Três dos principais bancos em operação no Brasil fizeram uma espécie de master class sobre migração para a nuvem. O caminho foi detalhado por quem está à frente do processo, caso de Cíntia Barcelos, diretora de Tecnologia do Bradesco, Fábio Napoli, diretor de TI do Itaú Unibanco e Ricardo de Oliveira Contrucci, CTO do Santander, com a mediação do diretor de Tecnologia e Inovação do Banrisul.
Tatiana Orofino, gerente de Desenvolvimento de Negócios para Setor Financeiro da Amazon Web Services (AWS) Brasil, também participou do encontro, trazendo a perspectiva de parceiros dos bancos nessa jornada.
Cíntia, do Bradesco, explicou que o banco utiliza diversas tecnologias para entregar a estratégia de negócio e o foco no cliente é a base do processo. “Nós temos dois grandes objetivos na jornada para a nuvem. O primeiro é time to marketing; prontidão digital. Hoje, 98% das transações do banco já são finalizadas no meio digital” resumiu a executiva, destacando a acessibilidade e escalabilidade como ganhos. Ela também pontuou sobre o uso intensivo de analytics para escalar as movimentações.
“O segundo grande ponto é a inovação. Atualmente, tudo que é novo vai para a nuvem e só está disponível em cloud. Ficar fora da nuvem é ficar fora da inovação”, argumentou Cíntia. Para ela, recursos como IA generativa só nascem em cloud e foi justamente por meio da cloud que o Bradesco começou a utilizar inteligência artificial em escala, em 2015, com o lançamento da Bia, sua personagem de interação com os clientes.
Segundo ela, a Bia já completou quase 2 bilhões de interações com os clientes e melhorou a eficiência do atendimento em quase seis vezes. A migração para a nuvem e o uso de IA generativa também está permitindo que o banco avance para algumas inovações, como o uso de inteligência artificial para a leitura das atas do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central.
Outros dois usos da IA generativa pelo Bradesco envolvem a análise de demandas judiciais e a sumarização de opiniões enviadas à área de ouvidoria. Cíntia informou ainda que a adoção da IA generativa no trabalho dos desenvolvedores do banco mostrou um aumento da produtividade dos profissionais entre 40% e 50%.
“Por último, acho que um outro ponto super importante é que a cloud democratizou o acesso à computação quântica, o que gerou uma exponencialização também do avanço da tecnologia”, explicou. Entre os recursos usados pela computação quântica viabilizada pela nuvem estão a simulação para análise de risco e precificação de derivativos. “Agora vamos tentar fazer uma previsão das variáveis macroeconômicas também”, completou.
Migração para a nuvem, mas com os pés no chão
Fábio Napoli, do Itaú Unibanco, explicou que o processo em sua instituição mostra que a migração tem sido feita para a nuvem, mas com os pés no chão. Traduzindo: as mudanças envolvem calma e parcimônia, segundo ele. “Quando a gente fala de modernização e migração para a cloud, isso passa primordialmente pelas escolhas que fazemos e pelo foco”, resumiu.
“O cliente deve estar no centro”, continuou. De acordo com o executivo, é preciso saber por onde começar e tem que ser algo que realmente traga valor para o cliente.
No Itaú-Unibanco, ele comenta que a jornada mais forte começou em 2018, com uma aceleração destacada no final de 2020. Os dados atuais indicam que a instituição modernizou 50% de sua plataforma, o que representa 70% daquilo que o banco precisaria modernizar com o foco no cliente. Dito de outra forma, seria 70% de competitividade.
“Não enxergamos que seja necessário modernizar tudo. Quando olhamos os resultados dessa jornada de migração e comparamos o primeiro trimestre de 2018 com o de 2023, notamos um aumento de 10 vezes na quantidade de implantação”, informou. “Não buscamos a velocidade pela velocidade, mas reduzir o tempo de entrega que a gente precisa para os nossos clientes”, complementou.
Napoli deu outro dado importante sobre o processo de migração: do ponto de vista de qualidade, o banco reduziu em 98% a quantidade de incidentes que operavam na sua plataforma. De acordo com ele, as métricas mostram que o Itaú-Unibanco tem feito as escolhas corretas. Para ele, o processo de aprendizado é contínuo.
Outra avaliação do executivo é que a cloud deixou de ser infraestrutura como serviço. Segundo Napoli, o trabalho dos provedores de serviços na nuvem mostra que eles estão tirando uma carga cognitiva dos bancos, e possibilitando a montagem de um ambiente de testes de soluções novas, caso da IA generativa.
“Eles estão trazendo soluções que facilitam muito a nossa vida, para resolver os problemas reais, em vez de “ficar perdendo tempo” com coisas que a gente não consegue acelerar na jornada”, argumentou. “Temos que testar tudo o que está disponível, mas não se apaixonar simplesmente pela tecnologia, pois há muitos lançamentos em cloud”, continua. “É preciso fazer escolhas e não perder o foco no cliente que está na ponta”.
Sandboxes de experimentos com cloud
A experiência do Santander de migração para a nuvem mostra um padrão similar ao do Bradesco e do Itaú, com a cloud sendo colocada no centro de todos os novos projetos. Essa é a avaliação do CTO Ricardo Contrucci. Ele explicou que o banco se beneficia da tecnologia não só no lançamento de novos produtos, como também na modernização de suas plataformas. “Estamos conseguindo fazer coisas que não conseguíamos antes e realizar isso de maneira maciça, incluindo diversos casos de IA generativa”, adiantou.
Contrucci detalhou que o banco criou uma área específica porque era interessante fomentar o senso de inovação na instituição com uso da cloud. A solução foi criar ambientes de sandboxes, literalmente de experimentação, para avaliar soluções novas. A extrapolação da inovação para várias áreas do Santander foi outra consequência da cloud, de acordo com ele.
“Colocamos esse ambiente para todo time de arquitetura, que usa a cloud no dia a dia, mas também para área de TI e, no limite, vamos fazer isso para todo o banco”, resumiu.
Em termos de números, o diretor adianta que o Santander roda cerca de 90% de tudo o que tem de soluções na nuvem – privada ou pública e o principal benefício a curto prazo é a capacidade de testar coisas novas. Estar na nuvem permite que o banco faça isso, inclusive atendendo questões regulatórias. O processo, segundo ele, também tem sido bem-sucedido pela atuação com os parceiros, como a AWS e a Microsoft.
Tatiana Orofino, da AWS Brasil, confirmou a avaliação de Contrucci sobre a parceria. De acordo com ela, a agenda de inovações na nuvem envolve foco no cliente final e o papel dos provedores de soluções é trazer a capacidade computacional para os bancos, de maneira ágil e com ferramentas flexíveis. “A ideia é trazer uma série de recursos não só computacionais, mas também cada vez mais elevando a conversa em infraestrutura e também chegando em negócios. Ou seja, fazer com que os negócios estejam cada vez mais nas mãos de quem está mirando nos benefícios para o cliente na ponta”, finalizou.