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Futurecom 2022: gestão pública é gargalo para cidades inteligentes

3 minutos de leitura

Especialistas do CPQD, Acate, Embratel e Instituto Smart Cities Business America mostram os desafios brasileiros neste tema



Por Redação em 20/10/2022

O fato de ser um país continental, com cerca de 5,4 mil cidades em território de 8,5 milhões de km², torna o Brasil um desafio em termos de transformação digital. Mais do que isso, a nossa diversidade não permite que projetos de cidades inteligentes sejam replicados de forma simplista. “Não existe copia e cola”, como resumiram especialistas que participaram do painel “Integração das coisas: a vida das smart cities depende da colaboração entre as iniciativas públicas e privadas”, durante o Futurecom 2022

Para Maurício Casotti, gerente de Desenvolvimento de Negócios do CPQD, é preciso entender os problemas de cada município para depois avaliar projetos de cidades inteligentes. Segundo ele, esse é um dos primeiros desafios, pois a maioria dos municípios não tem pessoal qualificado tecnicamente para desenvolver e operar projetos de smart cities. 

Tecnologia, para Casotti, não seria uma barreira em si, mas sim a falta de conhecimento de como estruturar os projetos. Neste aspecto, há, inclusive, guias de orientação como a Carta Brasileira das Cidades Inteligentes. Porém, não existe uma cultura de compartilhamento com a iniciativa privada para avançar na transformação digital. 

Avanço das smart cities exige melhor integração

Outro desafio envolve o engessamento do modelo de licitações. Para Casotti, as cidades não “sabem comprar” projetos nessa área e uma das soluções para mudar o quadro seria uma revisão da Lei de Licitações ou uma nova lei das startups, que incentive e facilite a participação desse tipo de empreendimento na disputa de projetos de cidades inteligentes. 

O especialista do CPQD lembra ainda que falta integração dentro da administração das cidades e com municípios vizinhos, o que poderia viabilizar projetos consorciados, principalmente quando uma localidade sozinha não se mostra interessante do ponto de vista de negócios. 

Fernando Gomes, da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate), acrescenta que o processo deve se iniciar pela qualificação da administração pública para identificar problemas crônicos e depois buscar soluções. Segundo ele, essa metodologia vale tanto para projetos de melhoria de mobilidade urbana como de segurança pública.

Leopoldo de Albuquerque, presidente global do Instituto Smart Cities Business America, complementa que falta um plano diretor de tecnologia em praticamente todas as cidades brasileiras e a pouca qualificação técnica na área de profissionais de licitação não se limita aos pequenos municípios. Ele reforça ainda a ausência do DNA de negócios nos projetos dessa área. 

Maria Teresa Lima, diretora executiva da Embratel, completa a avaliação de desafios ao destacar que os projetos de digitalização, agora pautados pela possibilidade de expansão das redes 5G, são complexos e envolvem um ecossistema vasto. Esse universo, de acordo com ela, inclui desde a rede das operadoras até os dispositivos, passando por tecnologias diversas como big data e analytics. “É preciso integrar tudo isso, com capacidade técnica que pode vir da parceria entre entidades públicas e iniciativa privada”, disse. 

A executiva acredita que esse tipo de compartilhamento pode viabilizar os empreendimentos de smart cities, de forma segura e saudável. Porém, há ainda a necessidade de acesso a financiamentos e de um ajuste na administração pública. Nesse último caso, o processo envolve a criação de uma cultura digital entre os gestores públicos, além da maior integração de projetos e da disponibilidade de mais informações. 

Maria Teresa destacou que as tecnologias avançadas já existem e, inclusive, foram aplicadas em eventos recentes, caso do IoT para controle de temperatura de lotes de vacina contra a Covid-19 em trânsito pelo país. A garantia da interoperabilidade de sistemas de saúde públicos durante a pandemia é outro exemplo. “Muitas soluções já existem e outras estão em andamento, inclusive a possibilidade ousada de adotar os gêmeos digitais para criar realidades virtuais de modelos de cidades inteligentes, auxiliando os gestores públicos a entender e aprimorar projetos”, concluiu a executiva da Embratel.



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