Futurecom Digital Series aborda tecnologias emergentes que conseguem impulsionar empresas inseridas na Indústria 4.0.
A Inteligência Artificial (IA) e o Blockchain podem ser considerados tecnologias emergentes, mas também complementares e sinergéticas. E o motivo é simples: ao mesmo tempo que há captura de dados de maneira inteligente, existe integridade, segurança e descentralização das transações.
Quando juntas, essas tecnologias conseguem escalar os processos de uma empresa, que acaba enxergando benefícios nas tomadas de decisões baseadas em dados. Esse tema foi discutido em um dos encontros da Futurecom Digital Series Indústria.
O painel “Inteligência Artificial e Blockchain na Indústria 4.0: tornando a cadeia produtiva mais eficiente e segura” contou com a participação de Cristina Tarricone, conselheira do Instituto Colaborativo de Blockchain e ex-vice-presidente regional de relacionamento da Gartner.
“Hoje existe na Indústria 4.0 uma convergência entre as tecnologias digitais, que formam, de certa maneira, uma fábrica inteligente”, comentou a especialista. O resultado é que as companhias conseguem personalizar produtos e serviços pensando sempre na ponta, ou seja: no cliente.
Segundo Tarricone, a quarta Revolução Industrial, ancorada no uso e convergência de tecnologias, é real: “e estamos navegando por ela”.
Processo de digitalização durante a pandemia
Outro ponto levantado pela fala de Cristina foi o impacto da pandemia de COVID-19 no processo de digitalização de muitas empresas. “A pandemia trouxe outro tipo de demanda e atingiu, principalmente, as empresas que não possuíam um planejamento digital.”
Uma pesquisa da ManpowerGroup, uma consultoria norte-americana de gestão de pessoas, mostrou que 42% dos empresários brasileiros entrevistados intensificaram os investimentos voltados para a digitalização de seus processos e operações de fábrica como resposta à pandemia. A média global, segundo a empresa, é de 38%.
O número, diz Tarricone, é um bom indicativo, mas também traz questionamentos: “por que esses 42% das empresas estão nesse movimento? Provavelmente, porque elas não estão tão avançadas como deveriam estar para um momento tão difícil quanto a pandemia”.
Por outro lado, a pesquisa mostrou que as companhias inseridas na Indústria 4.0 passaram a investir mais em tecnologias como Blockchain, IA, Big Data e IoT, e planejam, em sua maioria (90%), aumentar ou manter o quadro de funcionários.
As vantagens do Blockchain na Indústria 4.0
O Blockchain pode ser visto como uma tecnologia disruptiva na Indústria 4.0, acredita Tarricone: “você pode vê-lo como uma tecnologia ou uma plataforma, mas o Blockchain vai acabar com a intermediação de processos, extremamente centralizados nos dias de hoje.”
Ela explica esse conceito a partir da Internet 2.0. Quando criada, a expectativa era a de que a rede fosse descentralizada. Porém, os serviços disponibilizados ao longo do tempo exigiram que alguns componentes – chamados de autenticadores – validassem a rede.
Por exemplo, ao fazer um pagamento para outra pessoa, essa transação precisa ser validada por uma entidade. No Blockchain, a tecnologia permite que as duas partes conversem entre si, sem que haja uma intermediação no processo.
“Isso muda fundamentalmente a maneira pela qual serviços e modelos de negócios ocorrem hoje”, disse a ex-executiva da Gartner durante o painel.
Além da possibilidade de ter o contato mais direto com o cliente, sem intermediações, Tarricone afirma que empresas que apostarem no Blockchain terão uma outra vantagem competitiva: a credibilidade.
“Hoje existe uma desconfiança de como as pessoas olham para os executivos, as empresas e o governo”, comentou a especialista. No caso do Blockchain, todos os dados trafegados serão autenticados e criptografados antes de ser enviados para a outra ponta (no caso, um cliente ou fornecedor por exemplo). Ou seja: quando essa pessoa receber os dados, ela terá a certeza de que não é uma informação digital adulterada.
Os desafios de inovar com Blockchain
Apesar de o Blockchain ter potencial para impactar a forma com que as empresas se relacionam e até mesmo mantêm seus produtos e serviços, Tarricone entende que sua adoção aqui no Brasil não acontece com a agilidade necessária.
Para a especialista, ao adotar o Blockchain, a empresa terá de partir para um novo modelo de negócio. Isso porque, como foi citado, uma empresa se relaciona com o fornecedor ou o usuário final a partir de uma entidade centralizadora. Ao adotar a tecnologia, essa intermediação deixa de acontecer: “isso muda a forma como o negócio será criado”.
Outro ponto são as questões regulatórias. Sempre que uma tecnologia emergente ganha destaque no mercado, existe uma lacuna temporal entre o seu uso e uma regulamentação para que ela seja adotada de forma ética.
“Esses são elementos que sempre retardam um pouco o uso dessas tecnologias no mercado. Sem contar os custos operacionais, porque toda tecnologia tem um ciclo de vida – do tempo de modelagem até a implementação e ganho de produtividade”, contou Tarricone.
Inteligência Artificial + Blockchain = resultados potencializados
A Inteligência Artificial (IA) permite que as empresas personifiquem a oferta de produtos e serviços. “Quando falamos de IA mesclada com Blockchain, os ganhos podem ser potencializados”, afirma Tarricone.
Como? A integração das duas tecnologias cria modelos de negócios e fontes de receitas antes inexistentes. Quando combinadas, essas tecnologias têm o potencial de melhorar a experiência que o cliente terá com um produto ou serviço.
“A Starbucks (rede de cafés) já usa tecnologias como Inteligência Artificial, Blockchain e IoT integradas em algumas lojas”, exemplifica Tarricone. A IA está presente em totens de atendimento, com o papel de personalizar ao extremo a experiência do cliente na loja, e o Blockchain, com o papel de garantir que aquele produto tem a procedência que a rede diz ter. E o IoT permite ter visibilidade sobre o desempenho das máquinas que tiram o café, ou seja, diz se precisam de um ajuste ou manutenção.
Essa realidade ainda é bem distante do parque industrial brasileiro. Segundo a consultora, apenas 1,6% das indústrias brasileiras já integram, por exemplo, Inteligência Artificial e Blockchain. Um número baixo, ainda mais quando se leva em conta o potencial.
Por enquanto, o uso de Inteligência Artificial na indústria está concentrado o monitoramento da cadeia produtiva, permitindo tomada de decisões para melhorar processos (ou seja, torná-los mais eficientes), prever falhas e, com isso, antecipar soluções para possíveis dores de cabeça. “O mercado produtivo brasileiro poderia ser alavancado (ao adotar mais as tecnologias) em termos de produtos, serviços e qualidade de entrega com mais investimentos”, afirma Tarricone.
Principais destaques desta matéria
- Inteligência Artificial e Blockchain, quando integradas, podem fornecer novas formas de receita.
- Tema foi destaque em painel do segundo dia do Futurecom Digital Series Indústria.
- Confira as principais discussões sobre essas tecnologias emergentes.