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IA pode ir de co-piloto a musa, mostra Bruno Guicardi, da CI&T

4 minutos de leitura

Executivo adianta pontos que deve abordar em palestras no WebSummit, inclusive o potencial produtivo da inteligência artificial (IA) para os negócios



Por Redação em 25/04/2023

Co-fundador e presidente da Ci&T nos Estados Unidos, Bruno Guicardi, será um dos palestrantes do Web Summit Rio, falando sobre Inteligência Artificial (IA). Nesta entrevista, ele explica como a empresa, nascida no Brasil, já tratava sobre transformação digital antes mesmo de o termo estar na ordem do dia. Ele adianta ainda como a IA deve ser desmistificada e usada a favor dos negócios. Acompanhe.

Você vai participar como palestrante no Web Summit Rio. Pode adiantar sobre o que pretende falar?

Bruno Guicardi – Devo participar de dois painéis e eu estou muito animado, porque temos trabalhado com inteligência artificial há quase dez anos, mas até então era assunto de lab nerds como a gente, né? O timing dessa conversa é muito bom, porque com o advento do ChatGPT, a IA se materializou na cabeça do consumidor. Agora, o cidadão comum entendeu o impacto que ela pode ter na sua vida. Estou muito curioso com esse momento e acho que ele vai trazer grandes revoluções nos negócios, com mudanças de comportamento do consumidor. Trabalho com a expectativa sobre o que essa nova revolução pode gerar. E, nós, como builders, estamos ajudando nossos clientes a construir experiências e se adaptar a essa nova realidade. Em espaços de grande transformação como este é onde podem acontecer grandes mudanças, como já vimos nas revoluções anteriores. A IA  vai criar novas expectativas dos consumidores, mexer com as forças competitivas e abrir uma nova janela de evolução tecnológica. 

Como você acredita que as empresas podem concretizar essas mudanças?

Creio que isso já está sendo feito, com a melhoria da experiência dos consumidores, de maneira que eles nem percebem ou sabem, mesmo que isso não mude drasticamente a vida deles, como é o caso das sugestões de compra da Amazon ou as playlists do Spotify. Nesse último caso,  com base no que você ouviu e no que você descartou, o algoritmo calcula e sugere o que você poderia gostar. No dia a dia, vemos os recursos de IA de maneira mais indireta, fazendo parte da jornada com as marcas que interagimos. É tudo matemática, sem criar nada. Mesmo quando você pede para uma IA criar uma imagem com um estilo que mescle Monet e Picasso, ainda assim temos que dar esse estímulo para que a ferramenta de IA realize um novo estilo baseado em padrões. A criatividade, dessa forma, vai continuar sendo um espaço humano. Agora, respondendo à pergunta, a IA faz isso com dados, porque sua matéria prima são os dados. Baseada num volume grande de dados, ela processa e encontra padrões para recomendar conteúdo que faz sentido para nós, porque fez sentido para milhares de pessoas antes. 

A Ci&T tem um posicionamento de facilitadora de transformação digital nas empresas. Como vocês chegaram a isso?

Divulgação – CI&T

Nós falamos de transformação digital mesmo antes de transformação digital ter esse nome (risos). A Ci&T foi criada em 1995, quando a internet comercial estava começando. Tivemos, inclusive, uma das primeiras 50 concessões para atuar como internet service provider, mas rapidamente descobrimos que esse não era o nosso negócio e o vendemos por alguns centavos (risos). Estamos no negócio de ajudar as empresas a enxergar o potencial da web, das tecnologias que estão vindo com esses paradigmas novos e ajudá-las a se reajustar a esses novos tempos e como podem competir e vencer, considerando um cenário com as novas forças competitivas. É o que temos feito há 28 anos. 

E nesse sentido, existe uma relação entre a aplicação da IA com a maior eficiência digital nas empresas?

inteligencia ar

A IA tem um potencial gigante de automação do negócio. Por exemplo, numa empresa de mídia, para personalizar e melhorar sugestões de conteúdo, você pode manualmente relacionar os artigos entre si. Mas se você tiver milhares de artigos, interrelacioná-los  será um trabalho gigantesco e repetitivo. Com a IA, você aplica um algoritmo que faz isso e ganha escala. A beleza da automação é que se tem uma escala praticamente infinita. Veja o exemplo dos chatbots: você pode escalar de 1 cliente para um milhão de clientes e não precisa recrutar milhares de pessoas para fazer o atendimento. E você vai pagar centavos pelo processamento para os provedores de cloud onde a aplicação está rodando. Ou seja, você tem uma escala quase infinita, com custo quase zero. O potencial de negócios é tremendo. Nas empresas que lidam com milhões de consumidores, qualquer passo que se possa automatizar na interação é muito valioso. 

A IA pode contribuir também na questão de lançamento de produtos e serviços?

Sim, principalmente se o produto ou serviço for digital. É o caso dos filmes, imagens, músicas, porque ela faz isso de forma muito impactante na criação de conteúdo. Eu vejo, no mundo mais técnico, o uso da IA com um papel de co-piloto. Por outro lado, acompanho muito o mundo dos artistas e vejo muitos deles se referindo à IA como “musa”. Não é um assistente de criação, é algo que consegue te inspirar a ser melhor e criar um resultado final melhor, ir além e se superar como artista. De co-piloto, no universo técnico, à musa, entre os artistas, não deixa de ser uma evolução. 

Falamos de vários exemplos, mas o que você deve trazer para o Web Summit Rio?

Estamos trabalhando muito mais dentro do nosso próprio universo de desenvolvimento de software. Como a IA generativa (GenIA) trabalha na criação de conteúdo – e se você abstrair, o processo de codificação de software é um processo de geração de conteúdo – a GenIA tem um impacto tremendo. Estamos esperando nos próximos 12 a 18 meses um impacto de duas a cinco vezes na produtividade nas nossas equipes de desenvolvimento de software. Estamos focados na automatização da geração de código, porque o desenvolvimento de software ainda é muito laborioso e tem o potencial de se tornar menos artesanal com a GenIA. Temos o potencial de usar a inteligência humana para refinar esse processo. 

Houve um movimento recente de se paralisar o desenvolvimento da IA. Faz sentido?

Bruno Guicardi – Na prática, é um processo “imparável”. O que eu acho fundamental é que as pessoas que estão na liderança de conhecimento participem das decisões de como regular isso, porque o potencial para gerar controles é grande. Eu me inspiro bastante num outro campo que eu acompanho, que é o da edição de genes. Hoje temos uma grande capacidade nessa área, mas não vamos em razão disso sair editando genes, de forma indiscriminada. Nessa área da pesquisa genética, foram os próprios cientistas líderes do conhecimento na área que trabalharam na recomendação dos caminhos a se seguir e eu acho que isso deveria ser aplicado também na área de IA.  Não adianta colocar gente que não entende do assunto em profundidade para tentar regular e controlar os especialistas. Se for um “nós contra eles” não vai funcionar.



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