O Nordeste brasileiro, que vem se preparando para liderar a produção de hidrogênio verde no país, terá que fazer grandes investimentos também em sua infraestrutura de transmissão de energia. Essa necessidade surge não apenas para atender à demanda da nova indústria, mas também para dar suporte ao crescimento exponencial de data centers na região, um dos pilares da economia digital.
O avanço na digitalização, em especial no uso da Inteligência Artificial (IA) e na Internet das Coisas (IoT), vem exigindo maior tráfego de dados e, por consequência, novos investimentos em data centers. Nesse caso, a energia é o seu principal insumo.
De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA), os centros de armazenamento de dados devem consumir cerca de 200 terawatts-hora (TWh) de eletricidade, o equivalente a aproximadamente 1% da demanda de todo o planeta. De fato, os data centers apresentam alto consumo de energia, em função da necessidade de refrigeração dos equipamentos.
Segundo Patrícia Raposo, em artigo publicado no Movimento Econômico, o consumo desenfreado de energia coloca os data centers na mira de ambientalistas, uma vez que essas instalações são responsáveis por uma fatia considerável das emissões globais de CO2. “A indústria de tecnologia está sendo desafiada a encontrar soluções inovadoras para reduzir o impacto ambiental desses centros de dados, como a adoção de fontes de energia renovável e sistemas de refrigeração mais eficientes”, apontou.
A realidade brasileira em data centers
Rui Gomes, CEO da Um Telecom, acredita no amplo crescimento do mercado de data centers em todo o mundo. “No Brasil, não temos nem 50 data centers Tier III (de alto padrão de segurança). Só nos Estados Unidos são quase 1.800. O Nordeste, por deter uma matriz energética limpa, oferece todas as condições para se tornar um hub de data centers no Brasil”, justificou
Segundo o Ministério de Minas e Energia (MME), o setor está vivenciando um crescimento acelerado no Brasil, o que causa certa preocupação sobre o uso de energia para manutenção desses centros.
Até o fim de abril de 2024, as solicitações de acesso ao sistema de transmissão eram de 12 projetos de data centers, o que representa uma demanda de 2,5 GW até 2037. No ano anterior, em setembro, no acumulado de nove meses, eram 22 projetos registrados nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia, segundo o MME. A comparação dos dados mostra um crescimento de 3,6 vezes, somente nos primeiros quatro meses deste ano.
“Hoje o ChatGPT tem 10 milhões de acessos diários, enquanto o Google tem 3 bilhões de acessos. Quando o ChatGPT tiver 1 bilhão de consultas, os data centers terão crescido na mesma proporção, para acompanhar a demanda”, exemplificou Gomes.
O Ceará, especialmente a capital Fortaleza, tem se consolidado como o principal polo de data centers do Nordeste brasileiro. A localização estratégica da cidade, com a presença de diversos cabos submarinos, a torna um hub de conectividade global, atraindo grandes investimentos e impulsionando o crescimento do setor de tecnologia na região.
Para Salmito Filho, secretário do Desenvolvimento Econômico do Ceará, o estado está preparado para a expansão do setor. “O data center é parte de um ecossistema que se constrói no nosso estado. Temos energias renováveis abundantes, cabos submarinos que garantem a melhor conectividade das Américas e os data centers são outra parte fundamental estratégica para se criar uma economia digital, a partir das energias renováveis, no Ceará”, apontou.