O Brasil precisa superar os desafios do letramento digital e do acesso amplo a ferramentas para a conectividade, e esse caminho envolve os setores público e privado, de forma colaborativa. Foi o que comentaram especialistas no tema, ponderando que, apesar dos avanços, a desigualdade no acesso às tecnologias persiste, representando um obstáculo para a educação, bem como outros instrumentos públicos de cidadania.
O alerta foi apontado durante o Painel TeleBrasil, evento realizado em Brasília nos dias 5 e 6 de novembro.
Para Marise De Luca, do Grupo Mulheres do Brasil, há o desenvolvimento de uma sociedade mais inclusiva, menos desigual e mais sustentável. “Quando falamos de educação de qualidade no século XXI, não podemos deixar de citar a demanda crescente por utilização de tecnologias educacionais que, embora estejam amplamente disponíveis, são desigualmente acessíveis, quando não inacessíveis, principalmente quando se trata de escolas públicas. O acesso a tecnologias educacionais e à conexão à internet torna-se, portanto, cada vez mais imprescindível para garantir experiências educativas inovadoras e promover a qualidade e a equidade na educação pública”, salientou.
Responsabilidade social no setor de telecomunicações
Segundo ela, a conectividade se faz necessária para assegurar as três dimensões do desenvolvimento sustentável: econômica, social e ambiental, de forma equilibrada e integrada. “Ou seja, vivemos em um mundo onde a inclusão digital é condição essencial para o exercício da cidadania. A desigualdade de acesso à internet não só reflete a disparidade socioeconômica do país, como ajuda a reforçá-la”, completou.
Marise reforçou ainda que a inclusão digital é um dos principais vetores para uma economia mais forte e um desenvolvimento econômico aprimorado por meio de riqueza compartilhada e de equidade de oportunidades. “Por outro lado, sabemos que a transformação digital é um fato que abrange toda a sociedade. É uma realidade necessária, que não pode excluir pessoas não aptas a fazer uso das ferramentas tecnológicas, seja por falta de conectividade, por falta de dispositivos ou de alfabetização digital”, alerta.
O papel do setor de telecom
Para o CEO da Algar Telecom, Luiz Alexandre Garcia, o setor de telecomunicações tem evoluído em termos de governança e responsabilidade social. Ele destacou iniciativas direcionadas ao treinamento de idosos e ao aumento da inclusão digital.
Garcia também resssaltou a importância da cobertura de internet acessível e do custo dos serviços, alertando que a universalização do acesso à internet se torna inútil se os custos forem proibitivos. Além disso, apesar dos avanços de conectividade em escolas públicas, o desafio permanece na capacitação dos professores para a utilização das ferramentas digitais.
Conectando a Amazônia
Leandro Guerra, presidente da Entidade Administradora da Faixa (EAF), tratou do projeto de conectividade na Amazônia, uma das regiões mais desafiadoras do país e onde se tem demonstrado que é possível avançar quando reúne esforços bem endereçados do setor público e privado.
Através do projeto Norte Conectado, a EAF implanta infovias subfluviais para prover acesso à internet em comunidades ribeirinhas, conectando quase 500 escolas com velocidades de até 1 GB por segundo. “São seis infovias que, para se ter uma ideia, correspondem a 9 mil quilômetros de cabos subaquáticos. Eles compõem o programa do governo federal chamado Norte Conectado e é um desafio imenso pelo fato de ser a Amazônia”, complementou.
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Transformação e governança na educação
A MegaEdu, organização social que atua em defesa da conectividade na educação no Brasil, aponta que desde 2021 houve uma transformação digital, impulsionada pela pandemia, que ampliou o abismo social.
A diretora de políticas públicas da entidade, Liana Figueiredo, disse que a MegaEdu tem trabalhado na formulação de dados e inteligência para apoiar decisões qualificadas na universalização da conectividade.
Segundo ela, que também é conselheira do Conselho de Estudo do Fust, uma das principais diferenças de 2021 para cá foi a identificação da pauta, que, após identificada, abriu espaço para discutir a alocação de recursos, levando a pauta para o Senado Federal. “Desde essa época acontece uma transformação grande de investimento no tema e vários recursos diferentes, com fontes diferentes, sendo tocados por áreas diferentes, demandou uma coordenação disso tudo”, disse.
Com mais investimentos e uma coordenação de políticas, o passo agora é a execução ágil dessas políticas, garantindo que os recursos cheguem de fato às escolas, na visão de Liana. “Além disso, é preciso focar não apenas na infraestrutura, mas também nos dispositivos que levam a tecnologia diretamente aos estudantes”, concluiu ela.