Quem se lembra da “invasão argentina” para a final da Copa Libertadores da América entre o Boca Juniors e o Fluminense? O Flu levou a melhor, entrando para história como campeão sulamericano de futebol. Ocorre que o mapa de calor de visitantes argentinos no Rio de Janeiro, principalmente aos arredores do estádio, entrou igualmente para a história, e ele foi gerado pelo serviço de dados estatísticos de telefonia móvel da Claro.
A evacuação de ucranianos, no início do conflito com a Rússia, em fevereiro de 2022, também foi demonstrada pela tecnologia avançada de análise da mobilidade urbana usando dados da telefonia móvel. Em São Paulo, os mesmos criadores do Rock in Rio organizaram o festival de música The Town, em setembro passado, e, usando a mesma tecnologia, foi possível saber que cerca de 100 mil pessoas estiveram no Autódromo de Interlagos – onde ocorreu o evento – no dia mais movimentado de shows.
A lista de exemplos é mais extensa, e começou em 2017, quando a tecnologia ajudou a prever a disseminação de casos de Zika Vírus e Chikungunya, passando também por análises durante a pandemia, avaliando o índice de mobilidade por bairros.
O Claro Geodata é o serviço de análise da mobilidade urbana da Embratel, que utiliza o alto volume de dados anonimizados e agregados gerados pelos telefones celulares da Claro para fornecer informações de fluxo de pessoas por dia, horário, origem/destino e outros insights estatísticos para negócios e governos. A tecnologia utilizada é de desenvolvimento suíço. Mais especificamente, de um pós-doutor em física quântica e computacional pela Universidade de Barcelona: Alberto Hernando de Castro.
Inovação suíço-brasileira
Ainda em 2017, na semana em que registrava o CNPJ da sua nova empresa, a Kido Dynamics, Alberto palestrava em um curso para investidores na Suíça, onde um brasileiro, Luiz Eduardo Viotti, era um dos alunos. “Ao término, me aproximei do Alberto e perguntei se ele tinha interesse em operar no Brasil. Ele me respondeu que estava começando o negócio naquela semana, mas que sim, tinha interesse”, lembra Viotti.
O brasileiro havia atuado por décadas em grandes consultorias, como a KPMG e a PwC, para o setor de TI e Comunicações. “Procurei a Claro, que logo topou a ideia de formatarmos o novo serviço. Porém, não tínhamos acesso contínuo aos dados da operadora no início, e trabalhamos por projetos: solicitávamos as informações de cada projeto específico”, lembra Viotti. “Tempos depois, com a evolução das entregas, passamos a operar conjuntamente a base de dados, e desde então temos extraído modelos incríveis”, completa.
Além de aproximar, Viotti investiu na Kido no início e, portanto, se tornou sócio-investidor. Hoje ele compõe o board da companhia. Ele também operou à frente da Kido Dynamics no Brasil durante os três primeiros anos.
Todo o processo foi fomentado e incentivado pela Swissnex, uma agência de inovação do governo suíço que atua em projetos de educação, pesquisa e inovação para conectar a Suíça com o restante do mundo. “Além do Brasil, operamos diretamente na China, Estados Unidos, Índia e Japão. Mas também mantemos atuação global em parceria com os conselheiros científicos de cada embaixada da Suíça no mundo”, explica Bianca Campos, deputy CEO da Swissnex.
A Suíça é um dos países mais inovadores do mundo, despontando, muitas vezes, como o número um em alguns rankings. Mas, segundo Bianca, o país entendeu que não era possível continuar fazendo a diferença com inovação se não fomentasse a colaboração global e a internacionalização. “Foi assim que a Swissnex surgiu, há 20 anos, com a ideia de identificar oportunidades em outros países, conectar e apoiar o stakeholder suíço localmente”, diz.
A Swissnex trabalha com projetos de inovação baseados em ciência, seja por meio de um pesquisador – que precisa se unir a outros para avançar com o projeto de pesquisa – ou seja pelo que chamam de empreendedores científicos, que fundam a sua própria empresa de inovação (startup). No caso das startups, Bianca detalha que os apoios são direcionados às pesquisas científicas que já passaram pela fase de maturação, como foi o caso da Kido Dynamics.
Por que telefonia móvel?
A tríplice formada pela Embratel e Claro, com intermediação da Swissnex e tecnologia da Kido Dynamics vem avançando para a entrega de insights cada vez mais relevantes a negócios e governos. No cerne da solução está a rede de telefonia celular e algoritmos de Big Data e Machine Learning, que transformam os CDRs (call detail records) anonimizados e agregados da operadora Claro em informação útil e valiosa para diversos segmentos de mercado, como turismo, mobilidade, marketing out-of-home e varejo.
Além disso, em abril do ano passado, um estudo baseado em dados do Banco Mundial e do Statista contabilizou que cada habitante brasileiro tem, em média, 1,18 smartphone em operação. “Com cobertura 24 horas por dia e um market share como o da Claro (acima de 34%, segundo o Teleco), a amostra se torna muito relevante para insights baseados em dados da telefonia móvel”, afirma Antônio Andrade, head de Operações da Kido Dynamics. Agora, diz ele, o Claro Geodata se prepara para uma nova era, que se baseia no desenvolvimento do potencial da telefonia móvel na era do big data analytics e da inteligência artificial.
“Além de apoiar no planejamento, a tendência é que o Claro Geodata passe a apoiar nas operações de mobilidade urbana. Um exemplo é com análises prévias, com base no histórico de ocorrências em dias de chuvas, ou em dia de grandes eventos, por exemplo. A tendência é que possamos indicar os apoios logísticos necessários na área operacional, entre outros”, diz João Del Nero.
Com edital em preparação para ser lançado entre este e o próximo ano, a construção do Túnel Santos-Guarujá costuma gerar embates a respeito da sua real necessidade. “Nesse caso, pudemos esclarecer essa dúvida com o Claro Geodata, por meio do estudo de tráfego entre as cidades, comprovando o quanto o túnel aliviaria esse percurso”, exemplifica Del Nero.
Ia e big data na nova era do georreferenciamento
Segundo o especialista da Embratel, com o uso de inteligência artificial generativa, será possível ampliar também a velocidade de cruzamento dos dados, aumentando o poder de classificação nos dados anonimizados. “Poderemos, por exemplo, saber se determinados veículos são caminhões, o seu tipo e necessidades, para, dentro de um conjunto de veículos semelhantes, ajudar os especialistas de engenharia de tráfego a propor melhores soluções de mobilidade”, diz.
O grau de confiança das informações do Claro Geodata é de 96%, segundo Del Nero. “Além disso, com uma entrega totalmente aderente à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e com os avanços em desenvolvimento, chegamos a preços acessíveis, entrega de dados imediata e sob uma atualização constante na base de dados da Claro”, salienta. Assim, mais negócios, de diferentes portes, poderão utilizar a solução.
O PhD Alberto Castro, revelou também que a Kido desenvolveu – e está em fase final de testes – o Kido-GPT. Trata-se de um prompt de inteligência artificial generativa para otimizar os serviços de análise de georreferenciamento da Kido Dynamics, o que permitirá ao cliente realizar perguntas diretamente sobre a base de dados mediante um chat, e obter respostas em poucos instantes.
“Além disso, por meio da IA, teremos maior acuracidade geoespacial para obter insights com mais detalhes, e a inteligência artificial vai nos permitir reconstruir trajetos com rotas e movimentos mais precisos. Isto tudo vinculando dados espaciais com métricas importantes, como receita de varejo e tráfego de pedestres, o que revela alguns padrões ocultos de georreferenciamento”, detalha Alberto.
Os avanços na tecnologia da Kido Dynamics – que é a base do Claro Geodata – incluem ainda um planejamento de cenário, no qual a IA é utilizada para simular resultados que ajudem na construção de estratégias futuras de mobilidade urbana. “Enfim, o incremento da IA vai nos ajudar a analisar dados para prever tendências e guiar o timeline de decisões”, diz Alberto.
Com o uso de linguagem natural, o Kido-GPT deve ajudar a recuperar insights passados também, com o intuito de reconstruir cenários de forma robusta. “É possível fazer questionamentos ao Kido-GPT para obter insights urbanos em tempo real. Assim, os nossos clientes poderão gerar gráficos dinâmicos, que apontam desde a tendência de visitantes até a distribuição demográfica, com base em suas necessidades de exploração de dados”, explica Alberto.
O incremento de inteligência artificial generativa no Claro Geodata está em fase final de testes e deve estar disponível para o mercado até o final deste ano, segundo Antonio Andrade.
Também olhando para o futuro, João Del Nero, da Embratel, lembra que a Claro se tornou signatária do GSMA Open Gateway, recentemente. O acordo, firmado durante a MWC Barcelona em 2023, e atualmente contando com 47 operadoras do mundo, é uma estrutura comum e aberta entre entre elas para facilitar o trabalho de desenvolvedores na criação de aplicativos e serviços. “Isto é muito relevante e tão amplo ao ponto que, no futuro, permitirá que o consumidor online faça uma compra e, ao invés de pagar com o cartão de crédito, receba o custo consolidado na fatura da conta de celular”, diz.
Del Nero conclui que a presença global das operadoras de telecomunicações para prover serviços inovadores é um passo importante para habilitar a nova era do big data analytics e da inteligência artificial.