Uma nova onda de transformação digital pós-pandemia tem características específicas, segundo Viviane Martins, CEO da consultoria Falconi, e de Ana Buchaim, vice-presidente de Pessoas, Marketing, Comunicação, Sustentabilidade e Investimento Social da bolsa de valores B3. De acordo com as executivas, o momento atual exige resultados e isso significa que os investimentos em tecnologia não vão crescer desordenadamente, mas sim pautados pela eficiência que agregam às empresas.
Ambas participaram do painel Applying acionable technology in Brazil (Adotando tecnologias acionáveis, em tradução livre) durante o Web Summit Rio, nessa terça (2 de maio), com mediação do editor da Folha de São Paulo, Raphael Hernandes.
“A tecnologia tem que ter uma estruturação conectada com negócios”, resume Viviane, que destaca que a tendência é mundial e não apenas do mercado brasileiro. Para ela, as iniciativas precisam envolver processos, podem e devem ser medidas, inclusive com a adoção de métricas, como os indicadores-chave de desempenho (KPIs).
Taxas altas de falhas em digitalização
O ponto de vista é confirmado por Ana, que citou um artigo publicado pelo professor Didier Bonnet, do IMD, na Harvard Business Review. De acordo com pesquisador, vários estudos de acadêmicos, consultores e analistas indicam que as taxas de transformações digitais que não cumprem seus objetivos originais variam de 70% a 95%, com uma média de 87,5%.
Ainda sobre as corporações, Ana argumenta que não haverá crescimento sem investimentos, por parte das companhias, em formação e treinamento de seus colaboradores. A opinião é compartilhada por Viviane. “A fórmula para transformar negócios envolve a combinação de pessoas e de tecnologia”, complementou a CEO da Falconi. Ela acrescentou que é necessário preparar os profissionais em habilidades de segurança e em questões envolvendo privacidade, entre outras demandas.
Transformação digital também envolve setor público
Viviane lembra ainda que, além de processo e métricas, a transformação digital exige governança e cultura corporativa. A avaliação se aplica, inclusive, à Inteligência Artificial. Para ela, recursos como AI e blockchain podem impactar positivamente nos custos, ao indicar ações como a redução de inventários. “As implementações devem envolver toda a organização”, disse. Na opinião da executiva da Falconi , isso não se refere somente à área de TI.
O processo de transformação digital também não está restrito ao universo privado. No setor público, a digitalização se justifica, entre outros fatores, pela falta de acesso à tecnologia por parte de cerca de 30 milhões de brasileiros.
O dado citado por Viviane está alinhado com a recente pesquisa conjunta do Instituto Locomotiva e da consultoria PwC, a qual destaca que 71% da população com mais de 16 anos, no Brasil, não consegue usar a internet todos os dias.