A modificação genética das plantas está evoluindo para além do objetivo de aumentar a produtividade no campo. A ciência, agora, está encontrando formas de transformar a composição nutricional de alimentos como arroz e milho, com a meta de agregar proteínas diferentes das que eles já possuem. Chamada de agricultura molecular (molecular farming), a tecnologia pode proporcionar a geração de plantas com novas características (PNTs), adicionando vacinas, antibióticos, enzimas, vitaminas e outras substâncias benéficas à composição das novas plantas. A informação é do site The Shift.
A biotecnologia para criar essas plantas modificadas envolve a alteração genética de seu DNA com genes que trazem códigos de produção da molécula desejada – seja uma proteína ou uma enzima. O segredo está no uso da planta como um biorreator, para produzir moléculas que, normalmente, são encontradas em animais ou em culturas específicas.
Leia também:
Conheça as diferentes abordagens tecnológicas para desenvolver uma vacina
A tendência foi apresentada pelo relatório da DigitalFoodLab, onde foi destacado que as PNTs ainda estão em testes. A expectativa é de que levem pelo menos de dois a três anos para que experimentos abertos – e em larga escala – comecem a acontecer.
Testes
Diversas plantas estão sendo testadas para verificar seu uso como uma PNT, incluindo tabaco, milho e arroz, mas há também casos com canola, beterraba, mostarda, soja, alfafa e cevada. Entre as empresas que estão usando a agricultura molecular estão companhias como a BioBetter, em Israel, que usa o tabaco para produzir insulina e transferrina; e a norte-americana Alpine Bio, que quer produzir caseína e fazer queijos sem precisar de leite.
Os exemplos envolvem ainda a canadense PlantForm Corporation, que avalia a oportunidade de usar PNTs para produzir um imunoterápico no combate ao melanoma e outros tipos de câncer. A empresa, inclusive, está colaborando com o Laboratório Manguinhos para produzir medicamento similar contra câncer de pulmão aqui no Brasil, desde 2021. Outra israelense, a PoLoPo, cria ovos a partir de batatas modificadas. Já a Elo Life Systems, dos Estados Unidos, modificou um tipo de banana para ser mais resiliente à crise climática e está desenvolvendo adoçantes naturais para a indústria alimentícia, usando a fruta dos monges, de origem asiática.
Um ponto importante é que existem medidas de órgãos reguladores para salvaguardar essas pesquisas. O Canadá, por exemplo, onde ocorrem 342 testes de agricultura molecular atualmente, estabeleceu um protocolo para garantir que não haja contaminação de plantas tradicionais com PNTs.
Para ampliar a segurança desses testes e impedir que plantas geneticamente modificadas se proliferem, os estudos obrigam o cultivo em condições controladas, como estufas e ambientes fechados. O temor é que elas se reproduzam fora de laboratórios no processo de polinização, como ocorre na natureza.