possível ter data centers submersos, a fase 2 serve para revelar problemas operacionais e de design. Assim, a produção desses servidores se dará se essas questões precisarem de um refinamento adicional.

Os aprendizados da Microsoft com o projeto foram:

– Fase 1:
Implantar e operar equipamentos de data center submersos com sucesso. Os desafios desta etapa foram o resfriamento de eletrônicos em grande escala e a resistência aos efeitos de incrustação biológica (acúmulo de micro-organismo, algas, plantas etc.).

– Fase 2:
Confirmação de que é possível fabricar módulos de data center submarino em escala real e instalá-los em menos de 90 dias. Além disso, a abordagem é mais sustentável e melhora o desempenho e confiabilidade do data center com comparação com um servidor em ambiente terrestre.

No vídeo abaixo (em inglês), você confere mais detalhes do Projeto Natick:

Todas as tecnologias provisionadas com a nuvem vão ser potencializadas

Não é novidade que a computação em nuvem é que viabiliza a adoção de outras tecnologias nas companhias. E, com o uso de data centers submersos, Inteligência Artificial, IoT e outras inovações, o desempenho foi melhor, garante Damasco.

O diretor de tecnologia conversou um pouco mais sobre o projeto com o Mundo + Tech, abordando a questão do uso de data centers baseados em energia verde e as possibilidades para as empresas que apostam na computação em nuvem. Confira.

Mundo + Tech: O projeto Natick foi lançado em 2015. Depois da inspeção recente dos servidores, qual o próximo passo do projeto? Em quanto tempo vocês acreditam que o projeto deixará de ser um “caso de uso” para ser uma realidade?

Ronan Damasco: Atualmente, seguimos em fase de pesquisa do Projeto Natick. Portanto, estamos realizando análises sobre o projeto e constantemente estudando os potenciais benefícios e características da iniciativa.

MMT: Os 864 servidores foram submersos na costa norte da Escócia. Há algum motivo específico? Há outros pontos do globo que serviriam para o mesmo propósito?

RD: O objetivo do Projeto Natick era promover a instalação de data centers de forma mais sustentável com relação à energia, resíduos e água, bem como permitir que os data centers fossem localizados mais próximos aos clientes que estão em localidades litorâneas, o que resulta em mais velocidade de processamento para os usuários. 

A escolha das Ilhas Orkney para a implantação se deu, em parte, porque a rede local é 100% advinda de energia eólica e solar, além de utilizar tecnologias de energia verde experimental – atualmente em desenvolvimento pelo Centro Europeu de Energia Marinha. Isso, portanto, ia ao encontro do propósito da Microsoft de sustentabilidade, e a utilização funcionou muito bem. 

Além disso, o responsável pela implementação do projeto, Ben Cutler, gerente de projetos do grupo de pesquisa de Projetos Especiais da Microsoft, está estudando formas de colocalização de um data center subaquático com um parque eólico offshore a fim de aproveitar os ventos para geração de energia que alimentaria o data center.

projeto natick da microsoft
Foto: Jonathan Banks/Microsoft

MMT: Quais as vantagens de ter data centers no fundo do oceano? Vocês acreditam que será uma tendência, visto que a quantidade de dados gerados vai demandar cada vez mais processamento, banda, memória etc.?

RD: Após a transformação digital que tivemos durante a adaptação de empresas e organizações ao redor do mundo devido à pandemia, a demanda pela computação e pelos serviços em nuvem cresceu muito. Com a implantação de outros data centers subaquáticos, a latência, ou seja, o tempo que os dados levam para trafegar entre a origem e o destino, pode se tornar mais rápida para os clientes próximos às regiões em que os data centers estiverem instalados. 

Estima-se que metade da população mundial viva a menos de 200 quilômetros do oceano, portanto, os data centers offshore aumentariam a proximidade entre a estrutura e as pessoas, proporcionando mais velocidade e capacidade de resposta.

Um exemplo prático é que os sinais viajam pela internet a cerca de 200 quilômetros/milissegundo. Ou seja, se estiver a 200 quilômetros de distância de um data center, você teria resposta em cerca de 2 milissegundos, mas, se estiver a 4.000 quilômetros, o tempo aumentaria para 40 milissegundos.

Outro benefício é o rápido provisionamento, que permite a diminuição do tempo de implementação de um data center para até 90 dias. Por fim, um grande ponto positivo é a sustentabilidade, um dos grandes propósitos da Microsoft com o projeto, tendo em vista que o data center subaquático visa a utilização de energia verde produzida localmente (podendo ter emissão zero); não consome água para resfriamento ou para qualquer outro propósito; e há a possibilidade de reciclar toda a estrutura do data center após o fim da sua vida útil – já que ele  foi construído, também, com esse objetivo.  

projeto natick da microsoft
Foto: Jonathan Banks/Microsoft

MMT: De certa forma, data centers submersos vão impactar positivamente em levar conectividade a diversos pontos do globo? Eles poderiam, por exemplo, possibilitar uma computação de borda ainda mais ágil?

RD: Sim, com os data centers mais próximos aos clientes a partir da sua instalação offshore, a conectividade melhora devido à rapidez no tempo de resposta. Este benefício, aliado às potencialidades da computação de borda, também deve aumentar ainda mais a velocidade das conexões. 

MMT: Quais outras tecnologias poderiam ter melhor desempenho com data centers submersos?

RD: Todas as tecnologias provenientes do uso da nuvem terão seus desempenhos melhorados, como soluções de análise de dados, Inteligência Artificial, Internet das Coisas, realidade mista, entre outras. O uso de data centers subaquáticos tem o potencial de atuar como um incentivador para os avanços tecnológicos no mundo, uma vez que as empresas compreendam os resultados que podem alcançar a partir de seu uso. 

MMT: Para as empresas, o que um data center submerso representa?

RD: As empresas contarão com menos latência, mais disponibilidade de rede, maior capacidade de processamento, e isso permitirá a implementação de outras tecnologias com o objetivo de aumentar a eficiência dos negócios, além de proporcionar a redução de custos. Além disso, temos o aspecto sustentável do data center, que gera um benefício para todos.

MMT: Sobre a manutenção desses servidores, como é que ela foi pensada para não gerar uma parada das operações e até mesmo danos ao meio ambiente?

RD: Por enquanto, estruturamos as implantações de data center Natick de até cinco anos, por levarmos em conta a previsão de vida útil dos computadores contidos na embarcação. Após cada ciclo de cinco anos, o navio do data center deve ser recuperado, recarregado com novos computadores e reimplantado. A expectativa de vida de um data center do Projeto Natick é de cerca de 20 anos. Depois disso, ele é projetado para ser recuperado e reciclado.

Além disso, todo o desenvolvimento do projeto foi pensado de forma a reduzir os impactos ambientais. Portanto, a busca pelo uso de energias verdes e a redução do uso de água foi uma constante. Durante o período que o data center ficou submerso, a Microsoft realizou o monitoramento do ambiente, registrando o desempenho dele, mantendo o controle de tudo, desde o consumo de energia e os níveis de umidade interna até os níveis de som e temperatura; porém a avaliação física dos resultados e as condições do data center só começaram a serem feitas quando ele foi retirado em setembro do ano passado. 

MMT:  A ideia da Microsoft é ter esses servidores para uso próprio ou criar um ecossistema com outras companhias de data center/tecnologia/inovação?

RD: O projeto ainda está em fase de pesquisa e focado em determinar a viabilidade econômica de operar data centers em contêineres offshore perto de grandes centros populacionais, mas gostaríamos que os data centers submersos passassem a ser adotados em larga escala, mais próximos da população, podendo, assim, impactar na conectividade e na inovação em todo o globo. 

Principais destaques desta matéria

  • Projeto Natick da Microsoft instala data centers no fundo do oceano.
  • Além de serem mais sustentáveis, servidores melhoram o desempenho das empresas por estarem mais próximos dela.
  • Confira uma entrevista com Ronan Damasco, diretor de tecnologia da Microsoft Brasil, sobre as expectativas da companhia em relação ao projeto.


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