ia analytics Foto: Reprodução/ Beyond Data via Flickr Swissnex in Brazil

Futuro da mobilidade e serviços está na IA com analytics

6 minutos de leitura

Claro Geodata, em sua parceria com a empresa suíça Kido Dynamics, mostra como o futuro da mobilidade urbana e de outros serviços públicos e privados está sendo moldado pelas novas tecnologias



Por Redação em 27/03/2024

Quem se lembra da “invasão argentina” para a final da Copa Libertadores da América entre o Boca Juniors e o Fluminense? O Flu levou a melhor, entrando para história como campeão sulamericano de futebol. Ocorre que o mapa de calor de visitantes argentinos no Rio de Janeiro, principalmente aos arredores do estádio, entrou igualmente para a história, e ele foi gerado pelo serviço de dados estatísticos de telefonia móvel da Claro.

A evacuação de ucranianos, no início do conflito com a Rússia, em fevereiro de 2022, também foi demonstrada pela tecnologia avançada de análise da mobilidade urbana usando dados da telefonia móvel. Em São Paulo, os mesmos criadores do Rock in Rio organizaram o festival de música The Town, em setembro passado, e, usando a mesma tecnologia, foi possível saber que cerca de 100 mil pessoas estiveram no Autódromo de Interlagos – onde ocorreu o evento – no dia mais movimentado de shows.

A lista de exemplos é mais extensa, e começou em 2017, quando a tecnologia ajudou a prever a disseminação de casos de Zika Vírus e Chikungunya, passando também por análises durante a pandemia, avaliando o índice de mobilidade por bairros.

O Claro Geodata é o serviço de análise da mobilidade urbana da Embratel, que utiliza o alto volume de dados anonimizados e agregados gerados pelos telefones celulares da Claro para fornecer informações de fluxo de pessoas por dia, horário, origem/destino e outros insights estatísticos para negócios e governos. A tecnologia utilizada é de desenvolvimento suíço. Mais especificamente, de um pós-doutor em física quântica e computacional pela Universidade de Barcelona: Alberto Hernando de Castro. 

Inovação suíço-brasileira

Ainda em 2017, na semana em que registrava o CNPJ da sua nova empresa, a Kido Dynamics, Alberto palestrava em um curso para investidores na Suíça, onde um brasileiro, Luiz Eduardo Viotti, era um dos alunos. “Ao término, me aproximei do Alberto e perguntei se ele tinha interesse em operar no Brasil. Ele me respondeu que estava começando o negócio naquela semana, mas que sim, tinha interesse”, lembra Viotti.

O brasileiro havia atuado por décadas em grandes consultorias, como a KPMG e a PwC, para o setor de TI e Comunicações. “Procurei a Claro, que logo topou a ideia de formatarmos o novo serviço. Porém, não tínhamos acesso contínuo aos dados da operadora no início, e trabalhamos por projetos: solicitávamos as informações de cada projeto específico”, lembra Viotti. “Tempos depois, com a evolução das entregas, passamos a operar conjuntamente a base de dados, e desde então temos extraído modelos incríveis”, completa.

Além de aproximar, Viotti investiu na Kido no início e, portanto, se tornou sócio-investidor. Hoje ele compõe o board da companhia. Ele também operou à frente da Kido Dynamics no Brasil durante os três primeiros anos.

Todo o processo foi fomentado e incentivado pela Swissnex, uma agência de inovação do governo suíço que atua em projetos de educação, pesquisa e inovação para conectar a Suíça com o restante do mundo. “Além do Brasil, operamos diretamente na China, Estados Unidos, Índia e Japão. Mas também mantemos atuação global em parceria com os conselheiros científicos de cada embaixada da Suíça no mundo”, explica Bianca Campos, deputy CEO da Swissnex.

A Suíça é um dos países mais inovadores do mundo, despontando, muitas vezes, como o número um em alguns rankings. Mas, segundo Bianca, o país entendeu que não era possível continuar fazendo a diferença com inovação se não fomentasse a colaboração global e a internacionalização. “Foi assim que a Swissnex surgiu, há 20 anos, com a ideia de identificar oportunidades em outros países, conectar e apoiar o stakeholder suíço localmente”, diz.

A Swissnex trabalha com projetos de inovação baseados em ciência, seja por meio de um pesquisador – que precisa se unir a outros para avançar com o projeto de pesquisa – ou seja pelo que chamam de empreendedores científicos, que fundam a sua própria empresa de inovação (startup). No caso das startups, Bianca detalha que os apoios são direcionados às pesquisas científicas que já passaram pela fase de maturação, como foi o caso da Kido Dynamics.

Por que telefonia móvel?

A tríplice formada pela Embratel e Claro, com intermediação da Swissnex e tecnologia da Kido Dynamics vem avançando para a entrega de insights cada vez mais relevantes a negócios e governos. No cerne da solução está a rede de telefonia celular e algoritmos de Big Data e Machine Learning, que transformam os CDRs (call detail records) anonimizados e agregados da operadora Claro em informação útil e valiosa para diversos segmentos de mercado, como turismo, mobilidade, marketing out-of-home e varejo.

Além disso, em abril do ano passado, um estudo baseado em dados do Banco Mundial e do Statista contabilizou que cada habitante brasileiro tem, em média, 1,18 smartphone em operação. “Com cobertura 24 horas por dia e um market share como o da Claro (acima de 34%, segundo o Teleco), a amostra se torna muito relevante para insights baseados em dados da telefonia móvel”, afirma Antônio Andrade, head de Operações da Kido Dynamics. Agora, diz ele, o Claro Geodata se prepara para uma nova era, que se baseia no desenvolvimento do potencial da telefonia móvel na era do big data analytics e da inteligência artificial.

“Além de apoiar no planejamento, a tendência é que o Claro Geodata passe a apoiar nas operações de mobilidade urbana. Um exemplo é com análises prévias, com base no histórico de ocorrências em dias de chuvas, ou em dia de grandes eventos, por exemplo. A tendência é que possamos indicar os apoios logísticos necessários na área operacional, entre outros”, diz João Del Nero.

Com edital em preparação para ser lançado entre este e o próximo ano, a construção do Túnel Santos-Guarujá costuma gerar embates a respeito da sua real necessidade. “Nesse caso, pudemos esclarecer essa dúvida com o Claro Geodata, por meio do estudo de tráfego entre as cidades, comprovando o quanto o túnel aliviaria esse percurso”, exemplifica Del Nero.

Ia e big data na nova era do georreferenciamento

Segundo o especialista da Embratel, com o uso de inteligência artificial generativa, será possível ampliar também a velocidade de cruzamento dos dados, aumentando o poder de classificação nos dados anonimizados. “Poderemos, por exemplo, saber se determinados veículos são caminhões, o seu tipo e necessidades, para, dentro de um conjunto de veículos semelhantes, ajudar os especialistas de engenharia de tráfego a propor melhores soluções de mobilidade”, diz.

O grau de confiança das informações do Claro Geodata é de 96%, segundo Del Nero. “Além disso, com uma entrega totalmente aderente à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e com os avanços em desenvolvimento, chegamos a preços acessíveis, entrega de dados imediata e sob uma atualização constante na base de dados da Claro”, salienta. Assim, mais negócios, de diferentes portes, poderão utilizar a solução.

O PhD Alberto Castro, revelou também que a Kido desenvolveu – e está em fase final de testes – o Kido-GPT. Trata-se de um prompt de inteligência artificial generativa para otimizar os serviços de análise de georreferenciamento da Kido Dynamics, o que permitirá ao cliente realizar perguntas diretamente sobre a base de dados mediante um chat, e obter respostas em poucos instantes. 

“Além disso, por meio da IA, teremos maior acuracidade geoespacial para obter insights com mais detalhes, e a inteligência artificial vai nos permitir reconstruir trajetos com rotas e movimentos mais precisos. Isto tudo vinculando dados espaciais com métricas importantes, como receita de varejo e tráfego de pedestres, o que revela alguns padrões ocultos de georreferenciamento”, detalha Alberto.

Mapa de calor da concentração de argentinos no momento da partida da final da Libertadores 2023 no Rio de Janeiro

Os avanços na tecnologia da Kido Dynamics – que é a base do Claro Geodata – incluem ainda um planejamento de cenário, no qual a IA é utilizada para simular resultados que ajudem na construção de estratégias futuras de mobilidade urbana. “Enfim, o incremento da IA vai nos ajudar a analisar dados para prever tendências e guiar o timeline de decisões”, diz Alberto.

Com o uso de linguagem natural, o Kido-GPT deve ajudar a recuperar insights passados também, com o intuito de reconstruir cenários de forma robusta. “É possível fazer questionamentos ao Kido-GPT para obter insights urbanos em tempo real. Assim, os nossos clientes poderão gerar gráficos dinâmicos, que apontam desde a tendência de visitantes até a distribuição demográfica, com base em suas necessidades de exploração de dados”, explica Alberto. 

O incremento de inteligência artificial generativa no Claro Geodata está em fase final de testes e deve estar disponível para o mercado até o final deste ano, segundo Antonio Andrade.

Também olhando para o futuro, João Del Nero, da Embratel, lembra que a Claro se tornou signatária do GSMA Open Gateway, recentemente. O acordo, firmado durante a MWC Barcelona em 2023, e atualmente contando com 47 operadoras do mundo, é uma estrutura comum e aberta entre entre elas para facilitar o trabalho de desenvolvedores na criação de aplicativos e serviços. “Isto é muito relevante e tão amplo ao ponto que, no futuro, permitirá que o consumidor online faça uma compra e, ao invés de pagar com o cartão de crédito, receba o custo consolidado na fatura da conta de celular”, diz.

Del Nero conclui que a presença global das operadoras de telecomunicações para prover serviços inovadores é um passo importante para habilitar a nova era do big data analytics e da inteligência artificial.



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