6g luciano mendes Luciano Leonel Mendes (Foto: Ascom/Inatel)

6G é a rede que vai integrar todas as redes, explica especialista

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Tecnologia 5G vai pavimentar a estrada para a futura rede 6G, afirma Luciano Mendes, professor do Inatel



Por Redação em 03/10/2023

Luciano Leonel Mendes, professor do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel) está à frente do recém-criado Centro de Competência na área de Tecnologia e Infraestruturas de Conectividade 5G e 6G, uma iniciativa financiada pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). O Centro vai catalisar uma série de iniciativas no ecossistema de telecomunicações interessado nas pesquisas para as futuras aplicações das redes 5G e 6G.

Mestre pelo Inatel, doutor pela Unicamp e pós-doutor pela Technische Universität Dresden, da Alemenha, Mendes explica, entre outras coisas, como a tecnologia 5G vai pavimentar a estrada para a futura rede 6G.

Com o 5G em processo de ativação no Brasil, já é possível falar em 6G?

6g luciano mendes

Não só é possível, como necessário. O estudo dos sistemas de comunicação sempre começa pelo menos dez anos antes da tecnologia chegar ao mercado. O que se está vendo hoje, com relação ao 5G, é fruto de pesquisas que começaram em meados de 2010. Ou seja, estamos vendo, agora, uma tecnologia que tem mais de uma década de pesquisa. E o que acontece quando a gente não atua na etapa de pesquisa? A rede será concebida para resolver os problemas daqueles países e daquelas regiões que investiram na pesquisa. O Brasil sempre sofreu com esse problema e nem sempre é possível adequar o que foi concebido fora do país aos problemas locais.

Poderia dar um exemplo?

6g luciano mendes

Nós temos uma lacuna de conectividade na área rural. O Brasil tem uma demanda muito grande pela conexão no campo, mas nunca atuou na pesquisa de sistemas de comunicações móveis para essa área, no passado. Portanto, as redes nunca foram concebidas para resolver essa lacuna e ficamos tentando usar a tecnologia desenvolvida para grandes centros urbanos, de forma a atender às demandas do agronegócio. Hoje, temos uma lacuna de conectividade enorme quando saímos da área urbana. E há outras aplicações no Brasil com o mesmo desafio, caso da mineração e da indústria de óleo e gás.

Isso muda com o 6G?

Foto: Rodrigo Cabral/ASCOM/MCTI

Sim. Temos uma série de verticais de mercado, que são extremamente importantes e que acabaram ficando fora de projetos das redes anteriores. Esse cenário muda com o 6G. O Brasil está entrando na pesquisa junto com grandes centros ao redor do mundo. Globalmente, os estudos sobre 6G começaram por volta de 2018 na Europa. As iniciativas, no Brasil, aconteceram por volta de 2020. Agora, o Inatel está coordenando um projeto nacional na área de 6G, com várias instituições espalhadas pelo país. Com financiamento do MCTI e da Embrapii, fomos escolhidos para ser o centro de competência em 5G/6G, justamente para ser um motor por trás dessa colaboração internacional e garantir que as demandas nacionais sejam contempladas.

O que levou à criação do Centro?

Nós já tínhamos uma pesquisa em 5G e criamos um centro de referência em radiocomunicações. Neste ano, vencemos o edital da Embrapii para criação de um centro de competência de em redes 5G/6G. A ideia é conceber soluções para endereçar esses problemas de tecnologia e investir na formação de pesquisadores, de forma a resolver as dificuldades e levar essa resolução aos órgãos de padronização. Nossa meta não é simplesmente resolver o problema e escrever um artigo ou criar um protótipo, de forma a ficar na gaveta de algum pesquisador. Se não tiver um padrão que possa reger como essa comunicação funciona, não teremos garantias de que os terminais móveis vão ser compatíveis com ela, entre outros resultados.

Para que áreas essas pesquisas devem ser direcionadas?

Estamos coordenando um mapeamento de como deve ser endereçada a conectividade. Áreas como agronegócio e mineração aparecem como importantes verticais. Há estudos que identificaram que somente 23% das áreas cultivadas no Brasil têm algum tipo de conectividade, mas, se tivéssemos um aumento de cobertura para 90%, poderíamos produzir até R$ 100 bilhões a mais ,em função do aumento de produtividade. São números bem expressivos.

6g luciano mendes

Na mineração, será possível ter uma tomada de decisão mais rápida, além do maior uso de robôs e sistemas autônomos. O ganho de segurança é claro: robôs poderão ser mais usados em atividades com risco. Em segurança pública, os ganhos envolvem a maior capacidade de adquirir informação em tempo real, inclusive em incidentes envolvendo, por exemplo, elementos químicos perigosos. O mesmo acontece com a exploração de áreas florestais e no caso de desmatamento. Com a ampliação da conectividade é possível medir, de fato, os impactos, o que permite a tomada de decisões precisas e não enviesadas.

O que que se espera da participação dos fabricantes e das operadoras nesse ecossistema?

Esperamos que eles sejam partes integrantes e compartilhem com o Centro aquilo que mais entendem, ou seja, quais são demandas de curto, médio e longo prazo. O Centro não vai atender uma empresa específica, porque não é seu objetivo resolver o problema de um fabricante ou de uma operadora, mas, sim, resolver o problema do mercado. A ideia é discutir quais são as dificuldades que eles percebem em relação ao 5G/6G e o que está faltando, do ponto de vista de tecnologia. Vamos pensar a rede em uma escala maior e apresentar essa solução para todo o mercado.

Como podemos caracterizar o 6G e diferenciá-lo das gerações anteriores?

6g luciano mendes

A primeira e a segunda geração (2G) focaram na comunicação pessoal (voz), e a terceira geração (3G), trouxe a questão da conectividade, ou seja, dados. Na quarta geração (4G), esse processo evoluiu bastante com a internet móvel. O 5G veio melhorar a experiência, com maior velocidade e focado em assuntos específicos, como as redes privativas. O 6G abre novos horizontes, no sentido de ser uma rede voltada mais para as demandas gerais da sociedade.

Será uma rede que vai unir todas as outras, formando uma única infraestrutura. A integração deve ser de tal forma que, para o usuário, será indiferente qual terminal ele vai utilizar para estar conectado, pois a conexão será possível em qualquer interface.

Na prática, então, o celular deixa de ser essa única interface?

Hoje, basicamente interagimos com um celular usando o dedo. Não se entra nas redes sociais nem se tira foto – de forma geral – sem o uso do dedo. É um limitante, e o 6G vai ampliar a interação para outras sensações táteis. Além disso, ele, agrega, entre outras coisas, a capacidade de geração e processamento nativos de imagem. Estamos falando de uma rede não só de comunicação, mas, também, de sensores. Ela está sendo concebida para ser o centro da integração do mundo digital e biológico. Um exemplo prático é o embarque em aviões, um processo extremamente burocrático e estressante, que poderá se transformar com o 6G. A ideia é que ele seja facilitado com recursos de sensores, integrados ao ambiente com análise comportamental, baseada em inteligência artificial. Com isso, podemos ter um processo ágil, que identifica ameaças potenciais e facilita os trâmites. É apenas um exemplo.

Mas, temos também um desafio de infraestrutura…

Um baita desafio, do ponto de vista da infraestrutura! Porém, o 5G está dando os primeiros passos para se construir essa rede de distribuição. A capilaridade que está sendo implantada permite a conexão entre terminais e estações rádio base, mas também permitirá colher outros dados. Tendo inteligência embarcada, será possível a tomada de decisão sobre quais dados devem ser coletados por quais dispositivos, e como estes devem ser utilizados. Eventualmente, poderemos precisar de mais capilaridade, mas a base do 5G é essencial para o futuro do 6G.

Qual é sua expectativa de quando teremos a implantação do 6G no Brasil?

Essa é uma pergunta bastante difícil, porque estamos falando de algo que não existe. É preciso ter um padrão, como foi o caso do 5G, que “passou a existir” em 2018, quando o padrão 5G foi estabelecido. Em termos de evolução, muitos apostam que veremos primeiras redes de 6G no mundo em meados de 2030 a 2035. A previsão inclui demonstrações de casos de uso e, eventualmente, alguma rede comercial em área restrita.



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