Projeto POET é um software que treina bots a partir de tentativa e erro para que eles consigam melhorar por conta própria.
Se depender de Rui Wang, pesquisador de Inteligência Artificial (IA) da Uber, logo mais a resposta para a pergunta do título desta matéria será “sim”. Toda noite, Wang deixa o Paired Open-Ended Trailbazer (POET), um software de bots virtuais do laboratório de IA da empresa, sendo executado em seu notebook.
Enquanto algoritmos “tradicionais” de Inteligência Artificial tentam encontrar um padrão para detectar sinais de câncer ou para criar drogas capazes de matar superbactérias, a proposta do POET é bem diferente. Não se trata sobre o que os bots vão aprender, mas como vão aprender.
Will Douglas Heaven, editor sênior do MIT Technology Review (é preciso cadastro para ler a matéria), conversou com Wang e outros especialistas sobre o POET e seus impactos no futuro. O pesquisador da Uber explicou como funciona o software para desenvolver uma IA que consegue criar outra IA.
O POET vai gerar diversos percursos e obstáculos aos bots. Após avaliar as habilidades de cada um, o programa vai atribuir o próximo desafio a eles. Tudo isso sem o envolvimento de um humano. A ideia é que esses bots aprendam por meio do clássico tentativa e erro.
“Em algum momento, ele [bot] pode pular de um penhasco como um mestre de kung fu.”
– Rui Wang
Quem apoia essa iniciativa é Jeff Clune, que trabalhou com Wang nesse projeto na Uber. Ao conversar com Heaven para o artigo da MIT, o pesquisador acredita que ainda não existe no mercado e sociedade uma Inteligência Artificial superior aos humanos.
Porém, a iniciativa de Wang com o POET pode ser um atalho para duas oportunidades:
- Criar uma Inteligência Artificial Geral: máquinas que podem superar humanos.
- Descobrir diferentes tipos de inteligência: possibilitando encontrar soluções de modo inesperado ou até mesmo complementar à inteligência humana.
O que levou o POET a ser criado?
Wang explica que o POET foi idealizado a partir de um paradoxo: “se você tentar resolver um problema, irá falhar. Se você não tentar resolvê-lo, é mais provável que tenha sucesso”. Já Clune exemplifica melhor esse paradoxo falando sobre borboletas.
“Você sabe que as borboletas existem, mas tentar criá-las do zero, escolhendo cada passo da bactéria ao inseto, provavelmente fará você falhar”, disse.
No caso do POET, um agente (bot) tem duas pernas e é colocado em um ambiente simples, plano e sem obstáculos. A princípio, ele não sabe andar, nem o que fazer com as pernas. Porém, com tentativa e erro (ou aprendizado por reforço), ele aprende a se mover.
Após esse aprendizado, o software cria um novo cenário aleatório e diferente do anterior, mas não necessariamente mais difícil. Caso tenha obstáculos nesse novo ambiente, o bot vai encontrar meios de superá-los.
Como o aprendizado é por tentativa e erro, os pesquisadores não atribuem uma nota, pontuação e nem há uma “prova final” para validar os bots. Tanto que, caso um fique preso no obstáculo de um ambiente, ele é direcionado para um novo.
O vídeo (em inglês) abaixo mostra um pouco como o POET funciona, confira:
Além da equipe descobrir que a troca aleatória de ambientes era essencial, ela teve outro insight: não mapear um caminho específico pode ser realmente um avanço na criação de uma Inteligência Artificial Geral?
Wang acredita que esse é um caminho, visto que os algoritmos de hoje, por mais que sejam bons, são testados e projetados à mão. Ou seja, acabam se tornando uma IA limitada por objetivos fixos.
A IA chegará a ser igual a um Exterminador do Futuro?
Há pesquisadores que são mais pessimistas sobre a evolução da Inteligência Artificial, quando treinada por conta própria. Muitos acham que a IA pode decidir que não precisa mais de humanos. Porém o projeto POET quer outra coisa.
Para o pesquisador da Uber, é tornar a Inteligência Artificial que conhecemos hoje melhor. Por outro lado, Jane Wang, pesquisadora da Deep Mind em Londres, acredita que aprimorar a tecnologia é “emocionante e assustador”, disse ela para o artigo de Heaven.
Usar a IA para fazer IA é entender que, com o tempo, a tecnologia poderá criar designs e técnicas que humanos não tinham pensado ainda. “Se toda a ideia é fazer com que a IA faça algo que você não esperava, fica mais difícil controlar”, comenta Jane Wang.
Outro ponto destacado, desta vez por Clune, é a importância da ética da nova tecnologia pensada desde o início. Como ele ressaltou, há um desafio em saber se a IA autogerada será polarizada ou se irá se comportar de maneira indesejada.
Porém, ele acredita que, conforme mais pessoas percebam o potencial dessa nova tecnologia, mais elas estarão abertas para debater como trilhar um caminho até uma Inteligência Artificial extremamente poderosa.
Já para quem é pessimista quanto à nova IA, há uma reflexão de que, provavelmente, a inteligência gerada não será semelhante à humana. “As máquinas podem nos ensinar novas maneiras de pensar”, escreve Heaven.
Principais destaques desta matéria
- Projeto de pesquisador da Uber quer desenvolver uma Inteligência Artificial capaz de criar a si própria.
- Para isso, um software chamado POET treina os bots para que eles consigam se adaptar a diversas situações a partir de tentativa e erro.
- Saiba mais como funciona essa inovação e o impacto dela no futuro.