Os dados estão em todos os lugares. E com a Lei Geral de Proteção de Dados, as agências de publicidade precisam trabalhar em conjunto com os clientes para manter as melhores práticas e garantir a segurança das informações dos usuários. No Amcham Talks, Tulio Kehdi, fundador da agência de publicidade Raccoon, conversou com o Mundo + Tech sobre quais iniciativas a empresa tem tomado com a LGPD e a importância dos dados no cotidiano da agência.
Mundo + Tech: A Raccoon é uma agência de publicidade, mas com um foco em tecnologia. Como vocês têm olhado para a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD)?
Tulio Kehdi: A gente tem essa preocupação e começamos a tomar uma série de medidas com a ajuda de alguns advogados e de outras empresas. Também estamos conversando com os nossos clientes para entender o que eles estão fazendo também do lado deles. A LGPD afeta as agências de publicidade, mas não tão diretamente quanto os clientes. O que fazemos é dar suporte a eles para fazer as alterações necessárias enquanto, do nosso lado, estamos adequando o que foge dos padrões da nova lei.
M+T: Vocês são uma agência que contrata engenheiros para levar uma visão mais analítica aos negócios dos clientes. Vocês têm testado algoritmos, Inteligência Artificial e outras soluções?
TK: A gente tem um time de tecnologia que nos ajuda em dois grandes blocos. Um é a automação de qualquer rotina que a gente tenha para encurtar o caminho e ganhar mais tempo para analisar as coisas com mais calma e desenvolver algo mais difícil no nosso trabalho. O outro bloco é fornecer o dado de maneira transparente para o cliente e para nossa agência. Temos também um time de BI com muitos estatísticos juntos para consolidar as informações. Já o que temos de Inteligência Artificial é para fazer algumas análises mais gerais das contas, mas não é o nosso maior aspecto do nosso trabalho.
M+T: Há uma discussão sobre quem vigia os algoritmos para que eles não sejam racistas ou sexistas. Qual a preocupação que uma agência de publicidade deve ter?
TK: É uma pergunta bem interessante e difícil. Quando a Raccoon pensa em desenvolvimento de tecnologia, talvez a agência não esteja nesse estágio de entender qual é o viés que a gente dá para os algoritmos porque as análises que a gente faz não são baseadas no usuário, mas em grandes blocos e não sei se têm tanto espaço para o trabalho que executamos. Mas o que fazemos é integrar esse cuidado com o preconceito no processo seletivo. Então nas etapas iniciais treinamos os entrevistadores sobre o unconscious bias (estereótipos aprendidos que são automáticos, não intencionais, profundamente enraizados e capazes de influenciar o comportamento) porque você tem viés inconsciente que acaba sendo utilizado para determinar se a pessoa é boa ou não, se ela deveria trabalhar naquela empresa ou não. É algo que tomamos bastante cuidado.
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Foto: Matheus Campos/Amcham Brasil